Por Você romance Capítulo 96

Minutos antes do sequestro....

Ana Júlia

Fui despertada pelo toque do meu celular, que estava na mesinha de cabeceira. Apertei os olhos sonolentos para ver o relógio sobre o criado-mudo. Ainda eram dezoito e trinta. Atendi sem olhar quem era.

— Alô?

— Ana? — A voz feminina tirou qualquer resquício do meu sono, me despertando de uma vez. Meu coração disparou forte dentro do peito. Eu pensei em encerrar a chamada, quando ela falou algo que me chamou a atenção. — Se eu fosse você, não faria isso, querida. Me diga, o que você seria capaz de fazer para salvar a vida do seu noivinho — Sua voz tinha um tom debochado e ameaçador. Engoli em seco. Não sabia o que pensar, tampouco o que fazer. Decidi então levar a conversa adiante e saber o que ela queria realmente.

— Do que você está falando?

— Que você tem cinco minutos para sair da sua toca, sua vadia e me encontrar aqui embaixo, na lateral do seu prédio. — Sentia a raiva contida em sua voz. Eu puxei a respiração.

— Como vou saber se você está realmente com ele? — indaguei, ficando cada vez mais nervosa. — Você pode estar mentindo. — Tentei dizer, mas fui interrompida.

— Você que pagar para ver? Amanhã você pode encontrar o papai do seu filho morto em uma vala qualquer! — disse com uma convicção amedrontadora. Fechei os olhos, tentando manter a minha sanidade intacta. Meu Deus, o que eu faço? — Você tem cinco minutos! — disse taxativa e encerrou a ligação. Nervosa, saí da cama com dificuldade e fui até a janela do meu quarto. Olhei as calçadas e as ruas e não vi nada anormal. Voltei para a cama e peguei o meu celular. Disquei o número do Luís e para o meu desespero, a ligação caiu direto na caixa postal.

— Droga! — resmunguei com a voz trêmula, sentindo o meu corpo todo estremecer e tentei mais uma vez. Meu Deus, nada! O celular não chama! Deduzi que ela realmente estava com o Luís. Desesperada, pensei em chorar, mas engoli o meu choro e calcei um par de sandálias rasteiras, em seguida, peguei meu celular. Deixei-o sem volume e desci as escadas com cuidado. Marta não estava na cozinha. Melhor assim. Pensei. Ela poderia tentar me impedir. Respirei fundo e entrei na cozinha silenciosa, seguindo pela saída de serviço, já que havia três seguranças na porta da frente e mais dois no hall do prédio. Esse seria o único lugar onde os seguranças não estariam. Cheguei na calçada e de cara senti o vento frio bater no meu rosto. Abracei o meu próprio corpo, para conter os arrepios que se alojava em minha coluna. Saí pelo portão adjacente, finalmente alçando a calçada larga da lateral do meu prédio. Nervosa e trêmula, segui pela lateral, perto do muro alto e de longe, avistei um carro prata parado no acostamento. Meus passos pareciam cada vez mais pesados e lentos, mas segui em direção ao veículo. A cada passo que eu dava, a minha respiração parecia pesar em meus pulmões e o meu coração parecia apertado, comprimido no meu peito. Eu puxei a respiração e quando já estava me aproximando, alguém chegou por trás de mim e colocou uma mão em minha boca. Uma arma foi apontada para a minha barriga e eu ofeguei, sentindo um medo apavorante tomar conta de mim. Meu celular escorregou e caiu na calçada quando a pessoa me puxou bruscamente para mais perto de si.

— Se colaborar direitinho, nada vai acontecer com você e com o bastardinho em sua barriga — A voz grossa soou bem próxima ao meu ouvido e eu assenti em concordância. — Agora, entra no carro e fica quietinha! — ordenou com um tom baixo e ríspido, tirando a mão da minha boca logo em seguida. Engoli em seco e concordei com um aceno de cabeça e entrei no carro sem resistência alguma. Havia um outro homem no volante e Camilly estava ao seu lado, no banco do carona. A viagem foi feita em silêncio. O tempo todo eu contorcia os meus dedos em meu colo. Eu estava muito nervosa e ansiosa também, mas não vi nada do Luís. O carro parou em uma casa envelhecida pelo tempo, em um lugar deserto e afastado da cidade. Parecia-se com um sítio, cheio de árvores e folhas secas caídas pelo chão ou algo assim. Pelo estado do lugar, estava abandonado há muito tempo. Um dos homens desceu do carro e Camilly o acompanhou. E eu fui praticamente arrastada pelo outro homem, que estava com a arma em punho. Entramos na casa, um lugar pequeno, sem móveis e empoeirada. O chão estava coberto por folhas secas e havia muitas teias de aranhas nos cantos das paredes escuras e mofadas. No telhado se podia ver algumas telhas quebradas. No canto da cozinha acoplada a sala, havia apenas uma mesa pequena, com duas cadeiras de madeira e uma geladeira pequena e antiga. Um dos homens abriu outra porta, me pegou pelo braço com brutalidade e me fez entrar em um quarto onde havia apenas uma cadeira no centro.

— Sente-se aí! — ordenou, mas eu não fiz. Ele me forçou a sentar e em seguida, amarrou-me na cadeira. Camilly entrou no quarto em seguida e abriu-me um sorriso debochado. Seus olhos encaravam os meus com um brilho vitorioso. Eu não baixei minha cabeça, enfrentei o seu olhar com a mesma petulância que ela me dava.

— Onde está o Luís? — perguntei com um tom firme, encarando-a com expressão furiosa. Dentro de mim havia um misto de raiva e receio, de medo e de coragem. Seu sorriso se ampliou quando ela escutou a minha indagação.

— Tolinha! Acreditou mesmo que ele estaria comigo? — indagou, fazendo um biquinho sedutor. A voz dela saiu arrastada, manhosa e com uma pitada de diversão. Meneou a cabeça em um gesto negativo para mim e fazendo um som estralado com a língua. — Confesso que eu queria. Ah, eu queria muito que ele estivesse aqui comigo. Não assim, mas em meus braços, como sempre deveria ser. — Ela puxou a respiração e rodeou o meu corpo, parando bem atrás de mim. — Sabe, Ana, minha mãe sempre me ensinou que não devemos agir com o coração. Esse maldito órgão nunca nos permite pensar com clareza. — Segurou uma mecha do meu cabelo e a acariciou. Esse gesto que me fez tremer mais ainda. — Você estragou tudo, Ana! Era só ter se afastado dele e tudo estaria certo. Mas, não. Você tinha que se apaixonar daquele imbecil do Luís e o fez me esquecer. — Virei meu rosto de lado, para olhá-la bem dentro dos seus olhos.

— E você queria o quê? Que depois de tudo que fez com ele, ainda estivesse te esperando de braços abertos? — rosnei contendo a minha fúria. — Você é uma vadia. Uma louca, uma retardada, trapaceira! — berrei, esquecendo os meus medos. Ela me deu um tapa forte, que me fez calar imediatamente. O meu rosto queimou de uma forma quase insuportável. Camilly então me segurou firme pelos cabelos e me fez olhá-la nos olhos outra vez.

— Se eu fosse você, sua cretina, ficaria pianinho. Não sei se você prestou atenção, mas você não está em condições de reclamar aqui, sabe? — indagou entre dentes. — Eu gostaria de te devolver inteira para aquele imbecil do seu noivo, mas isso só vai depender de você. Eu tenho o pavio curto, sabe? — sibilou baixinho e bem próxima da minha pele. Senti o calor do seu hálito em minha bochecha. Ela soltou meus cabelos e voltou a abrir um sorriso sinistro, em seguida, desferiu outro tapa forte no meu rosto. — Esse é pelo que você fez comigo, sua vadiazinha! — rosnou bem perto da minha orelha. Fechei os olhos, sentindo a sua voz zunir alto dentro de mim. Camilly se ajeitou em sua pose elegante e deu a ordem. — Coloca uma mordaça nessa cadela e tire uma foto. Quero que mande para o bonitão! — Depois ela saiu do quarto e deduzi que da casa também, porque escutei o barulho do carro saindo da propriedade. Um homem alto e magro, com uma cicatriz na altura do olho esquerdo, tirou um pano branco do bolso traseiro do seu jeans e sem dizer uma palavra, fez o que ela lhe pediu.

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