Mick
Momentos antes da conversa com Cristal...
Dormir com a cabeça cheia de imagens que você não quer ter é um inferno. Portanto já se pode imaginar como foi a porra da minha noite. Sem sono, cheia de raiva e de ansiedade. E por mais que eu queria apagar a imagem daquele maldito beijo eu simplesmente não consigo. São sete e quarenta da manhã e eu ainda estou deitado na minha cama sem ânimo e puto da vida. Porém, me arrasto para o banheiro e tomo um banho demorado, visto uma roupa qualquer e passo os dedos pelos cabelos agora mais cheios. Faço um lembrete de que preciso cortá-los. Depois da higiene pessoal saio do quarto e vou direto para a cozinha da casa. Um lugar aconchegante, bem equipado e grande, grande demais para Madeleine tomar conta, mas ela faz questão de dominar esse reino sozinha. Madeleine é a nossa cozinheira e foi a mulher que mais me deu mimos nessa casa. Não que os meus pais não tenham feito isso. Eles são ótimos pais! São presentes, carinhosos, amáveis e bons conselheiros. A verdade é que Madeleine me mimava com doces e guloseimas quando ela não devia. Coisa que os meus pais como bons dentistas que são evitavam ao máximo me dar. Então sempre que eu queria fugir à regra, era pra essa cozinha que eu corria. Entro no cômodo e de cara encontro a mesa posta. Em uma ponta está o senhor Armando Serrano, o meu pai. Um homem aparentemente jovem para a sua idade. Ele tem os cabelos e olhos claros como os meus, porém, eu me pareço mais com a minha mãe, a Senhora Lisa Serrano que está na outra extremidade da mesa. Uma bela morena de cabelos escuros e curtos, e de olhos castanhos tão escuros quanto as suas madechas. Quando me veem entrar no cômodo como sempre abrem seus sorrisos e eu me esforço para retribuir da melhor maneira possível. Em silêncio eu me acomodo em uma cadeira, mas sei que seus olhares especulativos estão sobre mim.
— Você não vai para o colégio hoje? — Mamãe é a primeira a quebrar a lei do silêncio.
— Não — respondo sem olhá-los nos olhos e enfio um pedaço de pão na boca.
— Por que não? — Ela inquire e eu bufo.
— Porque não estou a fim! — resmungo dessa vez a olhando dentro dos olhos.
— Está tudo bem, filho? — Papai procura saber, mas dou de ombros e beberico um pouco de suco de laranja. Pego uma torrada e passo um pouco de manteiga de amendoim nela. Depois, sirvo uma xícara de café puro e tomo um gole em seguida.
— Eu estou bem, pai! — respondo finalmente.
— Então por que faltou a aula hoje? — Dona Lisa insiste. Impaciente largo a torrada no prato e deixo a xícara de café, me levantando da cadeira em seguida.
— Porque eu não quero ir! — rosno ríspido.
— Mikael! — Meu pai me repreende, mas simplesmente o ignoro e volto para o meu quarto, me jogando na cama. Minutos depois o meu celular toca e eu para o olho o visor, o atendendo em seguida.
— Fala, Rute!
— Mick, oh querido, eu estou ligando pra saber como você está? — Suspiro de maneira audível.
— Eu estou bem!
— Sei! Quer sair um pouco? Tem uma festa... — Ela começa a falar, mas a interrompo com impaciência.
— Desculpe, Rute, eu não estou a fim de sair! E não tenho clima para festas agora.
— Entendo. Se você quiser eu posso te fazer companhia aí na sua casa. O que me diz? Podemos conversar e você pode usar o meu ombro para... — Alguém b**e a minha porta e eu olho imediatamente na sua direção.
— Mick? — É a voz da Cristal, merda!
— Desculpe, Rute, eu tenho que desligar! — falo e encerro a ligação sem esperar a sua resposta. Logo saio da cama e caminho receoso até a porta, e encosto a minha testa na madeira.
— Abre a porta pra mim, por favor! — Ela pede com sua voz doce e eu fecho os olhos, puxando a respiração lentamente. Ávida, a minha mão vai até a maçaneta e penso em abri-la, mas nitidamente vejo o Victor beijando-a. Aquela cena, aquele beijo. Logo estou cheio de raiva dela de novo e me afasto, encarando a madeira. — Mick me deixa explicar o que aconteceu! — Cristal insiste e irritado começo a andar de um lado para o outro como a porra de um animal enjaulado. Tenho vontade de abrir essa porta apenas para gritar com ela, para dizer tudo o que está atravessado dentro da minha garganta e por fim, jogar na cara dela tudo o que eu penso que ela é pra mim nesse momento. Sim, eu quero machucá-la assim como está me machucando. Quero vê-la sofrer o mesmo que eu estou sofrendo agora. — Tudo bem, eu vou esperar o seu tempo! — diz finalmente desistindo e eu sei que ela está indo para longe de mim como sempre faz. Essa porra dói como o inferno! O meu corpo me pede para sair correndo desse quarto, agarrá-la no meio daquele corredor e de beijar a sua boca até que ela não tivesse mais forças, nem fôlego, nem nada. Mas, ao invés disso começo a quebrar tudo dentro do meu quarto, nada fica no seu lugar, nem mesmo os meus troféus e medalhas. Enfurecido eu grito feito louco e só então me permito chorar. Em algum momento fico mais calmo e decido ir tomar um banho frio e demorado. Preciso ocupar a minha mente e para isso decido ir fazer o que mais amo, jogar futebol. Arrumo a minha mochila, jogo-a nas costas e desço as escadas encontrando a minha mãe sentada no sofá.
— Mick, precisamos conversar! — Ela diz assim que desço o último degrau e eu rolo os olhos impaciente.
— Depois, estou indo treinar! — ralho e sigo para a saída.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Por Você
Não tem final? Que pena!!!!!!!!!! Mais uma história que ficou com gostinho de quero mais, e com isso estou triste...
Onde estão os capítulos de 21 a 59??...