Os lábios delineados por um batom rubi se esticaram em uma linha fina quando a mulher alta e curvilínea andava graciosamente no longo vestido prateado. O homem idoso tinha um sorriso triunfante, exibia com orgulho a bela mulher, cuja melanina brilhava sobre a luz branda do enorme lustre.
Nicole abaixou a cabeça e prestou atenção na comida na esperança de que o pai não a notasse. Sentiu o olhar piedoso do esposo, porém não queria falar.
— Meu anjo, fique tranquila!
— Eu estou! — Afastou alguns dos cogumelos com o garfo.
Por um instante, Alexander se compadeceu da mulher que se concentrava na comida.
— Oi, filha!
A mão alva com manchas senis tocou as costas de Nicole. O homem esbelto beijou-lhe o rosto e a abraçou assim que Nicole se levantou.
— Feliz aniversário! Pedi para a concessionária entregar o seu presente amanhã.
Henry sorriu vitorioso por ter a oportunidade de estar com a filha em um dia tão especial.
— Não precisava, pai!
— Claro que você precisa! Aquele carro que você dirige é horrível. Espero que não se importe, mas eu tomei a liberdade de comprar um veículo melhor para você. — Henry alisou os pelos brancos do cavanhaque. — Comprei um Land Rover na cor cereja.
A conversa tomou um rumo perigoso, Alexander conhecia a esposa o suficiente para saber que ela detestava esse tipo de coisa. Ele fechou a cara ao encarar o sogro.
— Feliz aniversário, Nicky! — A voz suave da mulher com cachos na altura dos ombros interveio — Não sabia que você estaria aqui. Se o seu pai tivesse comentado, eu traria um presente.
— Foi uma coincidência! — Henry sorriu para Claire. — Eu também não sabia! A Nicky disse que passaria o dia com as crianças.
— Ela não queria vir, mas eu insisti! — Alexander olhou para a esposa que confirmou com a cabeça. Afastou-lhe uma mecha do rosto e colocou atrás da orelha. — Você está bem, meu anjo!?
Nicole reprimiu a tristeza que sentiu com a presença repentina do pai e por toda aquela atenção e presentes caros, o passado ainda a machucava. Passou tantos anos ouvindo a tia dizer que a mãe morreu por culpa dela que, quando viu o pai, reacendeu uma memória triste da infância. Ela demorou para responder, então Alexander concluiu:
— Agradeço o carinho e a atenção, mas não queremos atrapalhar o jantar de vocês — jogou a indireta.
Alexander nunca esteve tão atraente como naquela noite em que tentava fazer a esposa feliz. Com o seu jeito determinado de falar, ele mostrava que a situação estava sob controle e que nada e nem ninguém ia atrapalhar os seus planos para comemorar o aniversário de Nicole.
— Ali, Henry! — Claire apontou para a mesa do outro lado da pilastra. — Vamos nos acomodar naquele canto e pedir a entrada, estou com fome.
— Claro, mademoiselle! — Ofereceu o braço a Claire. Aquela mulher o encantava de um jeito inexplicável. — Divirta-se, filha! — Beijou a testa de Nicole. — Até breve, Alexander!
O velho homem seguiu sob o feitiço das curvas da mulher que o acompanhava. Henry estava completamente envolvido pela beleza exuberante e sensual.
O coração de Nicole apertava, conteve a lágrima para que não escorresse pelo rosto. Embora ela soubesse que o pai era um homem galanteador, não gostava de ver ele caindo nas garras daquela mulher.
— Você está bem, meu anjo?
— Estou! — Os olhos de Nicole espremeram quando avistou Claire dando risinhos. — Tenho certeza que ela quer alguma coisa!
— Claire sempre foi ambiciosa. — Alexander despejou o vinho na taça. — Acredito que o seu pai tem um caso com ela.
— Não! — Negou com a cabeça. — Meu pai está muito velho para isso.
— Seu pai tem o direito de ser feliz. — A voz rouca soou cheia de ironia. — Não foi isso que você falou sobre o meu pai!
Ele ingeriu o vinho lentamente enquanto observava a testa vincada de Nicole. O silêncio se estendeu durante o resto do jantar.
— Você quer ir para casa? — Alexander se inclinou e murmurou.
— Não! — Mirou os olhos do marido.
— Podemos pedir a sobremesa? — Os dedos longos tocaram os óculos. — Eu vou pedir Soufflé au chocolat. E você?
— Qual nome daquela sobremesa que serviram no jantar do seu aniversário?
— Crème brûlée!
Alexander solicitou que o garçom trouxesse os doces franceses. Percebeu que Nicole não tirava os olhos da mesa no canto à direita. Mesmo que fizesse de tudo para chamar atenção da esposa, ela estava cada vez mais dispersa.
— Você ficará a noite toda espiando o seu pai e a namorada dele?
— Claire não é namorada dele! — afirmou Nicole.
— Desde quanto você se importa com o seu pai?
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