Minha Esposa Muda romance Capítulo 962

"Não posso afirmar com certeza se ele se arrependeu depois de fazer essas coisas, mas penso que, sendo humano, ninguém encontraria felicidade em tais atos."

Afinal, esse era o homem que ele chamou de pai por mais de vinte anos.

"Senhora, se até mesmo a senhora o deixar por ódio, colocando-se no lugar dele, ainda teria esperança de continuar vivendo?"

Lucas não conseguia decifrar suas emoções, Flavia mantinha a cabeça baixa, o cabelo curto cobrindo toda sua face.

Depois de um bom tempo, Flavia finalmente disse: "Pare de defendê-lo. O quanto você realmente o conhece?"

"Admito que não o conheço bem, mas, como observador, vejo que, às vezes, ele pode parecer frio ou dizer coisas desagradáveis para você, mas as ações dele não mostram indiferença."

"Ele é durão na fala, mas suas ações revelam o contrário. Isso me faz lembrar de quando eu era criança e ia para a escola. Por sermos pobres, enquanto todos tinham lancheiras térmicas bonitas, eu só tinha um saco plástico."

"Eu comia antes de entrar na escola e jogava o saco plástico fora, pois não queria que meus colegas me desprezassem. Até uma criança sabe o valor da dignidade, que dirá um adulto."

Flavia ficou surpresa e, finalmente, levantou a cabeça para olhar para Lucas.

Lucas continuou, "Com o passar do tempo, parei de me importar com essas coisas, mas quando me apaixonei por uma garota, percebi que ela era de uma condição melhor, talentosa e linda, e eu nem tinha coragem de falar com ela."

"Porque eu pensava, e se ela aceitasse ficar comigo, me conhecesse melhor e visse que eu não correspondia ao Lucas que ela imaginava, e me desprezasse por não querer compartilhar as dificuldades comigo?"

"Então, pensei que era melhor nem começar, assim, esses pensamentos dolorosos e embaraçosos nunca aconteceriam."

Assim, o ser humano é sempre um complexo de contradições.

Muitas coisas que parecem incompreensíveis para os outros, simplesmente não ocorreram com eles, e é fácil julgar os outros quando se está de fora.

Mas quem sabe, as próprias inquietações que eles têm, aos olhos de outros, também não são grande coisa?

O parque estava quase vazio, a voz de Lucas era suave, mas clara.

Flavia se aproximou da cama e olhou para ele.

A luz fraca do abajur não revelava sua expressão, mas seu rosto adormecido perdia a dureza habitual, mostrando traços suaves e delicados.

Era assim que ele costumava ser.

Flavia estendeu a mão, tocando sua testa.

Ainda estava quente, mas não tanto quanto na noite anterior.

Quando ela estava prestes a retirar a mão, de repente sentiu um aperto em seu pulso.

Ela se assustou e, virando o olhar, encontrou os olhos profundos do homem.