Nosso Passado Capítulo Dois - 4

Parte 4...
— Onde você esteve todo esse tempo?
— Longe - ela respondeu de modo displicente.
— E o que fez?
— Muitas coisas - ela mexeu os lábios de um lado para outro — Você vai querer um dossiê de minha vida? Tenho que anexar a folha corrida da polícia, provando que não roubei mais ninguém?
Ele puxou o ar fundo. Ela estava sendo muito cínica e isso era irritante.
— Não precisa agir dessa maneira - ele gesticulou — Eu não vou te atacar.
— Eu agradeço - o sorriso dela não chegou aos olhos — Se você já disse o que queria - mostrou as sacolas — Eu tenho que entrar. As sacolas estão pesadas. E se você for me expulsar da cidade, pode esperar até que eu resolva os assuntos de minha avó?
A cara que ela fazia era digna de um prêmio. A garota de antes jamais conseguiria fingir dessa forma.
— Não tenho nenhuma intenção de fazer isso.
— De novo, você quer dizer - ela meneou a cabeça — Só pra lembrar.
A lembrança do dia em que finalmente entendeu que ela tinha ido embora da cidade, voltou com força. Ele reviu quando em um acesso de raiva e e tristeza, tinha arremessado o telefone sem fio contra a janela do quarto, que se partiu como o coração dele.
— Vai precisar de dinheiro. Posso lhe dar um emprego para ajudar nas despesas com a casa.
Se aquilo não era consciência culpada, unida a arrogância dele, ela duvidava. Ela se segurou para não deixar que uma gargalhada estragasse seu disfarce.
Ele lhe oferecendo um emprego. Justo a ela que podia comprar o que quisesse. E que tinha muito mais do que a família esnobe e ridícula dele. Era quase uma piada.
Porém, aquilo veio a calhar em seus planos. Se ela aceitasse, eles continuariam a achar que ela era ainda a mesma coitada. Ela poderia ficar de olho nos acontecimentos e usar algo em seu favor.
— Ok, isso vai me ajudar muito - respondeu mostrando estar grata — E onde seria?
— Tenho um restaurante que inaugurou no mês passado. Pode trabalhar lá. O salário é bom.
“Idiota. Ainda o mesmo que acha saber de tudo”.
— Eu tenho que levar um currículo?
— Não - ele endireitou a postura, a fitando um instante — É só chegar lá às sete da manhã. Vou te dar o endereço. Tem papel e caneta na casa?
De jeito nenhum ela deixaria que ele entrasse na casa.
— Pode me falar, eu não esqueço nada.
Menos ainda o que ele havia feito.
é louca, Anelise? Por que sumiu assim? - ele precisava perguntar, estava com a língua coçando — Fui atrás de você no final da semana, quando recuperei o bom senso - ele disse com amargura — Eu queria falar à sós, mas você já tinha desaparecido. Sua louca, maldita!
Ela era a louca? Só mesmo ela se segurando para não explodir e responder à altura.
que é louco por ter acreditado naquelas mentiras absurdas que sua mãe e sua irmã criaram. Maldito é você, por ter pensado que eu era amante de Jonas e que havia lhe roubado - ela falou firme, mas sem elevar a voz — Espero que os quatro estejam bem. As mentiras que Jonas e Novaes criaram para me atingir, me perseguiram por anos.
Ela viu que ele teve uma reação de surpresa real. Isso queria dizer que ele ainda não sabia da verdade toda. O olhar perdido era real. Então ele não sabia que todos eles estavam combinados.
— O que tem a ver? Minha irmã descobriu e contou para minha mãe. Márcia não sabia como agir.
— Ah, “tadinha” dela.
— Jonas procurou minha mãe depois e confessou que ele mentiu. Você nunca fez parte
— Nossa - ela mexeu a cabeça de leve — Não dói ter que admitir isso?
Ele sabia que ela iria guardar mágoa e não poderia reclamar.
que você fez para que ele confessasse? - ficou curiosa.
Não fiz nada - ele deu um trago no cigarro olhando para baixo — Talvez tenha sido pelo processo. Ficou com medo. Minha mãe me contou que ele a procurou para
— Sei... E só isso?
— E o que mais haveria?
estava grávida, que nunca te traí, que foi tudo ódio e preconceito por eu
abaixou o olhar para dominar a vontade de gritar a verdade na cara dele. Cuspir na sua cara que estava sozinha no mundo, sem dinheiro, sem proteção, fugindo para não causar um problema enorme para a
já estava cansada e não era hora de passar por maus momentos por causa dela. Ameaçada de ir presa por um crime que nunca cometeu e acusada de ter traído Mathias com outros. Algo que ela
início de sua vida no nordeste havia sido confuso, pesado e triste. Para uma garota sozinha de dezesseis anos, sem conhecer ninguém, sem dinheiro, em um lugar
Mas tinha sido um aprendizado para a
que mais havia? -
- levantou o olhar e
que estava mentindo. Seus olhos tinham um brilho diferente. Ele errara no passado quando a acusara injustamente. Talvez ela realmente o