Valentina Lacerda ficou internada no hospital por uma semana.
No dia em que recebeu alta, ela ouviu os comentários das enfermeiras no posto.
Diziam que ela fizera sozinha o procedimento de interrupção, que passara tantos dias hospitalizada e nem um único familiar viera visitá-la. Sentiam pena dela.
Algumas até supunham que ela fosse amante de alguém, descoberta pela esposa legítima, e que, sem alternativa, acabara indo ao hospital resolver a situação e aceitado dinheiro para encerrar o assunto.
…
A mão de Valentina, caída ao lado do corpo, apertou-se sem que ela percebesse. Ela lançou um olhar rápido para o próprio ventre.
O médico garantira que sua recuperação era ótima, mas por que ainda sentia aquela dor lacerante, como se lhe arrancassem a carne?
Colocou os óculos escuros, escondendo o cansaço no olhar, e deixou o hospital.
Ao retornar ao Residencial Jardim do Sol, Valentina subiu direto ao quarto no segundo andar.
O ambiente permanecia exatamente como ela deixara, sinal de que Benjamin Freitas não voltara para casa.
Mas ela já não tinha forças para se importar com o paradeiro dele, nem com em qual cama feminina ele andava se demorando.
Estava exausta.
Tomou alguns comprimidos de melatonina e, enfim, conseguiu dormir em paz.
Sonhou novamente com o dia de uma semana atrás: o sangue escorrendo sob seu corpo, e aquele telefone que jamais atendia…
— Bebê!
Valentina Lacerda acordou assustada do pesadelo, abrindo os olhos para o quarto familiar.
Ficou ali, imóvel por longos minutos, encarando o teto.
Aquela dor dilacerante atravessava-lhe o ventre, rasgando o coração, espalhando-se por todo o corpo.
Ouviu batidas na porta. Antes que pudesse responder, a porta já se abria.
— Senhora, o senhor ligou dizendo que volta hoje à noite. Está na hora de levantar para preparar o jantar.
Valentina piscou para afastar as lágrimas dos olhos. Sua voz saiu rouca:
— Não estou bem. Peça para a cozinha cuidar disso.
Virando-se de costas, recusou-se a encarar a empregada.
Mas Joana insistiu, aproximando-se da cama.
O efeito do calmante a fez adormecer de novo.
Quando despertou, ouviu um leve ruído ao lado.
Em pouco tempo, sentiu o peso do corpo masculino sobre si; o beijo dele era quente e voraz, e logo a mão grande arrancou-lhe o roupão sem delicadeza.
Ele era sempre assim, nunca se importava com o que ela sentia.
— Não… Não me toque…
Valentina empurrou o peito de Benjamin.
Benjamin Freitas, excitado, interpretou aquilo como jogo.
Segurou os pulsos delicados dela acima da cabeça e beijou-lhe os lábios macios.
A posição em que Valentina se encontrava era humilhante. Ela virou o rosto, fugindo do beijo.
Um lampejo de irritação passou pelos olhos de Benjamin. Percebendo que Valentina realmente não queria, perdeu o interesse.
Ele não era de forçar ninguém.
Saiu da cama, pegou o roupão, amarrou-o displicentemente na cintura e sentou-se no banco baixo junto à janela, acendendo um cigarro.

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