Adelina manteve a voz calma.
“Deveria me mudar. Vim morar com a família Carvalho originalmente para tratar da doença do senhor Miguel. Agora que ele já está quase totalmente recuperado, basta tomar os medicamentos no horário certo e não precisa mais dos meus cuidados. Assim, não tenho mais necessidade, nem motivo, para continuar morando com a família Carvalho.”
Ela então levantou o olhar novamente, direcionando-o a Ricardo.
“Já não pertenço à família Carvalho há muito tempo. O correto seria mesmo sair daqui.”
As pupilas de Ricardo escureceram de forma intensa, como se contivessem uma mancha de tinta.
“Adelina.” Ele engoliu em seco, a voz saiu levemente rouca.
“Eu já te falei para pensar por si mesma. Foi esse o resultado que você chegou sozinha?”
Adelina, no entanto, balançou a cabeça.
“Não, eu não pensei em nada.”
Ricardo franziu as sobrancelhas, prestes a dizer algo, mas foi interrompido por Adelina.
“No momento, não quero pensar em nada, seja sobre o que for. Sinto que o que mais preciso agora é sair da casa da família Carvalho, ter um espaço totalmente privado para cuidar das minhas próprias coisas. Quanto ao que vai acontecer depois... vou ver passo a passo.”
“Ricardo, acho que ambos precisamos nos acalmar. Nesse período, por causa do senhor Miguel, tivemos muito mais contato do que deveríamos. O senhor Miguel pediu para você cuidar de mim, e talvez isso tenha te causado alguma confusão, por isso você acabou tendo... certas ideias.”
Ricardo não conseguiu conter e retrucou.
“Você acha que é por causa do meu avô?”
Adelina apertou os lábios e olhou pela janela.
Muitas palavras se embaralhavam dentro dela, sem ordem, sem direção.
“Não sei dizer. Mas já tivemos um casamento fracassado, e passamos tantos anos separados. Entre nós, há tempo e acontecimentos demais que não podem ser apagados apenas com um breve convívio. Eu...”
Ela fez uma pausa e revelou seus sentimentos mais sinceros.
“Ainda não consigo confiar em você incondicionalmente, e acho que o mesmo vale para você.”

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