O Sobrenome Dela, o Amor Dele romance Capítulo 487

A voz de Úrsula Mendes soou calma, mas foi certeira ao apontar o cerne do problema.

Sim.

Úrsula Mendes e Simone Aguilera, na verdade, eram apenas duas conhecidas que se viram poucas vezes.

Ainda assim, mesmo tendo se encontrado apenas duas vezes, a impressão que Simone Aguilera deixara não era de alguém genuinamente bondosa, tampouco do tipo que faz o bem sem esperar reconhecimento.

Para Úrsula Mendes, Simone Aguilera nem mesmo parecia uma pessoa comum.

Por isso mesmo.

Úrsula Mendes suspeitava que não fora Simone Aguilera quem salvara Calel Solano.

Afinal, se tivesse sido Simone Aguilera a responsável por salvar Calel Solano, ela jamais teria agido com tamanha tranquilidade.

Conhecendo a personalidade de Simone Aguilera, ela teria feito questão de alardear o feito, de modo que todos soubessem que salvara Calel Solano, tornando-se assim, diante de todos, sua benfeitora.

O fato de não o fazer, de não proclamar aos quatro ventos, certamente tinha uma razão.

E essa razão era simples: ela nunca fora a verdadeira salvadora de Calel Solano.

A verdadeira “sereia” era outra pessoa.

Ao ouvir as palavras de Úrsula Mendes, Calel Solano ficou surpreso e olhou para a irmã.

— Ami, você… você está dizendo que a Simone não foi quem me salvou?

— Sim — Úrsula Mendes assentiu levemente.

— Mas a primeira pessoa que vi ao acordar foi a Simone! — Para Calel Solano, o simples fato de ter visto Simone Aguilera assim que recobrou a consciência bastava para torná-la sua salvadora.

— Quem mais poderia ser, além da Simone?

Calel Solano não conseguia entender.

Úrsula Mendes sorriu suavemente e devolveu a pergunta:

— Calel, na história da “A Pequena Sereia”, quem foi a primeira pessoa que o príncipe viu ao acordar, depois de ser salvo?

— A princesa — respondeu Calel Solano.

— E a princesa era realmente a salvadora do príncipe? — prosseguiu Úrsula Mendes.

Desta vez, Calel Solano ficou em silêncio.

Úrsula Mendes continuou:

— Do ponto de vista do príncipe, a princesa era sua salvadora. Mas do ponto de vista do narrador, ou seja, da perspectiva de quem tudo vê, a verdadeira salvadora era a sereia.

Os olhos de Calel Solano se tornaram profundos em reflexão.

Era verdade.

A irmã tinha razão.

O príncipe acreditava que fora salvo pela princesa e, em gratidão, casou-se com ela, vivendo felizes para sempre.

Enquanto isso, a sereia, que de fato lhe salvara a vida, se transformou em espuma na praia.

Quando era criança e lia essa história, Calel Solano sempre sentia que a sereia fora injustiçada.

Afinal, ela sacrificara a própria vida pelo príncipe.

E o príncipe, no entanto, nunca soubera disso.

Agora, ironicamente, ele próprio se via numa situação semelhante.

Calel Solano franziu levemente a testa.

— Ami, mas a vida real é diferente dos contos de fadas. Se realmente houve outra pessoa que me salvou, por que ela desapareceu depois que acordei? Ela não é uma sereia, não teria um motivo inconfessável para se esconder.

A sereia da fábula se mantinha à sombra porque ela e o príncipe pertenciam a mundos diferentes.

Ela tinha corpo de humana, mas ainda assim, possuía cauda de peixe.