Renata vacilou:
- Bem, eu...
- Você ouviu a nossa conversa?
O semblante dele era grave. Ele não queria que ninguém soubesse do seu passado.
Renata queria explicar que não havia ouvido de propósito, mas ficou petrificada pelo rosto frio dele; com medo de que ele ficasse com raiva, ela soltou:
- Acabei de voltar. Do que vocês estavam falando? A vó deu um jeito para que eu saísse. Estavam falando de mim?
Marcelo aliviou o semblante:
- Ela disse para eu tratar você bem. Aliás, por que você voltou sem comprar nada?
- Na pressa, não levei nada, nem dinheiro. - Ela desviou ligeiramente o olhar que estava voltado para ele, sentindo-se intranquila e envergonhada pela mentira que tinha acabado de contar.
Sem entender o real motivo da sua vergonha, Marcelo sorriu e entregou a ela a carteira no bolso:
- Tome.
- Só preciso de uns 50; não precisa me dar a carteira toda - retrucou ela.
Ele pegou a mão dela e pôs a carteira lá dentro:
- Somos marido e mulher. O que é meu, é seu.
Ela olhou para ele e seus dedos se curvaram involuntariamente.
O marido sorriu:
- Já ficou comovida? E olha que ainda nem lhe passei todos os bens da família. Você é muito fácil de comprar.
Ela só olhou para ele:
- Estou indo.
- Tudo bem.
Ele a acompanhou com o olhar e fechou a porta, entrando. Bem nesse instante, tocou o telefone em seu bolso. Era o nome de Vanderlei. Ele atendeu. Antes que Vanderlei pudesse falar qualquer coisa, já foi perguntando:
- Aquele animal morreu ou não?
- Pelo visto, não. Está na sala de cirurgia. E a sua avó?
O objetivo da ligação dele era principalmente saber se Dona Lourdes corria risco de vida.
Marcelo puxou a cadeira do lado da cama e se sentou:
- Tudo bem com ela. Só um pequeno machucado. O médico falou que ela vai ficar de observação hoje à noite e depois vai ter alta.
- Certo.
Vanderlei não desligou o telefone, mas também não falou nada, hesitando.
- Se quer dizer alguma coisa, então diga. Por que esse abatimento?
- Bem, foi Natália quem me pediu para fazer esta ligação - Vanderlei parou um pouco para pensar, e continuou. - Natália acha que é tudo culpa dela, e tem medo de que algo aconteça à Dona Lourdes. Por isso quis que eu ligasse para você e soubesse como estava a situação.
Marcelo sabia que Natália não tinha culpa. Foi uma infelicidade a sua avó ter aparecido e ter sido sequestrada por Anderson. Além disso, Natália arriscou a própria vida para tentar salvá-la.
- Eu sei, no fundo do meu coração, que ela não tem culpa nesta história.
- Que bom, então. Assim que eu resolver este outro assunto aqui, vou ver a vovó.
- Melhor não. Todos nós perdemos a noite. Melhor dormir um pouco. Pode ser que tenhamos que ir embora amanhã mesmo. É fim de ano, e você está fora por tanto tempo. Vai acabar tendo que dar explicações ao seu batalhão.
Vanderlei assentiu e desligou. Marcelo também encerrou a ligação e pôs o telefone no bolso.
- Quem ligou para você? - perguntou Dona Lourdes.
- Era Vanderlei. Quis saber como você estava. Eu disse que estava tudo bem.
Ele ajeitou a colcha dela:
- O passado é passado. Não comente com Renata sobre meus pais.
- Ela não é nenhuma estranha. - A anciã sentia que não havia necessidade de esconder.
- Sinto vergonha. Não quero que ela saiba. - A cara dele não era das melhores.
Bastava mencionar o passado, e ele ficava assim. Dona Lourdes não achava que fosse motivo para se envergonhar, nem que fosse culpa dele:
- Por quê? Quer manter o segredo para sempre? Ela é sua esposa. Vai passar o resto da vida com você. Você precisa confiar nela, quer ela acredite em você, quer não. Demonstre atitude. Sabe o que mais dá medo em um casamento? A falta de confiança.
Idosa, a avó tinha a mente lúcida. Já viveu muito, e enxergava as coisas com clareza.
- Vamos conversar de novo. Espere até eu estar pronto. - Sem querer continuar, Marcelo mudou de assunto:
- Descanse, você está cansada.
Ela estava incomodada com a atitude dele:
- Você já se casou. O que mais falta para ficar pronto? Será possível que você ainda traz aquela Taís Teixeira no coração?
- Eu não! Para que se lembrar dela?
Marcelo notou que a idosa não estava em um dia normal. Primeiro, falou do caso de seus pais; agora, do primeiro amor dele. O que ela queria com isso?
- Vó, alguma coisa está incomodando a senhora? Se não estiver se sentindo bem, é só dizer, que chamamos um médico.
- Está me agourando? - disse ela, dando um tapa no neto.
Ele baixou o tom de voz:
- Então para quem você veio falar do passado?
Ela subiu o tom:
- Estou preocupada com você!
Ele a cobriu com a colcha:
- Sou uma pessoa crescida. Tenho bom senso. A sua saúde é o que mais me preocupa.
A velha deixou escapar um suspiro de alívio, que emendou com um aviso:
- Marcelo, vou lhe dizer uma coisa: eu gosto de Renata. Aconteça o que for no futuro, mesmo se você conhecer alguém, seja fiel a ela.
- Eu sei. Fique tranquila - respondeu, sem levar aquilo muito a sério. Sua avó era assim mesmo, gostava de conversar fiado.
Passado um tempo que não foi muito, Renata voltou com a comida e colocou sobre a mesa:
- Não conheço bem isto aqui; tive que andar um pouco para achar as coisas.
Depois de ajeitar as compras, devolveu a carteira para Marcelo:
- Tome, é sua. Guarde-a em algum lugar.
Marcelo não respondeu. Pegou pastel que ela trouxe e enfiou na boca, mastigando de boca boa até engolir. Depois de tomar água, disse a ela:
- Fique aqui com a vó. Vou resolver uns assuntos.
Ela anuiu.
Depois que ele saiu, ela ergueu a cabeceira da cama de Dona Lourdes e foi pegar o caldo. Sentada em uma cadeira, começou a dar comida à paciente:
- Tome o caldo, avó.
Ela abriu a boca e apertou os olhos. Até conseguia se mexer, mas dessa vez preferiu deixar que a esposa de seu neto tomasse conta dela.
Renata segurou a tigela de caldo e só depois de conferir se ele não estava quente levou-o à boca da senhora idosa.
Após servir uma tigela inteira de caldo verde, colher por colher, ela pegou um pedaço de papel e limpou a boca de Dona Lourdes, que ficou parada desfrutando daqueles cuidados.
- O que Marcelo foi fazer? - perguntou a senhora.
Renata arrumou a mesa:
- Também não sei.
- Você nem sequer perguntou? - sondou Dona Lourdes.
Renata não se importou em ficar analisando demais aquelas perguntas. Após jogar a tigela de caldo no lixo, contrapôs:
- Se ele falou que tinha um assunto para resolver, é porque tinha. Ele deve saber o que fazer, não se preocupe.
Na cabeça dela, a avó estava preocupada com Marcelo. Após lavar as mãos, ela voltou para ajeitar a cabeceira da cama para que Dona Lourdes tivesse um bom descanso:
- Estou aqui para cuidar da senhora. Qualquer problema, me chame. Agora, aproveite para dormir.
Dona Lourdes estava mesmo cansada, e a conversa a esgotou. Ela ficou satisfeita com a atitude de Renata.
Sem nem questionar o paradeiro de Marcelo, ela demonstrou que confiava nele.
Já ele não falava das próprias questões, tinha segredos com ela.
Só restou à Dona Lourdes dar mais um suspiro daqueles.
Ao sair da enfermaria, Marcelo pegou o celular e ligou para Vanderlei, que atendeu na hora.
- Onde você está?
- Na sala de cirurgia do terceiro andar.
- Vou até aí encontrar com você.
Agora que havia alguém para cuidar de Dona Lourdes, Marcelo podia ir acertar as contas com o malfeitor.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: O Vício de Amor
No meio vai ficando chato...
O livro começa bem interessante. Mais chegando no final fica horrível, vai só colocar mais personagens e esqueci da história de Natalia e Jorge que e o principal. Tirou o foco total no final do livro....
Como baixar o livro??...
Kd o final.do livro?...