OS FILHOS DO SHEIK (completo) romance Capítulo 70

Anos atrás

Nádia

Eu conheço Cam desde que me conheço por gente, nossos pais sempre foram amigos, e viviam no palácio e quando eles não vinham nós íamos até Dulbaí para vê-los. Esam sempre foi mais próximo dele, e os dois mais distantes de nós eu, Emhre e Nathália. Minha prima quase não vinha ao palácio, na usina tinha muito serviço e meu tio Pedro quase não vinha para Shariff. Emhre, sempre ficava comigo quando ela não estava. Os filhos de tio Mohamed não tinham muita convivência, pois eles moravam em outro palácio e quase também não vinham para nossa casa. Enzo é um pouco mais novo, então brincava com quem o chamasse.

Certa vez estávamos em Dulbaí, eu fui olhar o lugar como gostava de fazer, Emhre se juntou aos garotos jogando bola. Tio Kalil fez um jardim para tia Camile e era lindo, ela dizia que lá era o paraíso dela e esquecia de tudo que tinha passado de ruim na vida, logo quando ela foi morar em Dulbaí, em três dias ele mandou construir o jardim para ela e ficou lindo, construiu para que ela não chorasse mais e que quando ela tivesse com vontade de chorar ou estivesse triste que ela plantasse uma flor. E assim ela o fez, plantou tantas rosas de todas as cores e lá se tornou um local sagrado.

Eu já tinha ido lá e fiquei encantada com a quantidade de flores que havia no lugar, quando ela me contou que a cada rosa plantada era uma lágrima pelos abusos que havia sofrido, pela humilhação e que cada flor que floresceu ali mostrou à ela que o amor é maior que qualquer outra coisa. E que outros dois sentimentos andam juntas com o amor, que é a fé e a esperança sem eles todos nós não evoluímos dia após dia em nossa vida na terra.

Eu achei lindo a explicação dela, não entendia muito bem o que tinha acontecido com ela, pois ela falava com mamãe e comigo. Mamãe, claro entendeu tudo, mas eu fiquei olhando cada rosa e pensando no amor, na fé e na esperança. Às vezes passava a mão com delicadeza em alguma delas e pensava como Alá tinha feito coisas tão lindas.

O palácio de tio Kalil sempre foi tão lindo como o de papai, mas era mais claro e as paredes brancas traziam pureza ao lugar, o lindo lago com danças das águas feito somente para a gente sentar e apreciar era um espetáculo que trazia sorrisos a todos. Eu fiquei maravilhada e meus olhos brilhavam vendo as cores das luzes e soltei um sorriso.

- Sabia que você é mais linda quando sorri – Cam chegou perto de mim.

- Então quer dizer que você me acha linda? – dei um sorriso de lado.

- Foi o que eu disse – ele rebateu rindo também.

- Pensei que você nem soubesse que eu existisse, mas pelo visto eu fui notada por você.

- Gostou de ser notada por mim?

Eu abri um novo sorriso e ia deixar ele falando sozinho, mas ele segurou meu braço e ia dizer algo, porém Esam o chamou para alguma brincadeira de garoto. Eu sempre o notei, quando somos crianças e o melhor amigo do seu irmão vai brincar com ele, mas não olham para você e não te chamam para a brincadeira você também finge que não os nota.

A nossa estadia no palácio de Cam, não seria muito longa e já íamos embora no outro dia, então resolvi ir até o jardim da tia Camile, pois ela me disse que se eu quisesse ver as rosas eu poderia ir. E então percorri o caminho que fizemos ontem, mesmo tendo pouca idade eu tenho uma boa memória o que me fez chegar rapidamente ali.

E lá estavam elas, as mais belas rosas que tinha visto na vida, nem as de mamãe e nem mesmo a de vovó Paula eram assim, tão lindas e com cores vibrantes. Mas a que me chamou mais atenção foi a rosa negra, tia Camile explicou que ela simboliza o ódio, a morte e o desespero e que tio Kali trouxe para ela depois de uma viagem que fez a Turquia, mas junto com ela trouxe a rosa Arco Iris, que tem o significado de alegria, e do despertar da felicidade. Que naquele momento ela precisava despertar e sair do seu lado sombrio e procurar sua felicidade.

Eu observei cada uma delas, ela as reproduziu em grande quantidade, várias rosas negras traziam um ar sombrio ao local, mas não deixam de trazer beleza a luz fraca que batia e as gotas d’água traziam um brilho especial e me encantou. Sombrio e encantador.

- Você me intriga, sabia? – eu dou um pulo com a voz atrás de mim.

- O que você quer aqui?

- Essa é minha casa – ele encostou no batente da porta – E a intrusa aqui é você.

- Não sou intrusa, sou convidada da sua mãe que ainda é a dona da casa, que saiba.

- Sabia que tudo isso aqui vai ser meu um dia – eu dei de ombros – E isso me deixa assustado, não sei ser como meu pai – ele caminhou até onde estavam as rosas brancas – Meu pai é como as rosas brancas que transmitem paz.

- E você Cam?

- Eu - ele olhou para mim – Sou como as rosas negras, sombrias – ele riu sem graça.

E então ele chegou como uma sombra perto de mim, sem que eu sequer entendesse o que acontecia ali, tapou a luz que brilhava me deixando na escuridão, fitou meus olhos, depois o meu rosto, tirou meus óculos de grau e por fim minha boca aproximando a dele com a minha e juntando nossos lábios de adolescentes. Cam foi o protagonista da minha história, meu primeiro beijo foi roubado por ele e quando sua língua se juntou a minha boca eu não sabia o que fazer, ele segurou com suas mãos cada lado do meu rosto e me guiou a uma dança que nunca havia provado antes.

O que me tirou dos devaneios que Cam me trouxe foi quando ouvimos mamãe me gritar já próximo do jardim que tia Camile tinha ali, eu me assustei e o empurrei e ele sorriu e enquanto eu me virava para ver se elas estavam ali ou tinham visto o beijo ele não estava mais lá, tinha sumido levando as sombras com ele e trazendo a luz novamente.

- Filha – mamãe estava sorrindo conversando com tia Camile – O que está fazendo aqui? Pensei que estivesse com seus irmãos.

- Não mamãe eu estou aqui – coloquei meus óculos que estavam na mesa de volta ao meu rosto – Vim olhar as rosas.

- Você está vermelha – mamãe diz.

- Deve ser as luzes da estufa, não é mesmo Nádia – tia Camile diz com um olhar desconfiado.

- Sim, tia – fiz uma pausa pensando se ela viu o meu beijo com Cam – Deve ser as luzes.

E assim foi meu primeiro beijo.

Nossa estadia no palácio em Dulbaí acabou na manhã seguinte quando nós pegamos nosso avião para poder ir embora, Cam se despedia do meu irmão e eu fingia que nada tinha acontecido, me despedi de todos e queria entrar rapidamente dentro do avião, para sumir logo dali, mas quando cheguei na escada e subi o primeiro degrau enquanto segurava o corrimão, uma mão alcançou a minha.

- Vai embora sem se despedir de mim?

- Já me despedi de todos, com licença preciso subir.

Ele puxou minha mão me fazendo desequilibrar e cair praticamente em cima dele, sussurrando em meu ouvido ´´ eu gostei do nosso beijo`` , eu pisei no pé dele, nem sei como fiz essa proeza, com ele soltando um ai e o deixei lá parado me olhando e sorrindo.

- Garoto idiota.

- Por que esta brava irmãzinha? – Esam me diz entrando atrás de mim.

- Essa garoto Cam que é um idiota – arrumei meus óculos – Fico pensando como um garoto inteligente como você tem esses tipos de amigo.

- Nádia o que aconteceu? Ele é filho da tia Camile e do Tio Kalil, nós conhecemos desde de criança?

- Eu não sou amiga dele, Esam – olho para a janela dando o assunto por encerrado – E nem desejo ser.

- O que aconteceu – Emhre diz sentando em sua poltrona.

- A Nádia hoje está um pouco irritada – Esam responde.

- Está azeda hoje irmã? – ele vem e me faz cócegas – Mais do que nos outros dias.

- Só acho o amigo de vocês um idiota e ponto – eu olho feio para Emhre – E não sou azeda, só não gosto de gente chata.

- Então ela não gosta dela mesma – o idiota do garoto estava na porta do avião – Mamãe pediu para te entregar.

Era uma rosa negra, ela estava plantada em um vaso sinal que tia Camile não queria que a deixasse morrer, ele caminhou até onde eu estava e me entregou passando seus dedos nos meus. Eu levantei meus olhos, e ele se abaixou, enquanto meus irmãos conversavam entre si.

- É um presente meu para você – ele sussurrou - Para se lembrar do seu primeiro beijo.

E então se foi me deixando sem palavras.

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