Os Gêmeos Desconhecidos: As Escolhas De Uma Mãe romance Capítulo 1605

Rafaela sempre sentiu que devia algo à Astrid, e agora ela desprezava ainda mais esse corpo seu, tão maltratado pela doença.

Afinal, ela só fazia Astrid sofrer ainda mais.

Com a cabeça apoiada em um travesseiro macio, as lágrimas de Rafaela já haviam encharcado uma boa parte do tecido. "Astrid, se fosse possível, seria tão melhor para você não ter uma mãe como eu."

Astrid chorava de maneira dolorida; ao ouvir tais palavras, sentia ainda mais tristeza.

"Mãe, sem você eu não ficaria bem, não ficaria nem um pouco bem. Espera por mim, por favor, só mais um pouco. Eu vou dar um jeito, vou encontrar uma maneira de te salvar, vou fazer de tudo, só me espera."

Rafaela pressionou os lábios, olhando para Astrid, que estava com o rosto coberto de lágrimas. Ela estendeu a mão, querendo enxugar as lágrimas da filha, mas estava tão fraca que não tinha nem mesmo essa força.

Astrid rapidamente segurou a mão de Rafaela e a encostou em seu próprio rosto.

Rafaela Dani observou Astrid em silêncio, com um olhar cheio de ternura e compaixão.

Ela queria muito prometer a Astrid, mas o tempo lhe faltava.

Ela realmente não tinha mais tempo.

Ela sabia disso, mesmo que Cleiton e os médicos conversassem às escondidas sobre seu estado, ninguém conhecia seu corpo melhor que ela mesma.

Deitada naquela cama de hospital, seu quadro variava de melhoras passageiras a recaídas. Periodicamente, precisava se submeter à quimioterapia, e cada sessão parecia tirar metade de sua vida. Dores insuportáveis, que penetravam até os ossos, faziam com que ela desejasse morrer de uma vez.

Após a quimioterapia, sentia-se melhor por um tempo, mas sabia que era apenas temporário. Logo, seu corpo ficava ainda mais debilitado.

A quimioterapia já não fazia mais efeito.

Os médicos até tentaram outros tratamentos.

Infelizmente, nada funcionou.

Ela sabia que não lhe restava muito tempo, nem podia esperar por Astrid.

No início, Rafaela não queria se tratar, mas acabou aceitando na esperança de viver um pouco mais, só para poder ver Astrid por mais alguns dias.

Naquele momento, Rafaela olhou para Astrid, com a mente mais lúcida do que antes, mas não respondeu à pergunta da filha. Em vez disso, disse: "Astrid, quando você e Orlando vão se casar? Mamãe queria tanto te ver vestida de noiva."

"Logo, mamãe, logo que voltarmos para Brasília vamos fazer a cerimônia. Se anima, por favor? Você vai ao nosso casamento, vai me ver casar com o Orlando, tá bem?"

Rafaela assentiu levemente com a cabeça. "Está bem, está bem."

Disse duas vezes, mas Astrid chorava ainda mais.

Rafaela sorriu entre lágrimas. "Astrid, não chore mais, mamãe vai ao seu casamento."

Astrid assentiu com força, querendo dizer: Mãe, promete para mim que vai, não importa se eu casar no ano que vem, daqui a três anos, ou daqui a dez, você vai estar lá.

Mas palavras como essas, que já não serviam de consolo para ninguém, Astrid não conseguiu pronunciar.

Ela sabia que Rafaela teria, no máximo, mais alguns dias de vida.

Nos dias seguintes, ninguém mais tocou no assunto.

Assim que Astrid saiu, pediu para Orlando começar a organizar o casamento, e Rafaela parecia, de repente, ter reencontrado alguma esperança; seu estado de saúde melhorou milagrosamente.

Cleiton não sabia se devia rir ou chorar, e ficou observando Rafaela tomar o remédio, dando-lhe cada colherada.

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