Por Amor ou por Vingança Epilogo

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Mariana

Dois anos depois…

Eu estava me sentindo abalada demais depois do resultado do exame e não tinha certeza nem mesmo de que conseguiria dirigir, perturbada daquele jeito, e pensei seriamente em deixar o meu carro no estacionamento da clínica e ir embora de táxi.

Eu nem mesmo precisaria explicar nada para ninguém, pois a minha tia estava na chácara com os pais e o irmão de Ethan, enquanto o próprio Ethan tinha viajado ontem à noite para tratar de alguns assuntos importantes em Curitiba e só estaria de volta no dia seguinte.

Refleti bastante, sentada dentro do carro, a cabeça deitada sobre o volante, sem conseguir tomar qualquer decisão naquele momento, por mais simples que fosse e não tenho a menor ideia de quanto tempo fiquei ali, naquela mesma posição, quando alguém bateu no vidro do carro, chamando a minha atenção.

— Ethan!? — perguntei verdadeiramente incrédula.

— Abre o carro, Mariana — ele pediu, gesticulando muito e parecendo um pouco alterado.

Eu atendi o seu pedido e destravei o carro, e rapidamente ele estava sentado ao meu lado, dentro do veículo, e eu diria que ele parecia muito com um homem em desespero.

— Não fica assim, meu amor — Ethan disse, me abraçando.

Eu não entendi o que estava acontecendo, mas o fato de Ethan estar me abraçando, juntamente com aquelas palavras carregadas de carinho e amor conseguiram liberar um pranto sem fim, e chorei copiosamente por longos e angustiantes minutos.

— Nós somos felizes, independente de qualquer coisa — Ethan tentou me consolar — E esse resultado não vai mudar o amor que sentimos um pelo outro.

— Como você soube? — perguntei, me afastando de seu abraço para olhar diretamente em seus olhos.

Estava muito claro que Ethan já tinha descoberto sobre o resultado do exame, ele mesmo tinha acabado de atestar isso, mesmo que eu não tivesse a menor ideia de como ele descobriu isso.

— Recebi um e-mail da sua médica e mesmo sem entender nada, eu juntei as coisas — ele contou, me analisando com atenção.

Exalei uma respiração profunda, me sentindo um pouco chateada pela maneira como Ethan soube de tudo, mas ao mesmo tempo conformada, afinal, ele iria saber de qualquer forma, pois eu jamais seria capaz de esconder algo tão importante assim dele.

Antes mesmo que nos casássemos, Ethan tinha deixado claro o seu desejo por filhos e até me levou a fazer uma promessa de que teríamos três, o que foi muito engraçado na época, mas que tinha se tornado um fardo ao longo dos meses em que eu não conseguia engravidar.

Mesmo sem nunca ter sido cobrada realmente, eu me sentia incapaz por nunca acontecer a minha tão esperada gravidez e isso estava me deixando estressada e nervosa, e a médica sugeriu que essa deveria ser a causa do problema. Mas eu sentia que não era apenas isso.

Dois anos se passaram, Murilo e Virgínia já tinham dois filhos, a Manuela e o Marcelo, Aquiles e Lavínia tinham o , e até mesmo a Artémis, que tinha se casado com Joshua há poucos meses atrás, já estava grávida, esperando o seu primeiro filho, e eu não conseguia engravidar.

E só agora a minha médica solicitou alguns exames mais específicos e eu aproveitei que Ethan não estaria em casa, para ir à consulta de maneira discreta e não contar nada para ele sobre isso, pois aquele tinha se tornado um assunto delicado e que sempre causava muita tensão entre nós, pois o meu marido insistia em afirmar que na hora certa os nossos bebês viriam.

Não haveria “hora certa”. Eu sou estéril.

— Pensei que estava em Curitiba — Preferi fingir que ele não tinha falado nada e apenas mudar de assunto.

— Eu terminei a reunião o mais rápido que pude e peguei o jatinho para vim embora logo de uma vez — ele explicou — Algo estava me dizendo que eu deveria estar em São Paulo e o e-mail da sua médica comprovou que o meu pressentimento estava certo.

— Vamos para casa — pedi.

Eu não queria falar sobre este assunto agora.

— Tudo bem — Ethan logo acatou o meu pedido.

Nós trocamos de lugar, afinal, estava bastante claro que eu não tinha condição alguma de dirigir, e como Ethan tinha vindo diretamente do aeroporto para a clínica - ele tinha rastreado o meu carro no aplicativo de segurança - não tivemos que nos preocupar com outro veículo e apenas seguimos diretamente para a nossa casa nos jardins.

Era horário de pico, as ruas estavam lotadas e o trânsito lento, mas ainda assim eu não estava prestando atenção em nada do que estava se passando à minha volta, apenas o sentimento de desolação tomava conta de mim, enquanto eu permanecia de cabeça baixa, olhando para a bolsa em meu colo.

Eu não vou poder cumprir a minha promessa… — comentei baixinho e logo vi algumas lágrimas caindo sobre a bolsa.

— Não deve pensar dessa forma, Mariana — Ethan tentou me consolar — Era para ser apenas uma brincadeira de casal. Não um contrato ou algo do tipo. Eu te amo, você me ama e estamos bem juntos. Estou certo?

Eu não respondi, pois naquele momento, alguns carros que estavam na via ao lado acabaram batendo atrás um do outro e o trânsito que já estava ruim, ficou

— Acho que vou pegar um atalho… — Ethan sugeriu — Pelo menos nós conhecemos mais um pouco de São Paulo, o que

Ethan estava tentando descontrair o clima, mas eu não estava realmente com pressa, afinal, então apenas balancei a cabeça em concordância. Mas alguns minutos depois, enquanto estávamos passando por ruas completamente desconhecidas para nós, o carro estancou, parando de repente e não quis mais ligar.

— O que houve? — perguntei assustada.

Ethan olhou para o painel, suspirando resignado e eu logo entendi o que tinha acontecido.

Faltou gasolina — disse exatamente o que eu já tinha imaginado.

Eu estava tão ansiosa pela consulta com a minha médica, que até mesmo esqueci de abastecer o carro.

Estávamos em uma rua larga, mas não era uma via muito movimentada e haviam vários carros estacionados próximos a calçada e Ethan empurrou apenas um pouco para frente, de modo a deixá-lo estacionado também.

— Como vamos conseguir combustível agora? — perguntei

Vou procurar onde tem um posto de combustível mais próximo —

Eu sei onde tem um

para o garoto que tinha acabado de falar, surpresos pela maneira como o garoto se intrometeu na conversa, sendo ele ainda tão pequeno. Deveria ter no máximo sete anos e já entendia sobre

— Onde está a sua mãe, pequeno? — perguntei, me abaixando um pouco para ficar mais próxima da sua altura — Não deve andar sozinho pelas ruas, é muito

— Eu não tenho mãe — ele disse com tranquilidade — Moro

O garoto estava apontando para um prédio alguns metros depois de onde estávamos parados e eu constatei que realmente se tratava de uma instituição de acolhimento de crianças, pois havia um grande letreiro

E como deixam que você saia sozinho dessa forma? — Ethan perguntou,

Eu saí escondido — o garoto explicou de maneira simples, como se aquilo não fosse tão grave — Eu sempre consigo enganar as

Ficamos abismados com a audácia daquela criança, mas ao mesmo tempo eu não consegui impedir um sorriso, diante da maneira como ele falava, como se aquilo fosse um feito digno

Pois eu digo que você voltará agora mesmo para o orfanato — Ethan disse com seriedade, segurando na mão do garoto — Vamos,

Ethan estendeu a outra mão para mim e juntos fomos ao orfanato, deixar o garoto e aquele foi o dia que marcou profundamente a nossa vida e que tudo mudou para