Quando Linda me avisou que eu acompanharia Michael a casa do consiglieri, estranhei aquele convite inesperado. Estou a dias aqui, e por mais gentil que seja minha futura cunhada, e por maior que seja a casa, me sinto mais prisioneira aqui do que quando estava no convento. Me olho no espelho do closet de Linda, que parece analisar se o vestido que estou usando agradaria Michael, e eu odeio isso. Cada vez que o vejo, é sempre em vestidos justos, e não gosto de pensar que o próprio Villani esteja achando que estou me insinuando para ele. O vestido da vez é nude, um decote insinuante e apesar de estar um pouco acima dos joelhos, é o tipo de roupa que certamente faz Michael Villani olhar com interesse.
Logo que soube que ele me aguardava, tratei de ir ao seu encontro, e o vi sobre um dos joelhos sorrindo para Morgan enquanto a menina contava animada sobre algo que havia acontecido na escola. Então, quando ele levantou-se e olhou diretamente para mim, não pude deixar de notar como estava elegante. Ouvi Linda dizer a que ela e Valerie haviam combinado de ir as compras no dia seguinte, e que levaria Morgan para jantar com a avó. Pensei por um momento que ainda não havia conhecido a mãe de Michael e Linda, e não pude deixar de imaginar como ela deveria estar desgostosa com a ideia de que seu filho se casaria comigo.
– Tio Michael vai levar a Giulia para passear? – perguntou a menina à mãe.
– Sim, querida – Linda respondeu, despreocupada.
– Giulia está bonita – a menina olhou para mim, e sorriu.
– Obrigada, Morgan – sorri de volta para ela.
– Vamos subir, Morgan? – Linda apontou a escada – temos que nos trocar para ir jantar com a vovó!
A menina se despediu e enquanto subia a escada, Michael se aproximou de mim e ambos a ouvimos perguntando baixinho a Linda: "Mamãe, eles são namorados?" Se Michael conseguiu ignorar o cochicho da pequena, a pergunta me fez sentir minhas bochechas esquentando. Nossa situação é tão inusitada que não podemos dizer que temos algum relacionamento, o que temos é um acordo. E enquanto saio da casa de Linda Villani em companhia do homem que em poucas semanas será meu marido, penso que não ha possibilidade disso dar certo. Michael abre a porta da Maserati para mim e entra no carro logo depois, enquanto coloca o veículo em movimento, reparo em sua postura tranquila, a maneira irritante como me ignora, pensando que pobres eram as mulheres que se deixavam levar por sua beleza. Michael era obviamente o tipo que poderia destruir o coração de uma mulher, e só agora me ocorre que um homem como ele deveria ter a atenção de muitas, onde quer que fosse. Olho para a frente quando ele apoia o braço próximo ao meu, o quase contato me deixa incomodada, pois consigo sentir o calor dele, e isso me faz pensar que serei dele em poucas semanas, a menos que consiga evitar. Seguimos calados por todo percurso, e depois de algum tempo Michael para o carro em frente a um grande portão e segundos depois sua passagem é autorizada. A casa onde vive o consiglieri entra em meu campo de visão depois de uma sinuosa curva a direita ladeada por sebes que terminam em um belo jardim em frente a casa de arquitetura moderna, e só então reparo que um carro nos segue de perto, e logo vejo que são Fabian e Ezio, esse, trabalhando para os Cavalieri, um dos homens de Chicago responsáveis por minha segurança.
Michael faz sinal para que aguarde, sai do carro e o vejo trocar algumas palavras com os dois, em seguida ele abre a porta do carro colocando a mão suavemente em minhas costas e guiando-me para a porta principal da casa. Quando Chris Villani vem nos receber, no hall de entrada, felizmente sinto a tensão entre nós se dissipando. Ele nos cumprimenta de maneira descontraída, e não posso deixar de pensar em quanto sou tola ao tentar imaginar qualquer Villani muito desprovido de encantos e beleza. O consiglieri é um homem muito bonito e gentil, e logo depois de um abraço fraterno em Michael, ele se volta para mim.
– Finalmente posso conhecê-la, Srta. Cavalieri – um sorriso brinca em seus lábios enquanto ele me observa – acho que meu primo queria escondê-la!
– Não é nada disso... – Michael fala, e sua face volta a ficar séria.
– Encantado – diz ele, depois de beijar a minha mão, e me oferecer o braço enquanto vamos para o cômodo seguinte.
Na sala ampla e confortável, enquanto falamos de assuntos corriqueiros, vejo uma mulher jovem e exuberante descendo a escada, usando um vestido justo sob um casaco leve. Seus cabelos castanhos têm mechas alouradas, e ondulam lindamente enquanto ela se aproxima, sorrindo e muito falante. Ela abraça Michael, e eles trocam algumas palavras, minha impressão é que se dão muito bem, e logo ela se aproxima de mim.
– Você deve ser a Giulia! – ela fala, animada – Muito prazer, sou a Val!
– O prazer é meu – falo retribuindo seu breve, mais caloroso abraço.
– Definitivamente, tudo que ouvi sobre como você seria não lhe faz jus! – ela segura minha mão – Você é linda!
Fico pensando em como Michael tem falado ao meu respeito, já que os dois irmãos parecem surpresos ao me verem enquanto ele e Chris se afastam em direção ao bar. Sento-me no sofá confortável com Val ao meu lado e a conversa é muito agradável, ela casou-se com um leal capitão dos Villani, por quem se encantou enquanto ele fazia sua segurança e dirigia para ela. Com o marido em uma visita a Chicago, ela estava passando uns dias na casa do irmão, com sua bebê, pois Chris não gostava da ideia das duas sozinhas, mesmo com toda a segurança que ela recebia por ser irmã dele.
Tenho a impressão que ela esperou o momento certo para ir para o andar de cima, onde estava sua filha, em uma tentativa certeira de mais privacidade. Seu tom esfuziante some, e apesar da fala tranquila, estou certa que ela gostaria de me dizer algo que provavelmente não seria bem-visto, tanto pelo irmão como pelo capo. Não sou eu quem dará o primeiro passo, então vou com ela ao quarto que ela ocupa com a bebê, que está tranquila no berço com carinha de sono. Val conversa rapidamente com a babá e em seguida saímos do cômodo.
– Quer ter filhos, Giulia? – ela pergunta, enquanto seguimos lentamente pelo corredor.
– Eu nunca pensei seriamente no assunto – respondo, penso que ela só pode estar curiosa, pois certamente Michael me perguntaria isso pessoalmente se estivesse com pressa em ser pai.
– Casamentos como os nossos... acho que posso dizer nossos, porque logo você irá se casar com Michael – ela sorri, de um jeito meigo e encorajador, que me fez perceber que essa ideia me deixa ansiosa, como se os dias estivessem passando e eu não pudesse fazer nada para impedir – o que quero dizer, é que certamente espera-se que você logo dê um filho a ele.
– Oh... bem, eu algum momento, acho que será inevitável – pela primeira vez, me ocorre que em poucas semanas, ocuparei a mesma cama que Michael Villani, e isso me causa tremores.
Val, segura minha mão quando percebe que o assunto me perturbou: – Não fique assim, Giulia, eu não queria chateá-la, me desculpe, mas fico pensando em como deve difícil para vocês, por ser um casamento por conveniência.
– Isso tem me tirado o sono – respiro fundo – seu primo não me parece ser o tipo de homem que admite fazer o que não quer, não tenho ideia de como isso vai funcionar. Mas, meu tio e ele já acertaram tudo, então, não há muito que eu possa opinar.
– Pode parecer estranho, mas Mike não é ruim como faz parecer, sabe – ela esboça um sorriso – e como marido também terá obrigações.
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