4 MESES DEPOIS
A nova consulta de Ester estava marcada para a tarde, e Katherine não teve escolha a não ser passar a manhã atordoada. Quando finalmente entrou na sala de exames, sentiu o peso de cada respiração pressionando suas costelas.
Ester já estava deitada na mesa de exames, com o avental hospitalar sobre a barriga crescente. Adônis sentou-se ao lado dela, com uma expressão indecifrável. O técnico de ultrassom preparou o aparelho, e o gel frio aplicado na barriga de Ester a fez estremecer levemente.
Katherine engoliu em seco, mantendo a voz firme.
— Você está pronta?
Ester assentiu, entrelaçando os dedos com os de Adônis. A visão quase tirou o ar dos pulmões de Katherine, mas ela continuou se movendo, continuando seu trabalho.
A sala ficou em silêncio enquanto a tela piscava, revelando o pequeno e vibrante batimento cardíaco do bebê. Ester soltou uma risada suave e emocionada, e Adônis expirou profundamente, com algo próximo ao alívio percorrendo seu rosto.
— Aí está o seu bebê. — disse Katherine, com a voz quase num sussurro. Ela apontou para o pequeno vulto na tela, o peito apertado por emoções que ela se recusava a nomear.
— Ele é lindo. — murmurou Ester, com os olhos brilhando.
As mãos de Katherine tremiam enquanto ela fazia as medições, com o pulso martelando. Ela deveria estar deitada naquela mesa. Ela deveria estar sentindo Adônis apertar sua mão, sussurrando sobre o futuro deles.
Mas não era ela. Nunca seria.
Ela forçou um sorriso forçado.
— Está tudo ótimo. — disse ela. — Coração batendo forte. Crescendo no caminho certo.
Ester se virou para Adônis e apertou sua mão.
— Estamos realmente fazendo isso. — sussurrou ela.
O jeito como a voz de Ester soava tão presunçosa e falsa fez Katherine querer dar um tapa para tirar o sorriso do rosto, mas ela estava no trabalho. Precisava ser profissional. Recusou-se a dar a Ester a satisfação de vê-la se desfazer.
Mas, no momento em que aquelas palavras saíram da boca de Ester, uma náusea percorreu o estômago de Katherine com violência. Sua visão ficou turva com lágrimas não derramadas, sua respiração ofegante. O mundo ao seu redor parecia estar se fechando, sufocando-a sob o peso insuportável da dor.
Seus dedos tremiam quando ela enfiou a mão no bolso do casaco e tirou o celular. Digitou algumas mensagens às pressas, uma para sua assistente, instruindo-a a cancelar ou reatribuir seus compromissos, com a desculpa esfarrapada de que estava se sentindo mal. Em instantes, respostas inundaram sua tela, mensagens de preocupação e votos de melhoras, mas nenhuma delas importava. Nenhuma delas conseguia romper a agonia entorpecente que a consumia.
Sem olhar novamente para Adônis ou Ester, Katherine se virou e saiu do hospital. Com a cabeça baixa, o rosto banhado em lágrimas silenciosas enquanto corria em direção ao estacionamento. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, seu corpo lutando contra a traição que a oprimia.
Quando chegou à cobertura, o lugar que dividira com Adônis, suas pernas mal conseguiam carregá-la. No momento em que entrou, a verdade a atingiu como um maremoto, e ela se jogou contra a porta, soluçando em suas mãos trêmulas.
Todos aqueles “eu te amo”.
— Kate! Kate! Você está em casa? — A voz de Adônis ecoou pelo apartamento, seguida pelo som de chaves tilintando. Um momento depois, a porta da frente se destrancou. Ela se enrijeceu. O que ele estava fazendo ali? Seu corpo se moveu por instinto, recuando para o quarto enquanto ela enxugava as lágrimas furiosamente. — Katherine! — Sua voz ecoou, destruindo seu mundo. Ela se virou quando ele entrou na sala, seu rosto cheio de frustração e algo indecifrável. — Não é o que você pensa. — Adônis começou, seu tom quase exasperado, como se a tristeza dela fosse um incômodo. — Kate... ela precisa de ajuda. É só isso.
Katherine soltou uma risada sem graça, balançando a cabeça.
— Ajuda? Você estava ajudando ela enquanto deveria estar comigo?
Ele passou a mão pelos cabelos, visivelmente agitado.
— Ela não tem mais ninguém, Kate! Ela só tem a mim. Eu não podia simplesmente abandoná-la.
— Besteira! — Katherine disparou, elevando a voz. — Você estava mentindo para mim! Se esgueirando com ela enquanto eu esperava por você como uma idiota! Eu te amava, Adônis! E você...
— Amava? — ele a interrompeu, os lábios se curvando num sorriso irônico que gelou suas veias. — Não seja tão dramática, Katherine.
As palavras foram como um tapa. Katherine prendeu a respiração, mas se recusou a ceder.
— Dramática? Você me traiu! Você jogou fora tudo o que construímos por uma... por uma atriz decadente que precisava de um homem para resolver seus problemas. Fala a verdade Adônis! Você... me traiu não é? — A voz de Kate falhou, rouca de descrença e fúria.
Adônis não disse nada. Mas seu rosto... Deus, seu rosto... o denunciou. A culpa estava lá, misturada a algo ainda mais feio. Justificativa. Defensividade. O tipo de arrependimento que não era por tê-la magoado, mas por ter sido pego.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Querido ex, obrigada pela traição