Henrique pediu o divórcio. Pelo costume, Luana sairia de casa por um tempo, mas logo voltaria, se esforçando ainda mais para agradar ele.
Nunca tinha sido diferente.
Dessa vez, seria igual.
Hoje ela saiu mais rápido, provavelmente porque perdeu o bebê.
Quanto ao filho...
O olhar de Henrique ficou carregado de desprezo. Luana nunca mereceu dar um filho a ele. Ter engravidado foi pura sorte.
Agora que perdeu, melhor ainda.
...
O divórcio vinha com uma indenização de cinquenta milhões.
O cartão bancário e o acordo de divórcio ficaram juntos, lado a lado.
Se Luana tivesse assinado três anos atrás, teria levado tudo sem esforço, sem perder nada.
Mas nesses três anos, além de perder todo o amor próprio, ela saiu prejudicada até na saúde.
Deixa pra lá.
Ficar pensando se se arrepende ou não só gera desgaste inútil, e de desgaste ela já está cheia. Vida é pra frente, não pra trás.
E, convenhamos, dinheiro é melhor do que nada.
Luana pegou o cartão, saiu de táxi no meio da madrugada e só parou na porta do Residencial Floris, zona 1.
Ali, o metro quadrado não saía por menos de trinta mil.
Apartamento amplo, andar alto, só dois por andar.
Uma das unidades estava no nome de Luana.
O imóvel era do seu tio. Desde que a mãe dela morreu, o tio foi morar fora do país e deixou o apartamento pra ela.
Luana achava que nunca ia usar. Mas a vida muda rápido. Agora, divorciada, pelo menos tinha pra onde ir. Não podia reclamar.
Bloco 7, cobertura, apê 1.
Luana entrou arrastando a mala.
De tarde, já tinha combinado com a faxineira pra limpar tudo. O lugar estava impecável, mas quase trezentos metros quadrados davam um vazio absurdo.
Antigamente, morar sozinha num espaço desses seria frio demais pra ela.
Mas depois de aguentar três anos da frieza de Henrique, qualquer coisa era melhor. No fundo, sentiu uma paz que nunca tinha sentido antes.
Luana se permitiu relaxar. O cansaço era tanto que mal terminou de se lavar e já caiu na cama.
“Trim—”
Seis da manhã, foi acordada pelo toque do alarme.
O nome do alarme: Preparar café da manhã pro marido.
Na hora, Luana despertou.
Henrique costumava tomar café às oito, mas era exigente, não aceitava nada simples. O café da manhã levava uma ou duas horas pra ser feito.
Se na noite anterior ele tivesse saído para algum compromisso, Luana ainda esperava ele dormir e só conseguia deitar por volta das duas ou três da manhã. Mesmo assim, no dia seguinte, ela acordava cedo para preparar o café.
Muitas vezes, ele nem tocava na comida. Tudo que ela preparava ia direto pro lixo.
Mas agora, não precisava mais levantar cedo.
Nem se preocupar se todo o esforço seria jogado fora.
Luana apagou o alarme, colocou a máscara de dormir e voltou pra cama.
Achava que o sono não viria.
Mas dormiu rapidinho, sem esforço nenhum.
……
Oito da manhã, Henrique acordou com uma dor de cabeça insuportável.
Ele sempre ficava assim quando bebia e não tomava remédio pra ressaca. Ontem, de tão cansado, esqueceu até da sopa que Luana tinha preparado.
Que droga.
Mesmo assim, encontrou um copo de água quente no criado-mudo.
Henrique riu, de canto de boca.
Saiu com toda aquela pressa, mas não voltou do mesmo jeito?
Bebeu a água, a dor de cabeça passou um pouco. Pegou o celular e mandou uma mensagem para Lucas:
“Ganhei a aposta.”
Lucas respondeu, meio puto e meio rendido:
“Luana nunca consegue ser dura com você, né? Quanto mais você pisa, mais ela abaixa a cabeça!”
Logo depois, ele soltou:
“Porra, perdi feio dessa vez! Au au au!”
“Caralho, fico mais irritado quanto mais penso! Henrique, me apresenta uma mulher que me ame do jeito que Luana te ama! Só um pouquinho da sua sorte já tava bom demais!”
Henrique retrucou:
“Para de drama.”
Jogou o celular de lado e foi se arrumar.
Desceu, mas não viu a silhueta familiar e atarefada de sempre.
— Cadê ela? — Chamou, frio.
Rosa saiu da cozinha com o café:
— O senhor acordou? O café da manhã já está pronto!
Henrique franziu a testa:
— Por que é você?
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