Só Teu! Volume II da Trilogia Doce Desejo. romance Capítulo 40

Apesar do trânsito, Alexander chegou logo ao hospital. Enquanto o elevador subia até o andar da maternidade, ele fechou os olhos e começou a pensar em tudo o que aconteceu nos últimos meses. Se culpava por deixar Nicole sozinha com aquela mulher. Levantou os óculos e enxugou a lágrima no canto do olho com a palma da mão. A porta do elevador abriu no segundo andar, o rosto quadrado franziu logo que o doutor Kim entrou.

― Você está bem? ― Os olhos pequenos de David avaliaram Alexander.

― Eu pareço estar bem? ― Tencionou o canto da boca.

― Não! É que...

― Então, não faça perguntas idiotas! ― A voz grossa interrompeu.

Ambos saíram no andar da maternidade e caminharam às pressas pelos corredores em tons terrosos. No desespero, Alexander abriu a porta do local onde a equipe médica conversava com Jenny sobre a situação de uma das pacientes.

― Por que vocês ainda estão aqui? ― O barítono saiu num tom gutural.

― Alexander, se acalme!

― Onde está a Nicky?

― Ela estava com fortes contrações eu apliquei a peridural. Ela quebrou o braço no acidente, o ortopedista já avaliou e engessou.

Jenny tocou-lhe a mão, mas ele puxou. Precisava lutar contra os pensamentos negativos e o desespero. Ele foi até a janela e abriu as cortinas, as gotas da chuva batiam com força contra o vidro da janela.

― O que vocês estão esperando? ― Aumentou a voz. Mirou a equipe médica. ― Façam o trabalho de vocês. Vão! ― Apontou para a porta.

David pediu que os outros médicos se retirassem e ficou na sala com Jenny para confortar Alexander.

― Eu sei que você está nervoso, mas você precisa ficar calmo.

― O que você disse? ― Alexander foi até David e se aprumou.

Jenny correu, se meteu na frente de Alexander e o afastou antes que ele atacasse o primo.

― Chega! ― berrou a voz adenoide. A obstetra passou a mão nos fios lisos e tão escuros quanto o petróleo. ― Não temos tempo para isso!

― O que ele faz aqui, Jenny? ― Alexander fuzilou o doutor Kim com o olhar.

― David é o melhor pediatra do São Miguel, então é melhor você engolir sua raiva porque eu preciso que ele avalie a Jullie assim que ela nascer.

― Eu quero ver a minha mulher!

― Então vá se preparar. ― Diminuiu o tom da voz. ― O útero dela já está alargando, Nicky já está com cinco centímetros de dilatação.

Enquanto a equipe médica fazia assepsia, Alexander seguiu até a mulher que dormia serenamente sobre a cama. Um nó se formou na garganta ao pensar nos dias em que ela esteve em coma depois do parto dos gêmeos. Passou os dedos na pele com uma mancha roxa na altura da maçã do rosto e beijou com delicadeza.

― Eu estou aqui, meu anjo! ― sussurrou. ― Estou aqui! ― A mão comprida acarinhou a barriga.

Os olhos amendoados abriam bem devagar conforme tentava se acostumar com a luz suave que iluminava o seu rosto.

― Desculpa! ― pediu a voz arrastada. ― Eu devia ter esperado.

― Não, meu amor! ― Beijou-lhe a testa. ― Não tem nada para desculpar.

― Não era para Jullie nascer agora ― a voz falhou.

― Claro que era! ― Afastou-lhe o cabelo do rosto. ― Aquelas cólicas que você sentiu durante a semana, eram sinal de que a Jullie está chegando. Daqui a pouco a nossa filha estará aqui.

Nicole se contorceu ao sentir uma dor forte na altura dos quadris, apertou a mão de Alexander e gritou.

― Jenny! 

A obstetra correu até a parte coberta por um lençol azul e levantou o tecido. Tocou as partes que se alargavam por entre as pernas de Nicole.

― Está quase na hora! ― Olhou para Alexander.

Um sorriso de alegria atravessou o rosto, era a primeira vez que ele veria um de seus filhos chegar ao mundo. O coração acelerou ao ver Nicole gritar.

― Ela precisa de mais anestesia.

― Claro que não!

Jenny meneou a cabeça para a técnica de enfermagem que organizava a sala. David e o médico auxiliar adentraram o centro obstétrico.

― É agora! ― Piscou para Alexander.

A equipe já estava pronta para dar apoio e se emocionar com a chegada de Jullie. O obstetra auxiliar ajudava Jenny. Entre os gritos de dores intensas e as respirações apressadas, Alexander vivenciava com a esposa o grande momento.

― Nicky, você precisa empurrar quando sentir a dor! ― Jenny falou e arqueou a sobrancelha ao olhar para o outro médico.

― Está doendo muito! ― reclamou a voz chorosa ao fitar o marido. ― Não consigo!

― Claro que você consegue, amor! ― Apoiou-lhe a mão às costas quando Nicole gritou. ― Empurra!

Alexander viu quando Jenny balançou a cabeça para David e o obstetra auxiliar. A troca de olhares o afligiu.

― O que está acontecendo? ― Questionou a voz rouca.

Jenny ficou quieta e foi até o canto da sala onde conversou com o anestesista.

― Eu quero saber o que está acontecendo? ― Alexander insistiu na pergunta ao se aproximar.

― Jullie está tentando sair, mas o cordão umbilical está enrolado no pescoço.

― E vocês não viram isso na ultrassonografia? ― indagou entre dentes.

― Os bebês se mexem, você sabia?

― Façam alguma coisa! ― ordenou a voz máscula.

― Alexander, você precisa se acalmar ou vou pedir para você sair.

Ele pensou com cautela e respirou fundo ao ouvir Nicole bradar com outra contração. Fechou os olhos, tentou lidar com as emoções que guerreavam em sua mente.

― Eu vou conversar com a Nicky ― falou em voz baixa. ― Façam o necessário para ajudar a minha mulher e salvar a minha filha. Eu confio no trabalho de vocês.

No fundo, ele tinha a noção de que não seria fácil, após explicar a Nicole o que deveria ser feito, ele ficou perto da esposa enquanto um dos médicos inseriu a agulha no espaço posterior ao líquor, antes da medula óssea.

― Não se mexa, meu anjo! ― A voz aveludada do pai aflito tentou acalmá-la.

Gradualmente o líquido da anestesia raquidiana começava a fazer efeito. Nicole sentiu-se um pouco aérea, deu um suspiro com o alívio.

― Fica comigo ― pediu a voz embargada.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Só Teu! Volume II da Trilogia Doce Desejo.