Faltavam duas semanas para o parto, Nicole organizou os últimos detalhes na decoração do quarto de Jullie. O branco dava amplitude e o tom rosa bem claro no mosquiteiro e no protetor de berço traziam vivacidade ao quarto infantil. Ela colocou o urso de pelúcia amarelo na poltrona de amamentação e ajeitou a almofada.
― Tudo pronto para você, filha! ― falou ao olhar para a barriga. ― Se bem que ainda tenho que comprar mais fraldas e uma roupa para a sua saída do hospital.
Nicole ajeitou a almofada no berço e recuou ao ver Joanna parada na porta.
― Que susto, tia! ― Encostou a mão no peito. ― Não sabia que estava aí.
Joanna entrou no quarto em passos lentos. Fez um muxoxo enquanto observava o espaço amplo.
― O que achou, tia?
― Ficou bom! ― murmurou.
Em certo momento, Nicole apoiou a mão nas costas e se ajeitou na poltrona branca logo depois que sentiu uma leve cólica. Nas últimas semanas, Jenny explicou que aquelas leves dores eram normais, já que a bebê estava encaixada e nos próximos dias as contrações ficariam mais fortes.
― Quanto tempo você acredita que esse conto de fadas vai durar? ― Joanna fitou a sobrinha. ― Será que realmente existe esse "Felizes para sempre"? ― Fez sinal de aspas com os dedos.
Nicole interrompeu os pensamentos para responder à tia.
― Não entendi aonde a senhora quer chegar!
― Sua mãe confiava tanto no seu pai e olha no que deu.
Nicole ergueu o olhar, se remexeu na poltrona ao sentir uma pontada.
― Joanna, pare de perturbar a minha esposa! ― disse a voz rouca do homem parado à porta. ― Você só continua nesta casa porque a Nicky me convenceu que você ajudaria a cuidar dos nossos filhos durante o resguardo.
Alexander apressou-se até a mulher que ajeitava o moletom rosa com a estampa de ursinho de pelúcia na barriga. Colocou-se de joelhos perto dela.
― Você está bem, meu anjo? ― Perscrutou Nicole.
― Sim, foi só um mal-estar! ― Os lábios se esticaram em uma linha fina. ― Jullie está muito ansiosa, mas eu já falei que ela tem de esperar mais um pouco. ― Acariciou a barriga.
A fisionomia sisuda se desfez no rosto másculo, Alexander achava graça na forma como Nicole conversava com a barriga.
― O que você achou da decoração? ― indagou Nicole.
― Ficou ótima! ― Segurou-lhe a mão e ajudou-a a se levantar.
Nicole pousou a mão nas ancas largas enquanto mostrava cada detalhe ao marido. Aconchegou-se aos braços do homem comprido, o rosto batia na altura dos ombros de Alexander.
― Eu vou ao shopping comprar um protetor de berço e mais algumas roupas e fraldas para Jullie.
― Preciso levar as crianças na loja de quadrinhos e depois vou à casa dos meus pais. ― Sorriu quando ela mordiscou o queixo. ― Não faça isso! ― Olhou de soslaio para Joanna que mexia na cortina rosa do quarto. ― Você quer uma carona?
― Pode ir! Vou mais tarde com a tia Joanna.
― Não! ― Negou a voz rouca abruptamente.
Ela fitou o marido sem compreender, odiava quando ele não a deixava sair. Desde o sequestro, Alexander mantinha Nicole por perto e não permitia que ela saísse sozinha ou na companhia de Joanna. Ainda não confiava naquela mulher.
― Por que não?
― Você sabe que tem um monte de repórteres e fotógrafos se esgueirando por aí procurando notícias desde o evento beneficente. Agora que a imprensa descobriu tudo sobre o sequestro, não tenho um dia de paz.
Nicole o afastou com as mãos e andou pelo carpete rosa até a porta.
― Nicky, falta pouco para nossa filha nascer! ― A voz dele suavizou. ― Não vamos brigar, meu amor! ― Colou os lábios na testa dela em um beijo carinhoso. ― Logo isso tudo vai passar e todos vão esquecer. Só quero cuidar de você e proteger a nossa família.
Joanna ajeitou o abajur branco clássico com a base torneada sobre o gaveteiro. Tencionou os lábios e revirou os olhos logo que eles se beijaram. Estava farta de ver aqueles dois fingindo que tudo ficaria bem.
O tecido do casaco preto acompanhou os músculos de Alexander, ele se afastou de Nicole e escondeu o volume que se formava no jeans azul.
― Nós podemos conversar no nosso quarto. ― Esboçou um sorriso maroto.
― Não! ― Ela se esquivou ao ver que a tia olhava. ― Mais tarde, falamos sobre isso. ― Disfarçou. ― Eu vou pegar minha bolsa e aproveitar a carona até o shopping.
No final de abril, o outono era marcado pela mudança do tempo úmido para mais seco na cidade do Rio de Janeiro. A transição entre o verão e o inverno tornava o clima agradável.
Naquele dia não havia congestionamentos pelas ruas, Alexander dirigiu tranquilamente pela avenida molhada por uma chuva fina. Após estacionar, ele acompanhou a esposa em algumas das lojas e fingia paciência enquanto jogava no celular com os gêmeos.
Ajeitou os óculos ao ver que Joanna dava muitos palpites sobre as melhores fraldas no quesito absorção. Não gostava da forma como a tia de Nicole tratava as vendedoras. Por vezes, ele erguia a cabeça e concordava quando a esposa mostrava alguma peça de roupa de bebê ou quando ela experimentava um vestido diferente.
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