Uma Escrava Para Os Reis romance Capítulo 2

A coisa POV

“Vai ser o melhor evento de todos!” Jasmine falou. “Nem acredito que nossa matilha vai sediar um evento desses!”

“A gente merece! Com certeza! Olha o tanto que os guerreiros fizeram e também nossa Alpha é maravilhoso!” Rebeca também estava animada.

“Sim, nossa! Você tem toda razão!” Jasmine concordou.

“Meninas!” A voz da senhora Smith ecoou mais severa. “Sei que essa notícia é muito boa, mas precisamos terminar de entregar o jantar para os guerreiros e o resto da casa!”

A conversa então diminuiu e só tinha alguns cochichos, a quantidade de louça voltou a aumentar.

Simplesmente comecei a vagar dentro de minha própria mente, afinal de contas meu trabalho é bem manual e repetitivo, então não preciso realmente prestar atenção, não quando estou sozinha deste lado e até agora não brigaram comigo, pedindo para que eu fosse mais rápida.

As pessoas ficam animadas em relação a destinados, companheiros… Isso é algo que não é para mim, eu sei disso deste que me entendo por gente, porque sempre me falaram isso… É simples, um escravo não tem direitos… Se por ventura eu tiver algum companheiro destinado, então é pura sorte e 99% dos casos a outra pessoa rejeita o escravo…

A vida do escravo não muda… Ela só muda se o companheiro destinado quiser ficar com ele e ainda assim precisa pagar por isso.

Não é como se existissem muitos escravos, esta “honraria” era apenas para aqueles considerados traidores ou pessoas que cometeram atos horrendos, no meu caso eu simplesmente não sei… Talvez minha familia tenha sido de traidores, talvez minha família seja de torturadores, de pessoas que cometeram erros contra o Rei… Vai saber e é por isso que eu não tenho nome.

Um escravo não precisa de nome, um escravo só precisa fazer o próprio trabalho e continuar assim… Fiquei sabendo de lugares e matilhas que escravos podem comprar a própria liberdade, mas é muito raro…

Eu sequer posso dizer que esses boatos são verdadeiros ou não, porque eu só escuto pequenas conversas, nunca tive um treinamento correto… Sei ler apenas o básico, para identificar os produtos de limpeza e também não trocar as coisas enquanto estou guardando os objetos.

Eu nem sei dizer se ainda lembro como falar, já que parei de fazer isso há alguns anos, minha forma de me defender, alguns dizem que eu ainda sou orgulhosa, por não gritar… Mas acho que agora eles acham que eu sou muda…

Eu deveria rezar para tentar entender o que se passa comigo, como a minha pode ser assim quando existem Deuses? Ouvi falar de Selene, a Deusa da Lua e quem governa os lobisomens… Mas para mim é só uma decoração que vejo por ai, não representa nada para mim.

Se eu tenho raiva? Já deixei isso para trás, esse sentimento… Ter raiva do que? Para que? Vai mudar alguma coisa? Não, então para que sentir isso? Só para eu mesma me torturar… Não é só porque eu me acostumei com dor que eu goste dela… Quem é que gosta de apanhar todo dia? Quem é que gosta de ter que trabalhar com o corpo sangrando? Quem é que gosta de sentir o estômago revirar e não poder comer nada?

“Coisa! Presta atenção!” Escutei o grito da senhora Smith e logo depois o impacto de uma cintada em meu braço esquerdo.

Ergui o olhar e vi a sombra da mulher e seu cheiro agora estava mais forte.

“Agora que terminou aqui, vai lá varrer e deixar brilhando a dozinha!” A senhorita Smith falou.

Apenas concordei com a cabeça e fui em direção a porta que dava acesso a cozinha, o cheiro da comida ainda era bem intenso, mas sequer pensei em pegar algo para mim, não quando ainda tinha gente por ali.

Como sempre, vários ômegas que estavam ali logo saíram rapidamente quando me viram, como se eu fosse algum tipo de praga… Comecei da parte da mesa, retirando ainda as coisas que faltava lavar e colocando na pia que tinha mais do lado, eram itens mais delicados e por isso não ia no buraco em que eu lavava normalmente.

Quando terminei de limpar a cozinha já é de madrugada, como eu sei? Ao olhar pela janela posso ver a lua brilhante já fazendo o arco final, desta vez não consegui separar nenhum pedaço para comer…

Por isso me arrastei até o lugar em durmo, fica embaixo, no subsolo, debaixo da cozinha, desço dois lances de degraus e abri a porta do lugar que durmo, é um retângulo sem nada, com um colchão sujo, um cobertor fino e algumas peças de roupas dobradas.

Deitei no colchão, que era melhor que deitar no chão de pedra gelado, fechei os olhos e comecei a sentir o desespero começar a tomar conta. Não tenho lágrimas nos olhos, mas esse sentimento de ser esquecida é pior de noite, ela aumenta muito quando eu tenho que dormir, porque simplesmente minha mente me força a ter “sonhos” que nunca vão se realizar… De uma vida que nunca será minha.

Muitos agradeceram de ter algum lugar para escapar, mas eu só me desespero mais, porque nesses sonhos eu sou livre e não preciso me preocupar com as coisas, inclusive tenho outros que me defendem…

O que é pior para um escravo do que sonhar com uma liberdade que nunca vai ter? Meu coração se aperta e esse desespero aumenta mais, eu não quero dormir, não quero ir para aquele maldito lugar… Porque acordar doi mais.

Dói saber que eu sequer consigo morrer… Se eu morresse teria uma segunda chance? Teria uma vida diferente? Ahh… Isso, isso é o pior…

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