Virgindade Leiloada romance Capítulo 16

Virgínia

Na segunda-feira de manhã cedo, eu já estava em posse de um teste de gravidez e poderia comprovar se eu estava realmente grávida ou se aquilo era apenas o resultado de todas as mudanças que aconteceram na minha vida nos últimos tempos que acabou por interferir em meu ciclo.

Mas eu não tive essa “sorte” e o teste deu positivo e eu fiquei por bastante tempo olhando para o objeto em minhas mãos, pensando sobre tudo o que iria mudar em minha vida a partir daquele momento.

— Não vai tomar café, filha? — Ouvi minha mãe falando do outro lado da porta do meu quarto, que estava fechada, como dificilmente acontecia.

— Estou apenas terminando de me arrumar e já saio, mãe! — Falei alto o suficiente para ela ouvir, tentando manter a minha voz em seu tom normal.

— Vamos esperar por você, então.

Deduzi que minha mãe havia saído e entrei em desespero. Aquele não era o momento para uma gravidez! Eu tinha tantos planos, queria estudar, fazer da minha loja um sucesso absoluto e tantas outras coisas que eu estava planejando.

Como eu conseguiria tomar café da manhã tranquilamente com os meus pais, como se nada houvesse acontecido? Meu pai era um homem à moda antiga, que jamais me perdoaria se eu simplesmente aparecesse em casa grávida, sem nunca ter apresentado um namorado.

Eu nem mesmo costumava sair para festas, para eles presumirem que eu era como essas garotas que sempre estavam “ficando” com alguém. Eu não estava preparada para o que estava por vir e não tinha a mínima ideia de pôr onde começar.

Fiquei remoendo esses pensamentos e com muita dificuldade saí do meu quarto e me juntei ao senhor Francisco, meu pai e a dona Julieta, a mamãe. Eles eram pessoas maravilhosas, trabalhadoras e esforçadas.

Fizeram o seu melhor para me criar da melhor forma que conseguiram e se não tive as melhores escolas, ou até mesmo pequenas coisas como uma bicicleta mais cara ou o celular mais moderno, eles fizeram tudo o que podiam e sempre me deram bastante amor.

Não era justo com os meus pais que agora eu retribuísse com mentiras, pois já bastava esconder o que eu havia feito para levantar o dinheiro para a minha loja de maneira tão repentina.

— Estou grávida. — Eu disse logo de uma vez, quando sentei na mesa para tomar café da manhã.

Meus pais me olharam como se eu houvesse acabado de soltar uma bomba, o que de fato eu fiz, e não tinha como deduzir o que eles estavam pensando apenas por suas expressões de completo horror.

— Mas, como isso foi acontecer, filha? — A minha mãe foi a primeira a se recuperar do susto e tremia ao fazer a pergunta. — Eu sei como acontece… eu quero saber como você deixou acontecer uma gravidez, nos dias atuais, que vocês jovens são tão informados sobre tudo.

Minha mãe estava tão nervosa que falou tudo enrolado, mas eu compreendi o que ela queria dizer e até mesmo concordava com a sua colocação.

— Eu fiz o que devia ser feito para evitar, mamãe. Mas aconteceu.

Usei as mesmas palavras que ela, pois sexo era um assunto tabu na minha casa e nunca falamos sobre isso, nem mesmo entre a mamãe e eu. Tudo o que aprendi sobre o assunto foi na escola ou nos livros e através da internet, pois orientação sexual não foi uma coisa que os meus pais buscaram me ensinar.

— Pai? — Precisei chamar pelo meu pai, pois o senhor Francisco pareceu estar em estado de choque, apenas olhando para nós de maneira vazia.

— Eu estou… — Ele pareceu procurar a palavra e temi que ele dissesse algo que não pudesse mais ser desfeito.

Eu sabia que aquilo não era para acontecer e que não era o momento. Não porque eu não estivesse casada ou qualquer coisa do tipo. Mas eu acreditava que crianças devem ter os pais consigo, mesmo que eles não estivessem juntos, em um relacionamento.

Contudo, não dependia da mãe, no final das contas. Às vezes, o homem simplesmente não deseja assumir aquele papel e só nos cabe tentar suprir aquela ausência e fazer os dois papéis, tanto de mãe como o de pai.

Eu estava me preparando exatamente para aquilo, pois não tinha a mínima ideia de quem era Murilo Fernandes e do que ele iria achar sobre ter um filho. Ele poderia até mesmo duvidar de que a criança seja dele, tendo em vista como nos conhecemos e o motivo pelo qual acabamos tendo uma noite de sexo.

Olhei para o meu pai, que por longos minutos ficou apenas me olhando, pensativo e eu aguardei em expectativa o que ele diria e o que veio de sua boca doeu muito.

— Decepcionado. Estou decepcionado com você.

— Francisco! — Minha mãe tentou o repreender.

— Desculpa, mulher. Mas é isso que estou sentindo e não posso controlar o que estou sentindo.

Ficamos todos novamente em silêncio, não um silêncio tranquilo, mas sim conturbado e cheio de palavras não ditas, mas era melhor assim. Quando se estava com as emoções à flor da pele, muitas vezes coisas eram ditas e causavam grandes estragos.

— Eu vou para a loja.

Levantei, sem nem mesmo ter comigo nada, pois não conseguia. Fui até o meu quarto, peguei a bolsa com o notebook e saí, esquecendo até mesmo de pegar o celular e saí.

Quem sabe, quando eu voltasse para casa, tudo estaria mais calmo e nós poderíamos conversar com mais tranquilidade, depois que todos tivessem conseguido analisar melhor a situação.

Murilo

Se eu fosse fazer o que realmente desejava, eu não teria esperado até a noite para ver a Virgínia, mas a vida adulta havia me ensinado há bastante tempo que as coisas não são como desejamos e que não temos controle algum sobre as vontades das outras pessoas.

Prova disso era o fato de eu estar ainda solteiro e sem filhos, mesmo tendo desejado casar e os ter, quando ainda namorava a Bruna, mas durante todo o tempo em que namoramos, ela sempre dizia para termos calma, que éramos ainda muito jovens e tínhamos todo o tempo do mundo pela frente.

Ela estava certa, no final das contas. O tempo do mundo todo, um longe do outro e ela muito feliz com a pessoa que ela realmente escolheu e pensar que ainda esta semana eu estaria cara a cara com ela, e que possivelmente seria obrigado a ver os dois juntos e felizes, me dava náuseas.

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