Virgindade Leiloada romance Capítulo 58

Mariana

Quando a mãe da minha melhor amiga me ligou, parecendo quase em desespero em busca de notícias da filha, tudo o que eu senti foi alegria, ao ver que enfim os pais da Virgínia tinham entendido que nada era mais importante que a família.

Não importava se ela estava grávida, se o pai do bebê estava com ela ou não, desde que todos estivessem unidos, as demais coisas seriam enfrentadas.

Então, mesmo não querendo sair da cama, eu me enchi de força de vontade e pedi para que eles me encontrassem em frente ao meu prédio, que nós iríamos juntos ao local onde a Virgínia estava morando agora.

— Eu imaginei que a nossa filha ainda estivesse em casa, mulher. — seu Francisco disse, em um tom claramente descontente. — Ela não precisava estar morando na casa desse riquinho metido a besta.

Desde que entramos no táxi, o pai da Virgínia não parou de reclamar de tudo, simplesmente tudo o que a filha fez desde que engravidou e a sua última frase fez com que eu chegasse ao meu limite, que era bem curto, na verdade.

— Esse riquinho metido a besta é o pai do filho dela, seu Francisco. E, principalmente, é o homem que a sua filha ama. — eu disse, deixando clara a minha irritação. — E se o senhor pretende falar esse tipo de coisa quando chegar em frente a Virgínia, eu vou pedir que o táxi faça o retorno, pois não é disso que ela está precisando neste momento!

Percebi que tinha até mesmo contido a respiração ao dizer tudo aquilo e suspirei pesadamente ao terminar de falar todas aquelas verdades. A Virgínia que me desculpasse, mas eu não deixaria que nada de ruim chegasse a ela, mesmo que esse “ruim” fosse o seu próprio pai.

Depois do meu ultimato, fez-se um silêncio mortal dentro do carro, e apenas alguns minutos depois, seu Francisco voltou a se pronunciar, dessa vez em um tom de moderação bem mais apropriado para o momento.

— Pensei que houvesse dito que a minha filha estava bem e quem caiu da escada tinha sido a outra lá. — ele teve o desplante de dizer.

Antes que eu pudesse rebater seu novo comentário, dito dessa vez em um tom ameno, porém tão insultante quanto o anterior, dona Beth o encarou com um semblante carregado de raiva, e entendi que ela também já estava em seu limite.

— A amiga da nossa filha está certa, Francisco. — ela apontou. — Não é porque a Virgínia não caiu de uma escada, que ela não precisa de sossego. Se você pretende seguir com essas coisas desagradáveis, então eu prefiro ir sozinha com a Mariana.

— Está dizendo que se eu não quiser mais ir onde está a nossa filha, você irá mesmo assim? — ele perguntou, bastante espantado com a atitude incomum da sua esposa.

— Eu estou dizendo que ficarei ao lado da Virgínia a partir de agora e você pode fazer o que quiser, inclusive voltar para Atibaia sozinho. — ela deu o ultimato.

Eu me senti particularmente feliz por enfim a mãe da Virgínia estar tomando uma atitude levada por sua vontade e não para atender os desejos do marido. Era aquela história: antes tarde, do que mais tarde.

— Eu vou com vocês. — seu Francisco decidiu. — A Virgínia também é minha filha e eu me importo com ela e também com o meu neto.

Quase bati palmas ao ouvir as suas palavras, mas consegui me conter, afinal, iria parecer uma afronta, tendo em vista a mente arcaica do pai da Virgínia e eu preferi não arriscar, comemorando só internamente mesmo.

Chegamos ao prédio onde a Virgínia estava morando com o Murilo apenas alguns minutos depois e conseguimos subir logo após o porteiro confirmar com o Murilo sobre a nossa presença.

E quando vi a cara da Virgínia ao se deparar com os pais na sala de estar do apartamento, me senti tão feliz quanto ela certamente estava, pois eu sabia o quanto a família era algo importante para a minha amiga.

O Murilo me chamou para segui-lo até a cozinha e preparou um café para todos, que eu levei até a sala, mas não permaneci lá, pois deduzi que eles precisavam de privacidade para conversarem melhor.

Quando retornei à cozinha, o Murilo parecia estar à minha espera e rapidamente eu consegui imaginar a razão disso, apenas em olhar para a expressão interrogativa em seu rosto.

— Pergunta logo de uma vez o que você quer saber. — eu falei, sorrindo mesmo assim.

— Quero entender o que te levou a voltar para São Paulo com o idiota do Constantino, Mariana. — ele perguntou, parecendo não muito satisfeito. — Porque de uma coisa eu tenho certeza, você não aceitaria essa carona assim, do nada.

O Murilo era bastante perspicaz e eu o admirei por ter percebido algo que ninguém mais pareceu ter se dado conta, nem mesmo a Virgínia, que era a minha amiga de anos.

— E não pense em mentir para mim, pois eu até entendo você querer esconder da Virgínia, porque ela está grávida e depois do que aconteceu ontem, também um pouco abalada. — ele se antecipou. — Mas a mim você não engana, nem muito menos o Constantino, fingindo que é uma boa pessoa.

— Bem… já que você foi tão delicado e convincente, vou te falar o que está acontecendo.

— Sim… estou esperando.

Murilo se encostou ao balcão próximo a pia de louças e cruzou os braços em uma posição indolente, como se estivesse pronto para ouvir uma longa história e eu não iria decepcioná-lo.

— O Ethan está me chantageando. — falei a queima roupa.

— Isso eu já imaginava, Mariana. — O Murilo mais uma vez me surpreende positivamente. — O que eu quero realmente saber é o que ele está esperando conseguir, ao incluí-la nessa obsessão maluca que ele tem por mim.

Suspirei resignada, ao entender que eu realmente não conseguiria omitir nenhum detalhe sobre o que eu agora sabia, mesmo que o momento não fosse o melhor, no que dizia respeito aos meus amigos.

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