A Babá romance Capítulo 17

David Monteiro

- Preciso saber de mais alguma coisa? – ela me pergunta.

- Não, na verdade eu que queria te perguntar uma outra coisa.

- Pode perguntar.

- Você conhece a minha família de algum lugar? - a encaro para ver a sua reação ao dar a resposta.

Sinto que se ela fosse mentir eu conseguiria notar pela sua reação. Manuella demonstra ser uma pessoa bem transparente.

- Não, não que eu saiba pelo menos. As únicas pessoas que eu conheço que têm a pequena possibilidade de ter conhecido são meus pais - diz calma.

- Por quê? - me ajeito na cadeira colocando os braços apoiados na mesa.

- Meus pais eram pessoas do mundo de negócios, assim como acredito que seus pais sejam e como você é. Eu nunca me interessei pelo que faziam, inclusive me formei em uma área totalmente diferente, por isso não me lembro da sua família. Eu acredito que meu pai possa ter tido contato com a sua família por um contrato ou pode nunca ter acontecido.

- A reação de minha mãe foi bem esquisita ao te ver...

- Eu juro que nuca a vi antes – ela diz se explicando.

- Você já se mostrou uma pessoa muito honesta para mim, eu acredito no que diz.

- Se precisar que eu prove alguma coisa, estou a disposição.

- Não será preciso, acredito em você – digo e encarando e a vejo ficar mais relaxada ainda.

- Eu vou arrumar as coisas de Hannah, licença – ela diz levantando e saindo.

Por algum motivo eu acredito nela e confio nela até demais. Não quero afastá-la daqui de casa e nem de Hannah. Manuella aos poucos está se tornando uma pessoa importante, não só pra Hannah, mas também pra mim.

Saio do meu transe quando escuto baterem na porta.

- Entre! – digo e Dona Maria entra – Bom dia Maria!

- Bom dia menino, a Dona Fátima acabou de chegar com Hannah e está te esperando lá na sala.

- Diga que já estou indo – falou e a vejo se direcionar para sair, mas antes que pudesse eu a chamo – Maria.

- Oi.

- Você acha que eu deveria confiar em Manuella?

- Ela não fez nada de errado meu menino, muito pelo contrário, ela está se mostrando uma ótima pessoa, principalmente pra Hannah. Desde que ela começou a trabalhar aqui, não há um dia que a pequenina não está feliz e radiante pela casa - Maria diz e sorri.

- Sério? - a olho franzindo as sobrancelhas.

- Sim, parecem literalmente mãe e filha. Algumas pessoas até me falam que elas são a cara uma da outra.

- Isso já não é exagero?

- Olha, vou falar sinceramente pra o senhor. Eu sei que muita coisa já aconteceu com o senhor e a sua maior vontade sempre foi proteger Hannah. Mas se permita deixar, por um momento que seja, de olhar para Manuella como apenas uma empregada por um segundo, logo vai ver que elas realmente se parecem. Eu mesma já falei isso para ela, mas ela teve essa mesma reação que o senhor.

- Mas é impossível Maria, a mãe de Hannah a abandonou aqui. Seria muita coincidência ser Manuella.

- A vida nos prega peças que são curiosas meu menino, não temos como prever nada antes que aconteça. E eu acho, por algum motivo misterioso, que o senhor não ficaria tão triste se Manuella fosse realmente a mãe de Hannah - ela diz sorrindo.

- Mas é comum vermos semelhanças entre pessoas aleatórias. Deve ser isso que você está enxergando.

- Será mesmo?

- Você está vendo coisa onde não tem Maria – digo rindo do que ela fala.

- Será que estou mesmo? – ela diz e sai.

O que ela disse mexeu um pouco comigo e eu me percebo parado pensando na possibilidade de Manuella ser a mãe de Hannah. O que aconteceria? Como Hannah reagiria? Como seria a minha relação com ela?

Resolvo ignorar tudo isso, deve ser só coisa da cabeça de Dona Maria.Desço para a sala e encontro minha mãe sentada no sofá mexendo no celular.

- Mãe? Queria falar comigo? - vou em sua direção e me sento ao seu lado.

- Queria sim, eu queria falar que eu refleti muito sobre a nossa última conversa e Hannah me ajudou bastante a esclarecer algumas coisas.

- Hannah? Como assim?

- Eu estava preocupada como a presença de Manuella aqui...

- Que eu não entendo o porquê.

- Mas eu percebi que ela está fazendo mais bem do que imaginava.

- Mãe, não estou entendendo onde quer chegar com isso.

- Eu resolvi dar uma chance a ela David. Se você confia nela e se ela é isso tudo que Hannah me diz, vocês estariam perdendo se ela saísse daqui.

- Mãe, você não é de mudar a sua cabeça sobre as coisas assim tão fácil. Isso está muito estranho, ainda mais porque foi uma criança de três anos que "te convenceu" a mudar de opinião. Dá pra me falar a verdade sobre esse assunto? -a olho estranho.

Eu conheço a dona Fátima e digo logo que : AÍ TEM!

- Não tem nada de mais David, eu só resolvi dar um voto de confiança. Só isso.

- Estranho pra uma pessoa que sempre foi tão firme nas opiniões e que sempre fez questão de fazer as coisas acontecerem do seu jeito.

- É bom mudar às vezes, mas...

- Eu sabia que não era só isso - ela respira fundo fechando os olhos.

- Por favor David, não se envolva com ela, só te peço isso.

- Eu acho que já sou bem grandinho pra poder escolher quem eu vou me envolver ou não, não acha?

- Ela pode até ser uma pessoa boa David, mas não é a pessoa certa para você.

- E quem é a pessoa certa afinal? Emilly?! Mãe, todas as pessoas com quem me envolvi você encontrou um defeito. Em todos os meus relacionamentos você disse a mesma coisa: "Ela não é a pessoa certa para você", "Ela não é a pessoa certa para ser a mãe de Hannah". Em todas, menos em Emilly. Vou lhe dizer que a mulher certa para mim será a que eu me sentir bem e a que conseguir se dar bem com Hannah, a senhora vai ter que se contentar com isso, se eu não me sentir bem, eu não vou me casar com ninguém.

- Filho...

- Mãe, eu quero me envolver com uma pessoa que me faça feliz e não com uma pessoa que seja boa para negócios. Nem tudo se resume a trabalho! Não é só o meu futuro e felicidade que estão nessa equação, mas também os de Hannah. Acho que não é algo que possa ser escolhido a torto e a solta.

- Vamos esquecer esse assunto, sem mais discussões.

É melhor eu não tentar discutir mais, pois sei que só vou me estressar e ela não vai mudar de opinião do mesmo jeito. Eu só queria saber o porquê dessa obsessão por Emilly .

- Antes de sair eu gostaria de falar com Manuella – olho pra ela desconfiado – Não é nada sério, mas eu queria conversar algo com ela.

- Tudo bem, mas por favor seja gentil, ela não te fez nada. Eu vou lá chamá-la.

- Eu sei que pode não estar fazendo muito sentido pra você agora, mas isso é muito mais sério do que pensa.

- Pode ter certeza que darei meu máximo para nada aconteça. Ele é apenas meu chefe e eu nunca dei oportunidades que o fizessem entender o contrário.

Se Luh estivesse aqui ela estaria nesse momento gritando: MENTIROOOOSSAAAA, mas eu não poderia perder a minha postura na frente da mãe de David. Ela já não gosta muito de mim, imagina se descobrir que eu e seu filho quase nos beijamos algumas vezes.

- Ainda bem que você entendeu, avise a meu filho e a minha neta que eu estou saindo e que depois venho aqui novamente.

- Claro, pode deixar que eu te acompanho.

Abro a porta da sala e ela sai.

Se antes eu já estava ferrada por ter uma Emilly na minha cola, agora eu nem sei o que eu estou. Eu nem sei se gosto de David desse jeito, mas eu sei que ele mexe comigo. Com certeza ele mexe comigo! Porém, tenho que superar isso e não deixar que meus sentimentos atrapalhem o meu emprego e nem minha relação com Hannah. Ela não merece sofrer como consequência de atos sem pensar tanto da minha parte quanto da parte de David.

Depois que ela sai, sento novamente no sofá pensando no que acabou de acontecer. Pensando em como toda essa situação que estou passando parece com história de filmes ou livros que eu gostava de assistir quando adolescente. Como eu cheguei a esse ponto? Como me deixei levar por todo esse enredo?

Eu encontrei uma menininha que tinha fugido de seu pai. Eu a levei pra minha casa e cuidei dela. Eu não tinha emprego e, muito menos, dinheiro, agora eu tenho uma boa quantidade na conta bancária devido à recompensa e ao meu salário, que, sinceramente, é muito mais do que eu esperava. E agora eu estou me apaixonando pelo meu chefe, que, por um acaso, é um homem lindo, foi arrogante por um tempo, mas hoje é difícil definir. Mas eu e ele nunca vamos acontecer porque não é permitido, pois ele tem um relacionamento estranho com uma mulher e a sua família nunca aprovaria nós dois juntos.

A minha vida mudou de rumo de uma hora pra outra e eu nem tive a oportunidade de assumir as rédeas dela. Eu estou só me deixando levar sem ter medo do que possa acontecer no futuro, sem ter medo de David ou outra pessoa descobrir segredos os quais só Luh e meus pais sabem que aconteceu. Isso me faz repensar se mereço estar aqui perto dessa família ou se devo me afastar para evitar que qualquer merda aconteça. Mas eu não posso deixar Hannah, ela ficaria muito triste de novo. Eu prometi a ela que nunca mais me afastaria. Será mesmo que vou conseguir cumprir?

Ela é muito especial pra mim, pois é a representação do que eu não pude ter, do que foi me tirado quando mais jovem e do que até hoje me assombra em alguns pesadelos, às vezes.

- Está tudo bem minha menina? – Dona Maria diz me tirando dos meus pensamentos.

- Eu não sei Dona Maria, eu não sei - passo as mãos pelo rosto tentando afastar todos esses pensamentos.

- A senhora Fátima falou algo de errado? – ela se senta ao meu lado pegando uma das minhas mãos, como se quisesse me acalmar.

Lembro que minha mãe fazia o mesmo quando eu era pequena e via que tinha algo de errado comigo. Essa lembrança faz com que lágrimas venham aos meus olhos sem que eu pudesse impedir.

- Não é nada demais, deve ser só coisa da minha cabeça – digo a abraçando querendo mudar de assunto.

- Quando você quiser realmente me falar o que está acontecendo, estarei disposta a te ouvir. Eu sei que tem algo a mais nessa sua cabecinha – ela diz colocando uma mão de cada lado do meu rosto.

- Por que as coisas tem de ser tão difíceis?

- A vida não é fácil pra ninguém e se fosse não teria graça, concorda?

- Dona Maria, estou com medo de estar fazendo a coisa errada.

- Antes de tirar conclusões precipitadas pense e reflita se o que você fez ou está fazendo está machucando ou prejudicando alguém.

- Eu acho que não, pelo menos não parece estar.

- Então não tem nada de errado meu amor, não se preocupe. Vai devagarzinho, um dia você aprende a conviver com as coisas.

- Às vezes é tão difícil.

- Falar ajuda.

- Ninguém saberia do que eu estou falando, só três pessoas sabem que isso aconteceu. E olhe que duas já nem estão aqui.

- Qualquer coisa, você sabe onde me encontrar. Vou dar meu máximo para te ajudar sempre, você tem uma luz menina, uma luz muito boa e ela emana por toda essa casa. Pode ter certeza que o que você está sentindo agora, logo se resolverá.

Sorrio para ela e agradeço.

Ela volta pra a cozinha para terminar o almoço e eu volto para o quarto de Hannah para terminar de arrumar suas malas para a viagem. Assim que chego na porta, percebo que ela e David estavam conversando sobre algo, paraliso na porta assim que escuto ele falar meu nome.

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