“Ontem à noite, Abel foi falar com o motorista que causou o seu acidente de carro há dois anos”, disse Abraham, com naturalidade. “O que eles conversaram, eu não sei.”
Stella riu por dentro.
Ah, claro que não sabe... sei.
Abraham arqueou uma sobrancelha. “O que foi? Tá sentindo pena dela?”
“Eu pareço fraca pra você?” Stella revirou os olhos.
As únicas pessoas que já mexeram de verdade com o coração dela foram da família Dawson. Fora isso, ninguém jamais chegou perto.
Abraham soltou uma risada baixa.
Stella se remexeu na cama. “Agora que ela tá desesperada, provavelmente vai tentar sair do país pra se tratar, né?”
“Não vai conseguir”, respondeu Abraham, com leveza.
Os olhos de Stella se arregalaram.
O rosto dele continuava sereno e caloroso, mas as palavras que saíram de sua boca cortavam qualquer possibilidade de fuga.
“Você tá mesmo planejando prender ela viva?”
Em Rivermount, sem hospital que aceitasse recebê-la, Lilian não teria para onde correr.
E, se descobrisse que nem sair de Rivermount poderia…
Ela provavelmente desmoronaria de vez.
…
Abraham ficou com Stella por um bom tempo antes de finalmente se levantar para sair.
Antes de ir, ainda fez questão de dar mais remédio para ela.
Stella tinha acabado de se enroscar de novo nas cobertas quando o celular vibrou.
Ao ver o identificador de chamadas, seu coração deu um pulo. Ela atendeu na mesma hora, levando o telefone ao ouvido.
“Marie?”, sussurrou.
Assim que a palavra saiu, uma voz familiar rugiu do outro lado da linha:
“Três horas. Vem me buscar no aeroporto.”
Stella quase deixou o celular cair.
“Você… você tá vindo pra Rivermount?”
Ah não. Ah não, ah não.
Se Marie visse os machucados dela agora, como iria explicar? Dizer que foi mordida por pernilongo? Que caiu?
A voz de Marie estava carregada de raiva: “Sua pestinha! Quero ver como eu vou lidar com você dessa vez. Garota atrevida, é boa mesmo pra fugir, hein? Seu irmão já te encontrou e você ainda brinca de esconde-esconde comigo?”
Só de pensar, Marie já sentia o sangue ferver.
Tinham passado os últimos dois anos revirando o mundo atrás de Stella e agora descobria que a pestinha estava o tempo todo debaixo do nariz de Abraham!
“E seu irmão nem me contou!”, Marie explodiu. “Tive que arrancar a informação dele à força!”
Ouvindo a ameaça na voz dela, Stella se encolheu debaixo do cobertor. “Onde você tá agora?”
O suor gelado brotou na testa de Stella. Ela tá mesmo vindo! A rainha-demoníaca tá a caminho!
Tão assustadora…
Ahhh, que medo.
“Três horas. Não se atrase.”
Com uma última rajada de broncas, Marie desligou.
Na cabeça dela, Stella ainda era a garotinha frágil e estabanada com quem tinha crescido, aquela que precisava de proteção.
Durante os anos em que não conseguiram encontrá-la, Marie temeu de verdade que algo terrível tivesse acontecido.
Ouvindo o bip de ligação encerrada, Stella rangeu os dentes e se levantou, suportando a dor.
Não tinha a menor chance de não avisar o Abraham.
Se Marie aparecesse e a visse daquele jeito, estaria perdida.
Ela vestiu um casaco rapidamente e saiu do quarto.
Conferiu o escritório primeiro, nada.
Depois a sala de estar, também nada.
Por fim, uma empregada a viu e se aproximou com respeito. “Sra. Stella.”
“Meu irmão saiu?”
“O Sr. Abraham não saiu, senhora. Ele está na sala de bilhar.”
Sala de bilhar? Stella piscou.
Espera… tem sala de bilhar aqui?
Tinham se mudado há pouco tempo. Ela nem teve chance de explorar direito ainda.

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