Ponto de vista da Aria.
Não foi nada fácil ver Allen e Amber juntos, eles ficavam tão bem juntos que era difícil acreditar que não eram companheiros.
Ele havia dito a todo mundo que Amber era sua companheira e não foi difícil acreditarem. Difícil foi eu não cortar a garganta da Amber, especialmente quando encontrei os dois se beijando.
Eu sei que não vou me sentir assim pra sempre, sou mais humana do que lobo.
Eu precisava sair desse bando pela minha própria sanidade. Sair significaria virar uma exilada, e eu não sei caçar direito, nem tenho dinheiro.
Suspirei profundamente e me joguei na cama, sentando-me nela para escrever uma carta para minha tia.
Meu quarto era o menor da casa, era só um cantinho onde eu me enfiava.
A única coisa que tinha nele era a minha cama toda esfarrapada e rasgada, além das minhas roupas gastas que tinham sido enfiadas dentro de uma pequena bolsa de nylon.
"Tia Susan,
Estou escrevendo esta carta para agradecer todo o seu amor e cuidado por mim e por você ter me protegido. Sinto muito por ter que ir embora. Antes de você terminar de ler isso, já terei ido embora...".
Fiz uma pausa, soltando um suspiro de frustração. Sabia que eles não sentiriam minha falta e nem mesmo perguntariam para onde eu iria, então não havia necessidade ser tão educada.
"Ah!", gritei, amassando o papel como uma louca e jogando ele na minha porta.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu me enrolava, formando uma bola. Eu sentia muita falta da minha mãe. Precisava de alguém para contar pelo que estava passando, eu era motivo de zombaria para todo o bando.
Por quê? Por quê? Por quê?! Roguei, de coração partido.
Fiz minha mala e a deixei sobre minha cama. Eu ainda tinha não tinha certeza se deveria ir embora ou não.
Como vou sobreviver lá fora? O que vou fazer? Lá fora é perigoso, mas acho que não tenho escolha.
Acho que preciso dar uma caminhada para arejar a cabeça antes que amanheça para decidir o que fazer sem me arrepender.
Sem que eu percebesse, encontrei-me às margens do rio, onde me deparei meu companheiro Allen no meu aniversário.
Soltei um sorriso triste antes de segurar as lágrimas que ameaçavam escorrer dos meus olhos.
Deitei com as mãos atrás da cabeça, olhando para cima e observando as nuvens, fechando os olhos. As lágrimas escorrem, molhando meu rosto.
"Mas o que...", ao abrir meus olhos, levantei imediatamente, vendo um lobo preto enorme me encarando.
"O que... o que você quer?". Murmurei, nervosa, tentando me defender, e foi aí que o cheiro alcançou minhas narinas novamente.
"All-Allen...", sussurrei, sem dúvidas de que era ele.
Observei incrédula, vendo seu lobo reagir, balançando o rabo de felicidade. Meu coração batendo com cada vez mais força dentro do meu peito.
Eu achei que nós havíamos rejeitado um ao outro, então como ainda podíamos sentir esse cheiro? Havia me mandado evitá-lo e agir como se nada tivesse acontecido, e eu obedeci. Por que ele está aqui?
Me encolhi de medo quando seu lobo deu um pequeno passo em minha direção.
Não! Não! Eu preciso fugir dele, eu preciso sair daqui!
Levantei rapidamente e, então, lentamente, comecei a recuar sem dar as costas para ele. Não posso correr, senão ele vai me pegar antes que eu possa dar um passo sequer.
Observei, aterrorizada, enquanto ele se abaixou para se transformar em sua forma humana. Minha cabeça estava tomada pelo pensamento de que eu deveria correr, e antes que eu percebesse, estava fugindo, mesmo ciente de que ele me alcançaria.
Correndo, senti uma presença atrás de mim, me perseguindo, mas isso não me impediu, muito pelo contrário, me motivou a correr ainda mais. Entretanto, antes que eu pudesse dar outro passo à frente, fui puxada com força para trás.
"Sua c*dela horrorosa, para onde você acha que está indo?", rosnou, seus olhos frios fixados nos meus.
"Você é uma maldição, e eu jamais vou governar com você do meu lado, seria um tapa na minha cara e na do meu bando!", explodiu com raiva.
"Você não passa de lixo, você não vale nada, Aria!", proferiu.
"Por favor, você tá me quebrando", solucei, minha visão embaçada por conta das lágrimas.
Ele me ignorou e me puxou para mais perto de si.
"Abandone esse bando e nunca mais volte... Saia por conta própria, ou eu vou te destruir, vou te atormentar até que você não aguente mais, até que peça para morrer", ameaçou.
"Eu... eu não sei para onde ir, por favor, não faça isso comigo", implorei desesperadamente.
Ele soltou uma risada perigosa, "Vai embora... eu não tô nem aí se você morrer eu não. Eu só não quero te ver na minha frente nunca mais".
"Ah, e só pra você saber!", fez uma pausa, abrindo um sorriso antes de continuar.
"Ninguém vai sentir sua falta, nem perguntar pra onde você foi... Eles não vão nem perceber que você desapareceu, sabe por quê?".
"Porque sua existência não importa", riu, cheio de ódio por mim.
"Se eu tivesse um lobo, você teria me aceitado?". A pergunta escapou dos meus lábios sem querer, mas parecia mais um soluço do que palavras propriamente ditas.
"Não! Porque seu lobo seria exatamente como você: fraco, inútil e um covarde que não conseguiria se defender". Suas palavras me quebraram, meu coração estava estilhaçado.
Qualquer resto de esperança que estivesse dentro de mim havia acabado de ser dizimado, e antes que eu percebesse, ele me empurrou, fazendo como que eu tropeçasse e caísse no chão, machucando meu cotovelo e joelho.
O sangue escorria da ferida. Já que não tenho lobo, demoraria muito para cicatrizar.
"Vai embora! E nunca mais volte", avisou antes de ir embora, me deixando para trás, sozinha.

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