Dito isso, Isabela deu meia-volta e passou por Sandro sem hesitar, sem ao menos uma pausa.
Sandro ficou furioso. Sempre que os dois brigavam, era Isabela quem vinha atrás dele para fazer as pazes. Ele estava acostumado a esse padrão. Agora, pedir desculpas ou ceder não fazia parte de sua personalidade, mesmo que quisesse que ela voltasse para ele.
Tomado por uma irritação crescente, ele resolveu chamar os amigos para um bar e afogar o mal-estar em alguns copos.
A atmosfera na sala era estranha e pesada. Todos permaneciam em silêncio e ninguém parecia à vontade para iniciar uma conversa. Nos últimos dias, o assunto de que Milena havia sido presa ganhava todas as redes sociais e rodinhas de amigos. As revelações sobre o envolvimento de Milena com substâncias ilícitas e o fato de ela ter armado contra Isabela pegaram todos de surpresa.
Cada um deles havia acreditado na farsa, caindo na ilusão de que Isabela estava sozinha e entediada em casa e que, assim, poderia ter caído em vícios. A manipulação sutil de Milena os enganava, se fazendo passar pela vítima frágil. Agora que viam a verdade, a conclusão era assustadora.
O que chocava era que Milena, alguém em quem confiavam, foi capaz de elaborar uma armadilha por três meses para destruir Isabela. Essa descoberta deixou claro para todos ali de como era fácil ser enganado. Estar ao lado de alguém assim, que tramava pelas costas, era aterrorizante.
— Sandro, então você e a Isabela se divorciaram mesmo? — Danilo perguntou, quebrando o silêncio, num tom baixo e cheio de emoções.
Sandro, afundado no sofá, se manteve confiante.
— Ela só está fazendo birra. — Respondeu com um ar despreocupado.
— Para mim, parece que ela tomou uma decisão dessa vez. Acho que agora é definitivo. — Disse Danilo.
Todos voltaram seus olhares para Sandro. Sabiam que Isabela havia passado por uma humilhação profunda com toda a armação de Milena. Não era difícil imaginar que esse episódio tivesse sido a gota da água para ela. Se ela não tivesse se defendido com todas as forças e provado sua inocência, talvez estivesse agora atrás das grades, pagando por um crime que não cometeu.
Sandro se lembrou de como Isabela estava quando a viu recentemente. Sabia que ela estava ciente de sua preferência por seu cabelo comprido, mas, mesmo assim, ela o cortou. Ele entendeu como uma provocação, uma maneira de irritá-lo. Se ela não o amasse, teria sido indiferente. Ao invés disso, ela buscava provocar uma reação nele, fazer ele notar sua presença.
Sete anos juntos, desde a época da faculdade até o casamento. Não era fácil esquecer uma relação assim, uma conexão que acreditava ser inabalável.
— Vamos beber. — Disse Sandro, descartando as observações de Danilo.
Danilo, por sua vez, deixou escapar um brilho no olhar, como se houvesse uma chama acesa em seu peito. Por trás de seu olhar, ele escondia um segredo antigo, um sentimento não revelado que durava oito anos. Uma paixão silenciosa, guardada na sombra, que nunca teve a chance de brilhar.
...
Na manhã seguinte, Isabela chegou ao escritório de advocacia pontualmente.
Jorge já havia organizado tudo e o processo de admissão foi rápido. Maia acompanhou ela até o elevador, subindo para o próximo andar, onde havia uma mesa vazia, perto da sala de Jorge.
— Você vai trabalhar aqui. — Informou Maia, apontando para a mesa.
— Certo. — Respondeu Isabela com um aceno de cabeça.
— Venha, vamos até a sala do Dr. Jorge.
A porta da sala estava aberta e Jorge estava ao telefone, parado de pé, olhando pela janela panorâmica. Vestia um terno cinza-claro, com camisa cinza-escura e uma gravata preta que destacava sua postura elegante. Seus ombros largos e cintura fina formavam uma figura imponente, e os músculos bem definidos criavam uma presença firme e segura.
Ao notar Maia e Isabela, Jorge fez um gesto discreto para que Isabela esperasse e Maia se retirasse. Maia assentiu e saiu, os deixando a sós.
Durante a ligação, a expressão de Jorge foi mudando, seu rosto assumindo uma tensão gradativa. Logo ficou claro que a conversa não estava indo bem. Finalmente, encerrou a chamada com um semblante fechado, claramente insatisfeito com o que ouviu.
Isabela, que esperava pacientemente próxima à porta, se endireitou quando Jorge se aproximou.
Sem ousar olhar diretamente para ele, ela manteve os olhos abaixados.
— Dr. Jorge.
— Pegue aquela pilha de documentos sobre a minha mesa e organize tudo. Você tem dois dias para revisar todos os arquivos de casos. Encontre qualquer falha nos processos. — Disse ele, num tom controlado, sem expressar muito calor ou frieza.
— Sim, senhor. — Respondeu Isabela, focada e determinada.
Jorge passou por Isabela e saiu do escritório a passos firmes. No breve instante em que ele esteve mais perto, ela conseguiu captar um perfume amadeirado e frio, que parecia se misturar perfeitamente com o ar de autoridade que ele emanava.
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