Um mês depois
Há exatamente trinta dias que eu tento levar uma vida normal. Eu me levanto, tomo banho, trabalho, volto para casa e durmo. No dia seguinte faço tudo novamente.
Evito dormir por muitas horas porque ela sempre vem me visitar. Traz o seu sorriso, o seu cheiro, o calor da sua pele. É uma tortura que não consigo suportar.
Desde que parti que evito ter notícias de Lia e de Valentina. Meu Deus! Como sinto falta delas.
Sinto saudades do cheiro de bebê, dos seus chorinhos nas madrugadas, dos momentos assistindo vídeos infantis.
Deixei Costa para cuidar de tudo, tanto dos assuntos de Lia e Manu, que ainda não respondia aos meus e-mails que estava realmente zangada comigo.
Sabia que Lia havia deixado o apartamento, mesmo Costa insistindo ser dela. Talvez tivesse ido morar com Eduardo.
Não tive notícias dele, não desde que saí do Brasil. Meus avós tentaram me convencer a voltar nos primeiros dias, mas acabaram desistindo quando ameacei sumir igual ao Eduardo se eles continuassem insistindo.
Estava me preparando para ir dormir, quando ouvi uma batida na porta. Nem precisei me preocupar em perguntar quem era.
Mel vinha sendo insistente para que saísse com ela para beber algo, mas eu sempre inventava uma desculpa e hoje não seria diferente.
— Porque não desiste Mel? — perguntei ao abrir a porta.
— Porque meu sobrenome é insistência.
Quando voltei para o Japão Mel bateu em minha porta dois dias depois e me levou para beber. Naquela noite não fui uma boa companhia e aluguei seu ouvido com minhas lamentações, com meu coração partido.
Ela era uma boa companhia, que estava sempre presente quando eu precisava. Acredito que se não fosse por Mel, eu teria me perdido de vez.
Sabia que ela esperava algo mais do que uma amizade, mas deixei claro que isso eu não poderia lhe dar. Lia havia levado meu coração e trancada em um cofre que eu jamais teria acesso.
— Hoje não tem desculpa para ficar aqui nesse apartamento solitário. Fiz reservas em um restaurante. Foi uma missão quase impossível, então, por favor, se esforce e vamos sair. Mas antes faça a barba, está parecendo um drogado em abstinência.
Mas era exatamente assim que eu me sentia. Estava sentindo a maldita falta de Lia. Ela era a pior droga do mundo. A minha ruína.
— Vamos, por favor… — ela pediu com carinho.
Soltei um grande suspiro.
— Tudo bem, mas não farei a barba. Gosto dela assim.
— Como quiser.
Demorei cerca meia hora no banho, pensando que desculpa usaria para não prolongar nossa noite, porque eu sabia que ela havia planejado alguma balada depois.
— Estou pronto — falei quando saí do quarto.
— Está lindo — disse me roubando um selinho — posso usar o banheiro antes sairmos?
— Fique à vontade.
Mel entrou no banheiro e sentei no sofá para esperá-la.
Seu telefone começou a tocar em cima do centro de mesa. O nome do meu irmão apareceu na tela. O que ele queria com ela? E desde quando tinha esse contato?
Olhei para a porta e não vi sinal de Mel. Peguei o telefone e levantei a tela. A ligação foi encerrada, mas logo em seguida veio um áudio.
“Por que não atende minhas ligações? Não está tentando se esconder de mim, está? Saiba que se não fosse por mim, você jamais teria levado Gabriel de volta para o Japão. Foi nossa união que separamos o casal. Aquela armação no restaurante foi a gota d'água para o fim. Gabriel acreditou mesmo que eu e Lia estávamos felizes almoçando juntos. Que idiota!”
Houve um instante até ele voltar a falar.
“Continue fazendo o que está fazendo para mantê-lo ocupado. Lia está me dando uma grande dor de cabeça aqui e será ainda mais difícil se ele resolver voltar. Continue com seu jogo? Já transaram?”
— Estou pronta…
Mel saiu do banheiro no momento em que o áudio acabou. Ela viu seu celular em minhas mãos e seu sorriso morreu.
Apertei o áudio e deixei que ela ouvisse.
— Gabriel…
— Você conseguiu me enganar direitinho, não foi?
— Posso explicar…
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