— É este o documento? — Victor Santos puxou de dentro da pasta um papel que lhe era familiar.
— Exatamente, muito obrigado, Victor — respondeu Luiz, agradecendo com educação.
Victor Santos já estava acostumado àquilo. Nos últimos anos, raramente via a reclusa esposa do Diretor Sérgio fora da mansão da família Rocha, mas não faltavam documentos enviados de lá para serem assinados.
De todos os tipos, dos mais triviais aos mais inusitados.
Às vezes, até para autorizar a troca de algumas árvores no jardim da casa, alguém trazia o papel para o Diretor Sérgio assinar.
Nas primeiras ocasiões, o Diretor ainda se dava ao trabalho de ler o conteúdo.
Depois, principalmente quando era algo vindo da família Rocha, ele sequer olhava.
Devia pensar que aquela mulher, sempre dependente da cadeira de rodas, não era capaz de causar grande alarde.
Victor observou Luiz se afastar.
Já de volta à sala, ao se sentar, ele percebeu, pelo canto do olho, um vulto vermelho brilhante passar apressado pela porta. Seu coração disparou.
Ainda bem que Luiz já tinha ido embora...
Senão...
Luiz retornou à mansão da família Rocha com o documento em mãos. Quando o entregou a Júlia Nascimento, hesitou, demonstrando certa compaixão.
Sentindo a força dos dedos de Luiz, Júlia teve dificuldade para puxar o papel:
— Luiz?
— Juju, se você deixar a família Rocha, quem vai poder te proteger depois? — A situação da família Nascimento era complicada; antes do acidente, Júlia ainda conseguia negociar com eles, mas agora, incapaz até de se levantar, como poderia enfrentar aquelas feras?
Com um sorriso leve e um tom de ironia, mas sem qualquer calor na voz, ela replicou:
— Luiz, o que foi que Sérgio Rocha fez para você achar que ele me protegeria?
O que, afinal, teria feito aquele marido, praticamente um morto-vivo em sua vida, para gerar tal impressão em Luiz?
Se fosse só o fato de ocupar um lugar sem agir, ela até aguentaria.
O problema era que, além de não fazer nada, ainda trazia mais problemas para ela.
Luiz suspirou.
Soltou, enfim, o documento.

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