Augusto olhou mais uma vez para o saldo em sua conta bancaria com um olhar depressivo. Todo o dinheiro que tinha guardado estava acabando aos poucos. As noticias sobre a sua família continuavam na mídia mesmo que já tivesse passado dois meses desde o incidente. O primeiro príncipe levou a mão até seus cabelos, bagunçando-os, sem reparar na presença de Philipe próximo a ele.
― Seu dinheiro deve estar acabando, imagino ―Philipe comentou casualmente ao imaginar o tipo de problema que poderia fazer o arrogante príncipe perder a cabeça, e ao ver seu irmão assentir, suspirou ― É formado em relações publica, porque não busca um trabalho? ― Augusto se limitou a sorrir diante da pergunta de Philipe. ― É isso que as pessoas normais fazem. Trabalham.
― Eu sei disso, mas não é tão fácil assim ― O encarou friamente ao desviar o olhar.
― Nada na vida é fácil para as pessoas normais ― Respondeu ao cruzar os braços em frente ao seu corpo. Ele não se importava com o seu irmão morando com ele, mas o que realmente lhe dava nos nervos era o fato de Michael permanecer em silencio durante esse tempo. Ele não esperava que seu segundo irmão ajudasse Augusto, mas ao menos imaginou que ele seria mais gentil ao ponto de se encontrar com ele ao menos. ― Michael ainda não respondeu nenhuma das suas ligações? ― Augusto negou ao menear a cabeça.
Philipe permaneceu em silêncio enquanto imaginava em formas de conversar com Michael.
***
Lis abriu a porta do apartamento cantarolando uma canção que escutara na radio, olhou para a sala, sorrindo assim que avistou Michael sentado no sofá segurando um livro sobre educação infantil. Aproximou-se sem se preocupar em jogar sua bolsa no chão ou com o olhar preocupado que Michael lançava em sua direção ao olhar para os seus pés, ligeiramente inchados. Ela sorriu largamente assim que se sentou em seu colo, passando os braços pelo seu pescoço.
― Deveria usar sapatos mais confortáveis ―Michael falou ao passar seus braços pela sua cintura antes de colocar sua cabeça em seu ombro. ― Senti sua falta.
― Eu também ― Respondeu sorrindo ainda mais antes de se recordar de Augusto ― Não pretende ajudar seu irmão? ― Lis perguntou, curiosa. Pois da ultima vez que falara sobre Augusto ter ido visita-la em sua universidade, Michael apenas a mandou ignorá-lo quando fosse novamente, afirmando que não iria ajuda-lo. ― Ele ainda é o seu irmão.
― Mesmo sendo meu irmão nunca me ajudou ― Deu de ombros, forçando-se a esquecer as duras lembranças que pareciam querer surgir. Lembranças de quanto estava na guerra e de como foi abandonado pela sua família. ― Augusto foi o único que nunca se preocupou com seu futuro, sua educação ou como poderia ser sua vida caso perdesse o trono. Ele abandonou a sua própria mulher, me abandonou, usou Susana para me atrair, descartou qualquer pessoa que pudesse impedi-lo de obter o trono, então porque eu deveria ajuda-lo?
Seus argumentos foram suficientes para Lis sentir uma dor em seu coração ao escutá-lo. Ela sabia que ele tinha razão, e por isso optou pelo silencio antes de beijá-lo.
― Você está certo ― Lis disse assim que seus lábios se afastaram ― E falando sobre isso, Katy disse que quer viajar com Sebastian em duas semanas. Posso dar folga para ele? ― Pediu com uma voz doce fazendo Michael menear a cabeça ao sorrir.
― Sim, ele pode. Sebastian deveria me agradecer por ter conseguido uma namorada para ele. Aquele homem ingrato ― Resmungou trazendo um sorriso de alegria no rosto da jovem sentada em seu colo. ― Falando em ingratidão quando vamos falar aos seus pais que você está gravida? ― Ela desviou o olhar, incomodada. Lis não queria contar a sua família a verdade sobre o noivado mesmo sabendo que deveria ser feito. Em algum momento, ela queria contar toda a verdade antes de contar que estava gravida. Lis queria que seus pais soubessem o quanto Michael a amava e o quanto ela o amava.
― Logo ― Prometeu, incerta se conseguiria cumprir tal promessa ― Eu te amo ― Confessou ao beijar a sua bochecha.
― Eu também te amo ― Sorriu ao sentir o local onde foi beijado, ligeiramente mais quente. Depois que retornou da guerra, Michael nunca se imaginou feliz novamente. Todos os dias vivia buscando vingança contra a sua família que o abandonou, contra Susana que mentiu e se matou, contra o mundo que o fez daquela forma, mas a partir do momento em que conheceu Lis tudo mudou. A jovem que deveria odiar trouxe um novo sopro de vida a sua existência cansada e destruída.
Michael passava seus dias pensando em sua própria solidão, em sua dor, recordando as noites que passou sendo torturado e o momento em que descobriu que Susana tinha se matado quando retornou. Durante anos, não teve um segundo de paz em sua vida e nem um sorriso verdadeiro. Toda a sua vida tinha sido dividida em duas fases: a primeira em que tinha sido enganado por Susana e a segunda que foi abandonado pela sua família. Ele nunca se considerou amando ou com sorte.
Mas quando, finalmente, Lis afirmou que ficaria ao seu lado e que o escutaria, tudo pareceu não importar para o homem que continha seus próprios demônios. Mesmo tendo pesadelos durante anos, não conseguindo adormecer com alguém no mesmo cômodo que ele, sem conseguir confiar nas pessoas e sem conseguir esquecer seu ódio, alguma parte dele mudou quando finalmente a beijou. O segundo príncipe optou por esquecer tudo que o machucava quando, por fim, percebeu que perder Lis era muito mais doloroso do que ser torturado.
― Quando o nosso filho nascer, vamos nos casar ―Michael afirmou calmo.
― Tudo bem ― Concordou ao apoiar sua cabeça em seu ombro. ― Eu quero que a nossa família seja feliz.
― Seremos ― Prometeu ao fechar os olhos, aproveitando-se do momento.
***
Augusto respirou fundo ao ver a pilha de documentos em cima da mesa, sem ainda acreditar que Philipe havia conseguido um trabalho para ele em uma empresa de exportação. Seus dias eram regados a trabalhos cansativos e olhares de curiosidades das pessoas a sua volta, o que foi responsável pela alteração da personalidade do príncipe. Augusto antes sorria para todos e gostava de demonstrar superioridade, contudo agora, mantinha um perfil baixo sem demonstrar qualquer vontade de socializar.
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