Ciclo de Rancor romance Capítulo 102

― Brendan? Brendan! ―

Quando entendeu o que o monstro queria dizer, as cores foram drenadas do rosto de Deirdre e, em total desespero, a jovem se lançou sobre ele, passando os braços ao redor de sua coxa em total humilhação e submissão. Mais uma vez, ele iria descontar em Sterling.

― Se você está bravo porque Charlene quase morreu, eu... eu posso me desculpar por isso! Vou engolir os mesmos comprimidos para sofrer a mesma dor que ela! Mas, por favor, pare de descontar sua raiva em pessoas inocentes! ―

― Pessoas inocentes? ― Brendan zombou e, puxando a perna para trás, para se livrar dos braços que o agarravam, o monstro se agachou e segurou o queixo de Deirdre, observando seu rosto repleto de cicatrizes, os olhos opacos e as bochechas banhadas em lágrimas ― Pelas suas atitudes, pensei que você não acreditasse em coisas como ‘deixar os inocentes em paz’, afinal, Lena não é inocente? Por Deus, Deirdre! Você pelo menos poderia ter sido sincera comigo. As coisas teriam terminado muito mais cedo... muito melhor. Mas você tinha que acusá-la de fazer algo que não fez!? Você tinha que mentir para mim!? ―

Brendan se levantou apaticamente e empurrou Deirdre com o pé, fazendo com que sua cabeça colidisse com a lateral da cama. A jovem sentiu uma onda de choque percorrer seu cérebro, como uma colmeia de abelhas perturbadas. Ainda assim, com a mão em concha ao lado da cabeça, ela rastejou atrás de Brendan.

― Eu não fiz nada disso! Eu não menti! ―

― Não mentiu? ― O monstro parou de andar e se virou, lançando um olhar de desgosto para Deirdre ― Sua cúmplice se sentiu tão culpada que confessou. Mas, você é surpreendentemente insensível, não é? Mesmo sabendo que Lena tentou se matar, você mal pareceu perturbada! Você ainda vai tentar fingir que é inocente? ―

Com passos pesados, Brendan saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

‘Cúmplice? Cúmplice no que?’

A mente de Deirdre ficou em branco e ela permaneceu no chão frio e duro de ladrilhos.

‘Brendan insiste em dizer que eu menti, mas sobre o quê? Que mentira foi essa?’

Sam empurrou a porta e encontrou Deirdre caída no chão, com a mão sangrando. O segurança ficou alarmado:

― Senhora, Deirdre! ― Ele disse, correndo até a jovem e a ajudando a se levantar.

Ele não esperava que Brendan fosse tão violento.

Deirdre sentou na beira da cama, com os olhos opacos fixos em um ponto à sua frente. Sam estava prestes a chamar a enfermeira quando ela o puxou pela mão:

― Sam, você pode me dizer o que aconteceu? ―

O segurança suspirou e obedeceu, sem poupar detalhes, inclusive o depoimento da zeladora.

Deirdre sentiu uma pontada no peito. Sua cabeça girava em uma vertigem crescente de pânico e desespero:

― Isso não faz sentido! É um monte de mentiras deslavadas! ― Ela protestou asperamente ― Eu nem sei quem é essa zeladora! Isso... isso foi obra de Charlene. Ela inventou esse plano para me incriminar! Não tem outra explicação. ―

Sam tinha certeza de que Deirdre era inocente. Mas, não era só por ter descoberto o caráter doce e forte de Deirdre. Ele também conhecia Charlene e, há muito tempo, já a considerava uma das maiores farsantes que tinha encontrado.

― Eu sei, não faz sentido, mas o Senhor Brighthall acreditou nela. A zeladora realmente entrou nesse quarto, na manhã daquele dia. Isso foi antes de eu chegar. ―

Deirdre sentiu um calafrio subindo pela espinha. Charlene tinha planejado tudo isso, no momento em que saiu da enfermaria? Mais importante, o maior problema de Deirdre agora era o quanto Brendan confiava em Charlene. Ele queria acreditar que ela era a garota gentil e legal a quem ele deveria depositar toda confiança.

Ele queria tanto acreditar nisso que proclamaria Deirdre culpada, mesmo sem evidências concretas.

― Sam, você tem que dizer a ele para me ver novamente. Eu tenho que explicar isso para ele. ―

― Então... Sobre isso... ― Sam murmurou, hesitante ― Eu não acho que agora seja um bom momento, Senhora Deirdre. As probabilidades estão esmagadoramente contra você. Sugiro esperar até que Charlene se levante e a raiva do Senhor Brighthall passe. ―

Deirdre sentiu um nó se formando em sua garganta. A jovem não fazia ideia de quanto tempo Sterling teria até a vingança de Brendan. Ela tinha que agir antes que o monstro sentisse vontade de atormentar o pobre homem.

― Por favor? ― Ela sussurrou, com a voz fraca.

Sam suspirou:

― Está bem. ―

Ele saiu da sala, mas, momentos depois, estava de volta:

― Receio que o Senhor Brighthall, não queira vê-la, Senhora Deirdre. ―

A resposta original de Brendan foi cem vezes mais dura do que Sam fez parecer, mas, o homem de bom coração simplesmente não suportava repetir literalmente.

Deirdre estava atordoada. Então, fechando a mão ferida em um punho, baixou os olhos e sorriu com tristeza e desesperança.

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