Ciclo de Rancor romance Capítulo 103

Deirdre tinha sido estúpida. Por que ele daria a mínima para a sua inocência?

‘Tudo com o que Brendan se importava era se Charlene estava viva e sempre tinha sido assim.’

Três dias se passaram e Brendan nunca mais tinha aparecido em seu quarto. Até mesmo a proteção oferecida por Sam foi substituída pela vigilância de uma enfermeira recém-contratada, que rapidamente se aproveitou da cegueira de Deirdre e o pouco que se importavam com aquela paciente, para abusar da jovem.

Para economizar com a própria refeição, a mulher passou a se alimentar da comida de Deirdre, antes de entregar o prato para a jovem que, orgulhosa, quando percebeu o que acontecia, se recusou a comer sobras, empurrando o prato para longe.

― Uau! Você é realmente exigente com sua comida! Ou será que você é do tipo de cachorro que não gosta de dividir o osso? Você age como se eu comer sua comida fosse tão nojento quanto ter que almoçar olhando para essa sua cara nojenta! Pare com isso! Faz três dias que estou aqui e você não recebeu a visita de ninguém! Você não tem nem família, nem amigos, deveria ser grata por ter, pelo menos, uma enfermeira para cuidar de você! ― A enfermeira ficou furiosa.

Deirdre, infelizmente, era um alvo fácil para pessoas amargas e infelizes.

― Você está dificultando as coisas para mim... Você vai comer isso, agora mesmo! Se o Senhor Brighthall vir isso, vai pensar que estou maltratando você! ―

Ela empurrou o prato para perto dos lábios de Deirdre, que lutou até que ela conseguiu afastar a comida, jogando tudo no chão e espalhando por todo quarto.

― Que porra é essa? Sua maldita! Nojenta! ― A enfermeira gritou. Então, pegou um punhado de mingau do chão e começou a enfiá-lo na boca de Deirdre.

Mas, a porta do quarto se abriu. E, segurando um punhado de comida contra a boca de Deirdre, a enfermeira olhou para trás. Quando viu Brendan em sua postura e trajes impecáveis, exalando sua aura mais avassaladora. A mulher soltou o alimento e se afastou de Deirdre.

Brendan viu exatamente como Deirdre estava angustiada. Mingau frio e sujo estava pingando de sua mandíbula.

― Senhor Brighthall! ― A enfermeira gaguejou, apavorada, achando que seria demitida naquele momento e sem nenhum questionamento.

Entretanto, para sua surpresa, Brendan lançou um olhar apático na direção de Deirdre, antes de se voltar para a enfermeira e perguntar:

― O que aconteceu? ―

Os olhos de Deirdre ficaram vermelhos e cheios de lágrimas. Ele poderia muito bem tê-la esfaqueado no peito, com aquela pergunta indiferente. Ele com certeza sabia o que tinha acontecido só de olhar para ela naquele momento. Então, por que a pergunta?

A única explicação é que ele aprovava o abuso da enfermeira. Aliás, sem a aprovação dele, a enfermeira jamais teria ousado tratar Deirdre assim.

‘Deus, até que ponto ele tem coragem de ir para me atormentar?’

A enfermeira olhou para o quarto e decidiu se agarrar àquela oportunidade de manter o emprego. Ela sabia exatamente o que dizer:

― Você tem que me desculpar, Senhor Brighthall. A Senhora McQuenny é uma paciente difícil de lidar! Fiz esse mingau, o melhor que pude, mas ela ficou tão chateada por ser insípido que não quis comê-lo. Tentei convencê-la, mas ela ficou tão furiosa que derrubou a tigela da minha mão daquele jeito! ―

Naturalmente, a enfermeira pulou a parte em que pegou o mingau do chão e o enfiou na boca de Deirdre.

― Oh, então foi isso? ― Brendan entoou, examinando Deirdre, com um brilho de perigo em seus olhos negros estreitados ― Se ela fez essa bagunça, então é justo que ela mesma limpe, não é? Quão justo é se você faz bagunça e espera que outra pessoa limpe para você? ―

A alegria no semblante da enfermeira era palpável.

Esperando por aquilo, Deirdre apenas abaixou a cabeça, com os dedos segurando a ponta do cobertor. Observando-a, Brendan perguntou bruscamente:

― O quê? Acha que estamos pedindo demais de você? ―

Aquele tom significava problema e Deirdre não ousou desafiar. Ela puxou o cobertor e ficou no chão, descalça. Ela não tinha certeza de onde estavam os pedaços quebrados do prato, então começou a tatear o chão. Enfiando a mão em desagradáveis poças de mingau. Mas, a jovem tateou em busca de uma das peças maiores de cerâmica. Então, ela recolheu tudo e começou a procurar o lixo.

Deirdre terminava sua tarefa quando, com um brilho rancoroso no olhar, a enfermeira sorriu e deu um leve empurrão na jovem, mas foi o suficiente para que ela perdesse o equilíbrio e caísse no chão. Um dos cacos que carregava deslizou por sua pele e abriu um longo corte em sua mão. O sangue logo se seguiu.

Os olhos de Brendan se estreitaram e a enfermeira lançou um olhar insinuante na direção da jovem, levantando a voz e dizendo:

― Oh, não, Senhora McQuenny! O que aconteceu? Você é um pouco jovem demais para ser tão desajeitada. Você se machucou? ―

― Desculpe ― Deirdre bufou. Sua mão doía, mas ela estava com mais medo da fúria de Brendan do que com dor. Querendo terminar o serviço mais rapidamente, a jovem abandonou a cautela e começou a pegar os cacos de qualquer jeito e jogar no lixo.

Sangue encharcava sua mão e pingava no chão. Alguns cacos se grudavam nos cortes.

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