'Night City?’ Deirdre ficou horrorizada. Qualquer um em Neve sabia o que era o local e os perigos que comportava. Apesar de se passar como um estabelecimento de entretenimento era, na realidade, mais um santuário para os ricos e poderosos. Desde que ninguém morresse, não havia crime em Night City.
O rosto da jovem ficou pálido:
― Por que você me trouxe aqui, Brendan? ― Ela gritou, enquanto lutava para se libertar.
Mas, Brendan não deixaria que ela se desvencilhasse dele tão facilmente e o aperto de sua mão no punho de Deirdre se tornou firme como uma algema. Então, ele a puxou para perto de si e sussurrou:
― Tarde demais, Deirdre. Você quase tirou a vida de Lena e isso não é algo que eu vou deixar passar. ―
― Mas, eu não fiz isso! ―
Brendan lançou um olhar gelado. Fazia três dias, mas ela ainda mantinha sua mentira. Por isso, o homem afrouxou o aperto e disse:
― Você quer sair daqui, vá em frente. Eu só me pergunto o que vai acontecer com Sterling se você for embora. ―
Deirdre ficou paralisada, perdendo completamente a vontade de fugir. Seu peito doía, como se alguém o estivesse rasgando, com as próprias mãos e seus olhos ficaram vermelhos enquanto ela murmurava:
― Você é cruel. ―
Brendan zombou:
― Eu não conheço ninguém mais cruel do que você, Deirdre. Você faria qualquer coisa para caluniar Lena, até mesmo se machucar. ―
Deirdre cerrou os punhos e apontou os olhos opacos na direção de Brendan, com um sorriso desdenhoso do rosto, enquanto dizia:
― Um dia, quando você perceber que Charlene está por trás de tudo isso, vai se arrepender de tudo o que fez comigo? ―
Brendan sentiu como se seu coração estivesse sendo arrancado sob seus pés. Uma parte de seu coração pareceu saber que esse dia chegaria, mas ele se manteve firme:
― Isso não vai acontecer, porque não é verdade! Charlene não inventaria esquemas cruéis e perversos. Sobre eu me arrepender... ― Ele se aproximou tanto de Deirdre que a jovem sentiu o hálito quente quando enunciou cada palavra, enfaticamente ― Nunca me arrependo de nada! ―
― Está bem ― a jovem sorriu ― você não vai se arrepender de nada. ―
Cada segundo daquele sorriso fazia Brendan querer subir pela parede. Então ele girou nos calcanhares, fugindo da expressão de Deirdre e falou, em tom áspero:
― Vamos! ―
Deirdre abaixou a cabeça e o seguiu obedientemente. Eles entraram em uma das salas VIP do estabelecimento, onde o som de uma rave estrondosa os atingiu, assim que a porta foi aberta. A música foi posteriormente desligada, mas muito de sua alegria inicial permaneceu. Deirdre podia ouvir risadinhas e cochichos, de homens e mulheres.
Alguém se levantou e se aproximou:
― Senhor. Brighthall, bem-vindo! Sinceramente? Pensei que você não viria! Pessoal, liberem um lugar, por favor. ―
Então, os olhos do anfitrião encontraram Deirdre. O rosto da mulher parecia um pesadelo, especialmente quando iluminado pelas luzes do clube. Ele congelou por um momento, antes de perguntar, cautelosamente:
― Quem é ela? ―
Brendan deu um sorriso cruel:
― Tenho me sentido mal do estômago, ultimamente, então trouxe alguém para beber em meu lugar. Espero que você não se importe. ―
― Deus, quem se importaria? Estamos felizes por você nos agraciar com sua presença! ― O homem respondeu ― Vamos, sente-se aqui! ―
O anfitrião se colocou entre Brendan e Deirdre, deixando claro que apenas o empresário teria lugar à mesa. Deirdre foi deixada na porta, rígida e desajeitada, como uma estátua, sem que ninguém lhe lançasse sequer um olhar.
Aquele era o tipo de lugar onde as pessoas estavam acostumadas a lidar com pessoas poderosas e todos os seus caprichos e sutilezas mais estranhos. Por isso, o desprezo com que Brendan olhava para Deirdre tinha sido captado por todos, que naturalmente, adotaram a postura de desprezar a jovem.
Então, uma mulher arrastou um banquinho desconfortável e o colocou na frente de Deirdre:
― Desculpe, moça ― ela disse, enquanto segurava o riso ― não tem mais lugar no sofá. Mas, você pode sentar aqui. ―
Deirdre se agachou e procurou o banquinho que tinha sido colocado em um canto tão apertado, entre a parede e o sofá cheio de gente, que não havia forma de Deirdre se sentar comodamente.
O grupo começou a rir e uma voz se destacou:
― Ahhh, Senhor Brighthall, o senhor nos trouxe um palhaço de festa! O senhor é mesmo imprevisível! ―
Deirdre já estava acostumada com a zombaria e desprezo a essa altura, mas ainda achava o simples ato de levantar a cabeça, um desafio. A própria força da humilhação parecia pesar em seu pescoço.
Vinho e mulheres eram passatempos divertidos e agradáveis, para qualquer jovem rico, mas o grupo logo se cansou disso e um deles, um jovem com um colar extravagante no pescoço, decidiu se divertir com a novidade da sala. O rapaz pegou uma bebida e colocou na frente de Deirdre.
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