Ciclo de Rancor romance Capítulo 37

Deirdre ouviu o som de algo quebrando e sentiu seu corpo queimar, como se Brendan tivesse erguido o braço e desferido uma bofetada com toda a força de sua ignorância, tamanho foi o impacto daquele pedido absurdo. A jovem constatava que o monstro não pouparia esforços para atormentá-la e realmente a faria se ajoelhar diante de Charlene. A ideia é que a jovem se humilhasse perante todo o hospital, não apenas para sua rival.

‘Não sou uma pessoa para ele? Não me resta nenhuma dignidade?'

Seu coração doía tanto que parecia que uma corda tinha sido apertada em torno dele e apertado até que se desfizesse em sangue. Seus olhos estavam úmidos, mas, ela não conseguia mais derramar nenhuma lágrima. Depois de alguns segundos, Deirdre respirou fundo e disse, com os punhos cerrados:

― Está bem... Vou me ajoelhar e pedir desculpas a Charlene, contanto que você deixe Sterling fora disso! ―

Houve um momento de silêncio mortal. E um estrondo de madeira foi ouvido, seguido pelo som de tábuas caindo no chão. O monstro tinha chutado a mesa e, pelo jeito, quebrado.

A jovem sentiu a raiva avassaladora que tomava conta da cozinha e pensou:

‘Por que Brendan está ainda mais raivoso, apesar de ter seu conseguido o que queria? O que mais ele espera de mim?’

A jovem não tinha ideia, assim como não tinha ideia do motivo pelo qual Brendan a tinha forçado a voltar para sua maldita mansão. Afinal, mesmo que estivesse procurando uma escrava para realizar suas necessidades, não deveria se contentar com uma pessoa com o rosto tão hediondo quanto o dela.

O hospital ligou para informar Brendan que Charlene havia acordado e ele terminou de descontar sua raiva em Deirdre. A pessoa do outro lado da linha contava que Charlene estava chorando de dor e chamando seu nome. Brendan virou a cabeça e olhou ferozmente para Deirdre, depois de encerrar a ligação:

― Você ouviu isso? É sua culpa que Charlene esteja passando por essa dor! ―

O coração de Deirdre era corroído pelo sentimento de injustiça. 'E de quem foi a culpa quando fui brutalizada e desfigurada na prisão?'

Brendan ficou furioso pelo silêncio insistente de Deirdre e a arrastou até o carro, jogando-a no banco do passageiro, antes de se sentar atrás do volante e guiar para o hospital.

Chegando lá, foram direto para a enfermaria, mas Deirdre podia ouvir os gritos de Charlene, antes mesmo de chegar à porta. Parecia que ela estava com uma dor agonizante devido, ao ferimento.

Brendan se aproximou de Charlene, com pressa. E a impostora passou os braços em volta da cintura de Brendan, o abraçando:

― Brendan! Isso dói muito! Eu sinto que vou morrer! Você pode, por favor, pedir ao médico por mais analgésicos? Dói demais... eu preferiria... preferiria morrer! ―

Brendan franziu as sobrancelhas e acariciou as costas da mulher:

― O pior já passou, a cirurgia está feita. Aguente um pouco mais. Tudo vai melhorar, em alguns dias. ―

― Mas, eu não posso mais dançar. Você gosta de me ver dançar, mas não posso mais dançar para você... ― As lágrimas de Charlene escorriam por seu rosto, sem parar. Mas, quando viu Deirdre parada à porta, seu rosto empalideceu ― Por que ela está aqui? O que ela está aprontando, desta vez? ―

Charlene entrou em pânico e Brendan a confortou, com voz gentil:

― Não tenha medo. Farei com que ela se desculpe. ― Então, o monstro se virou para a jovem desfigurada e falou, com uma voz cruel e áspera ― Eu trouxe você aqui para que ficasse escorando a porta como um poste? ―

Deirdre cerrou os punhos e franziu os lábios, até que se tornassem uma fenda, mas não conseguiu resistir à ameaça de Brendan e se ajoelhou diante de Charlene.

Sentindo o sangue se esvair de seu rosto, e a sensação de que não suportaria tamanha humilhação, a jovem cega disse, em voz fraca:

― Sinto muito por ter causado seu ferimento. Por favor, me perdoe. ―

Um olhar de surpresa passou pelos olhos de Charlene. Ela não esperava que Brendan obrigasse Deirdre a fazer isso.

‘Acontece que Brendan me ama e considera Deirdre um nada. Caso contrário, por que ele a faria se ajoelhar diante de mim?’

Charlene estava encantada, mas não demonstrou. Pelo contrário, se encostou em Brendan, com uma expressão de medo persistente, no rosto, e disse, entre soluços:

― Sinto muito, Deirdre. Tenho medo de você. Sei que não sou nenhuma santa, mas é sua culpa que eu não possa mais dançar, então não posso te perdoar... Por favor, permita que eu me acalme primeiro? ―

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