Ciclo de Rancor romance Capítulo 80

Os outros dois seguranças de Brendan seguiram no carro atrás de Sam e se juntavam ao colega no hospital. Eles claramente tinham suas próprias opiniões sobre todo o incidente, mas trocavam suas impressões entre cochichos, para que Brendan jamais ouvisse.

― Que diabos tem acontecido com o chefe ultimamente, cara? Ele está agindo como se tivesse perdido a vontade de viver só porque a Cara de Amolar Facas tinha sumido ― sussurrou um deles ― Ele estava com um olhar que não era nada sutil... ―

― Você não acha... que ele se apaixonou por aquela aberração, acha? ―

― Mano, eu acho natural que a gente se preocupe pelas pessoas. Ter afeto não tem a ver com aparência, tem? Senão sua mãe teria jogado você na lixeira, há muito tempo! ― O brutamontes sorriu, mostrando os dentes, antes de concluir ― Por outro lado, é claro que o Brighthall não tá apaixonado pela Cara de Amolar Facas, né? Essas coisas só acontecem em novelas! Imagina que inferno, acordar, de manhã cedo e olhar para aquela carinha dela. Primeira coisa na manhã? Todo santo dia? ―

― Cala a boca! ― Sam estalou, cansado de ouvir tantas barbaridades dirigidas a uma jovem tão gentil.

Seus olhos estavam selvagens e em fúria. Era perturbador ver alguém famoso por sua paciência, em tal estado, então os dois pararam de falar, sem questionar.

Sam se agachou. Ele não conseguia tirar da cabeça a imagem de Deirdre chorando.

O homem passou os dedos pelos cabelos, em frustração. A princípio, seus únicos sentimentos por Deirdre, aquela mulher triste e cega que passou por um trauma terrível e que terminou com o rosto arruinado, foram de simpatia. Mas, tantas provações continuaram acontecendo a ela, que Sam começou a pensar que não havia justiça no mundo. Ele não entendia por que ela sofria tanto. Então, a simpatia se transformou numa sincera torcida pela felicidade de Deirdre.

Mas, tinha mais coisa nessa história. A maneira como o Senhor Brighthall a olhava, era repleta de conflitos internos. Ele claramente se importava muito com ela, mas nada disso se traduzia em gentileza quando ele falava. Ele era todo insulto e humilhação.

Por outro lado, havia a maneira como o Senhor Brighthall tinha ficado desproporcionalmente furioso com a provocação de Deirdre. ‘Está certo que ele sempre teve o pavio curto, mas porque aquela mentira óbvia da jovem tinha o acertado tão em cheio? Ele sentia tanto ciúme assim? Ciúme?’ Sam suspirou.

O grupo esperou por horas, até que finalmente a luz do lado de fora da sala de emergência ficou verde. Enquanto Deirdre era levada para uma enfermaria, Brendan correu para o médico que a tinha tratado:

― Como ela está? ―

Foi uma das enfermeiras que lhe respondeu:

― Como ela está!? Talvez eu devesse perguntar a você! Você é da família dela, certo? Você sabia que ela ingeriu uma droga tão forte que fez um estrago imenso em seu organismo? Ou que, ao invés de trazê-la para o hospital, alguém teve a infeliz ideia de encharcá-la com água gelada? Seu corpo não resistiu ao tormento e ela quase morreu! ― A mulher franziu a testa, indignada ― Em toda minha vida, eu nunca vi uma pessoa tão quebrada em uma idade tão jovem. Se a situação abusiva em que ela vive continuar, não acredito que ela sobreviverá por mais um mês! ―

O rosto de Brendan estava branco como papel. Ele não pôde evitar que a enfermeira se afastasse:

― Espere! O que quer dizer com ‘ela consumiu uma droga muito forte’? ―

― Foi um afrodisíaco muito poderoso, mas ilegal. Do tipo que causa danos reais ao corpo, se houver alguma reação alérgica. Se a reação tivesse sido um pouco mais forte, ela nem chegaria viva ao hospital. ―

A mente de Brendan ficou em branco. ‘Foi por isso? Foi por isso que ela se jogou em qualquer homem que apareceu em seu caminho? Não era porque ela era uma vadia...? Deus... Oh Deus!’

Ele cerrou os punhos e seu peito começou a doer, em profundo arrependimento.

― Sam ― ele respirou fundo e fechou os olhos. Quando os abriu, suas pupilas negras refletiam a intenção de um homem disposto a matar por vingança ― eu quero que você investigue aquele cliente bêbado com quem ela estava. Quero que descubra quem drogou Deirdre e os faça desaparecer de Neve. ―

― Entendido. ―

Brendan voltou para a velha mansão sozinho, naquela noite. Embora já fosse madrugada, ele podia ver que ainda havia luzes das janelas.

Ele empurrou a porta da sala de estar e encontrou Charlene e Madame Brighthall acordadas e conversando. O ar ficou instantaneamente pesado. Mas, Charlene conseguiu simular alegria e correr para Brendan:

― Bem-vindo ao lar, Bren! ―

Ele pigarreou friamente e tirou o casaco molhado.

Charlene mordeu o lábio e perguntou:

― Bren? Já faz quase dois dias... Você descobriu onde ela estava? ―

Brendan cerrou as mãos:

― Sim. ―

― Ah, que ótima notícia! ― O grito de alegria de Charlene enganou o fato de que ela estava sorrindo com os dentes cerrados. ‘Como essa cadela foi encontrada tão cedo? Droga, aquela imprestável só tinha uma tarefa e conseguiu errar?! Essa cadela maldita não para de me assombrar!’

Madame Brighthall estava quieta, mas ouvir que Deirdre estava segura a fez soltar um suspiro. Seu alívio durou pouco, pois sua expressão escureceu e ela olhou para Brendan:

― Bem, então. Agora que a jovem foi encontrada, certamente não é injusto pedir uma conversa entre uma mãe e seu filho. Certo? ―

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