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Como arruinar a vida do meu ex em 10 episódios romance Capítulo 4

Fiquei muda. Não que eu quisesse, mas a minha voz não saiu. O silêncio se fez presente entre nós, uma em cada canto do país, ligadas através de um aparelho celular.

- Tayla, você ainda está aí?

- Nona, isto não é possível! Você é a pessoa mais forte que eu conheço.

- Querida, estou indo para oito décadas de vida! Acha mesmo que sou forte? Meus ossos doem, minha visão é embaçada, tenho preguiça de levantar cedo, estou dormindo antes das galinhas... Então está mais que na hora de eu voltar para onde vim: “dó pó ao pó”.

- Não... Fale isto... Por favor! – Pedi, num fio de voz.

- Sei da situação entre você e Ryan e do quanto o que peço é difícil para ambos.

- Não deve ser nada difícil para ele. Não esqueça que quem fez tudo errado foi Ryan, Nona.

- Engraçado é que ele diz exatamente o contrário.

- Mas você sabe tudo que houve... Sabe que Ryan não tem razão.

- Amo vocês dois, de maneira igual. E atribuo a culpa a ambos.

- Eu... Acho que não é hora de falarmos sobre isto, Nona. – Eu não queria brigar com ela, principalmente depois de receber aquela notícia que me deixou totalmente aterrorizada.

- Pode vir e não falarmos absolutamente nada sobre isto, meu amor. Pedirei o mesmo a Ryan, caso queira. Eu tenho no máximo seis meses com vocês. E sei o quanto os verões eram especiais no Rancho Palmer quando os tinha aqui comigo. Meu último desejo é que possamos passar o último verão juntos, aqui... Eu, você, Ryan, Lewis...

- E... Aydan?

- Claro, claro! Adoro Aydan e ele sempre será bem-vindo na minha casa. O receberei tão bem quanto ele me recebe aí.

Nona e Aydan se davam muito bem. Aliás, era impossível alguém não adorar Aydan. O mesmo acontecia com Nona. Então era meio óbvio que os dois teriam uma relação de respeito, amizade e carinho.

- Nona, você disse seis meses. Sabe que não aceitarei isto, não é mesmo? Precisamos procurar outros médicos, e tratamentos alternativos...

- Eu já tomei a decisão, Tayla: não farei o uso de radioterapias, quimioterapias ou medicamentos fortes. E ninguém me fará mudar de ideia.

- Nem Lewis? – tentei – Sabe o quanto ele sofrerá se você morrer.

- E eu sei que você não contará a verdade a ele, Tayla. Lewis é tudo para mim... Como se fosse o meu bisneto.

- Mas ele... Não é. E... Você sabe disto, não é mesmo? – minha voz falhou ao final – Eu não quero ser indelicada, mas... Lewis é meu. Só meu!

- Achei que fosse também de Aydan, o pai dele.

- Ah... – senti meu coração acelerar – Óbvio que sim.

- Lewis será o único bisneto que conhecerei, já que a considero minha neta de verdade, Tayla. E sabe que Ryan certamente não terá filhos.

- Não, não poderão – ela riu – E... Eu já fiz o testamento. E gostaria de compartilhar com vocês a minha decisão.

Novamente um frio percorreu minha espinha. Aquilo estava se tornando real demais. E eu não estava preparada para me despedir de Nona... E do Rancho Palmer, para sempre.

- Eu não tenho direito em nada, Nona.

- Se eu a chamei para o testamento, é porque você tem importância suficiente para isto, Tayla.

- Nona, não... Por favor.

- O Rancho Palmer é muito mais que uma grande extensão de terras, minha querida Taylice – o “Taylice” me fez voltar no tempo, como se estivesse prestes a cair no buraco profundo e sinuoso do coelho branco – No Rancho Palmer, como no País das Maravilhas, quase todo mundo é louco. Mas alguns, merecem um final feliz.

Abri o portão e entrei com o carro. A casa principal surgiu à frente, suas janelas refletindo o pôr do sol como olhos vermelhos. Algo dentro dela sussurrou, igual à Alice diante da porta minúscula: "Você está grande demais para este lugar. Nunca vai caber aqui de novo."

Lewis remexeu-se no banco de trás do carro, durante seu sono, murmurando algo incompreensível.

Engoli em seco quando o carro aproximou-se ainda mais da casa e o reconheci, de costas, recostado na parede da varanda de madeira descascada, a silhueta tão perfeita quanto uma moldura. O mesmo ombro largo que carregara minha mochila na volta da escola, a mesma nuca bronzeada que eu costumava beijar escondida na casa da árvore.

Cinco anos haviam se passado. Meu coração acelerou como se o tempo tivesse dobrado sobre si mesmo. Eu podia jurar que ele ficou mais alto, mais largo, mais... perigoso. As cicatrizes da adolescência ainda estavam lá, invisíveis, mas palpáveis: no jeito que ele inclinava a cabeça, nos dedos que batiam inquietamente no corrimão de madeira.

"Bem-vinda de volta à toca do coelho, Tayla Torres. Desta vez, a queda vai te quebrar."

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