Falo com papai todos os dias, nem que seja apenas para dizer oi. Muitas de nossas conversas não duram mais que cinco minutos, mas há anos adquirimos o hábito de reportar apenas o que é mais importante, aquilo qual trabalhamos no momento e o que nos tira o sono em nossos projetos.
Me acostumei com papai vindo para casa duas vezes ao mês para me ver. Confesso que isso fazia cada visita ser, de alguma forma, especial. Entendo que o trabalho nem sempre dá espaço para uma vida pessoal ampla, mas há coisas no mundo que requerem nossa atenção e não podemos ignorar. Meu pai é um exemplo disso e tenho me inspirado nele desde sempre.
Estou muito feliz que ele e mamãe vão finalmente voltar a morar juntos, sob o mesmo teto todos os dias. Ainda que meus pais nunca tenham tido problemas sérios no casamento que não pudessem resolver, papai sempre esteve fora a trabalho e mamãe, mesmo trabalhando, estava presente em casa para cuidar de mim em tudo que precisava.
Eles merecem esse segundo casamento, uma chance de ficarem mais perto e cuidarem um do outro sem se preocupar comigo, afinal, tudo que fizeram desde que nasci, em suas vidas, foi por mim. E agora, graças a eles, posso dizer que sou capaz de caminhar com minhas próprias pernas.
Mas estou louca por um feriado para que possa passar ao menos vinte e quatro horas ao lado dos dois. Nunca senti tanta falta deles como sinto agora.
Chorei um bocado nas primeiras noites. Precisava muito falar com alguém, abrir meu coração, dizer como estava me sentindo, como estavam indo as coisas por aqui. Nessas horas eu sempre tinha Katie e Leon por perto e agora, de certa forma, não tenho nenhum dos dois.
Todas as vezes que encostava a cabeça no travesseiro, me lembrava de ter deixado Katie partir. Sei que ela estava apaixonada como nunca havia visto, mas algo em meu coração me condena dia após dia, dizendo que deveria ter pedido que ela ficasse, que não me deixasse, que ficasse comigo para sempre.
Confesso que a queria aqui me acompanhando, dividindo minhas alegrias e confortando meus momentos difíceis. Queria seu beijo, suas palavras em meu ouvido. A queria em minha cama e ao meu lado, como sempre foi.
Todos os dias quando acordo desejo que, seja lá onde ela estiver, esteja tão feliz quanto merece ser. Minhas esperanças de revê-la se esvaíram com minhas lágrimas nos dias seguintes após minha chegada em Cambridge, sem qualquer notícia. Ken me pareceu muito sério em nossa última conversa. E Katie estava determinada a segui-lo onde quer que fosse. Tudo que me resta é torcer para que ele a ame tanto quanto sei que ela o ama.
Não tenho falado com Leonard desde que lhe contei sobre Katie. Ele ficou furioso, embora eu saiba que sua raiva é apenas uma manifestação da dor em seu coração. Todos os dias ele deixa mensagens em meu Facebook, com fotos dos lugares onde está estudando e seus progressos. No entanto, não responde minhas mensagens, nem atende minhas ligações.
Já me sinto bastante culpada por permitir que Katie partisse, mas como não a apoiar quando eu mesma cheguei a considerar a ideia de mudar meus planos por Leonel? Se ele tivesse me pedido para ficar, talvez tudo estivesse diferente agora. Não sei se teria aceitado a oferta, mas havia uma possibilidade.
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