Contos Eróticos: O Ponto I romance Capítulo 3

Voltar para casa pelo caminho sombrio e assustador em plena madrugada havia sido fácil. Difícil fora entrar em casa discretamente.

A rua onde morava estava deserta e silenciosa como sempre àquela hora, mas ao virar a esquina, os cachorros no quintal de uma residência começaram a latir, começando a caótica série de eventos que ocorreriam em seguida.

Como sempre acontece, os cães latindo em uma casa no fim da rua fazem com que os cães na casa do vizinho repitam o processo, respondendo os latidos. Esse efeito dominó sempre dura até chegar em sua própria casa e Isadora sabia que naquele ritmo, em menos de cinco minutos, Leon, Claire e Albert, os três Yorkshires de sua mãe levantariam de suas camas para começar o terror. Quem tem essa raça de cão sabe como são barulhentos.

Disposta a não ser pega fugindo atrás de homem pela primeira vez, Isadora correra o mais rápido possível, como o Zé Carioca sentindo a presença de cobrador. Ironicamente, não considerara uma pequena falha em seu plano: as botas que usava.

Ao correr desenfreadamente pela calçada, os saltos faziam mais barulho que se caminhasse silenciosamente. Isso alertara possivelmente os cães de todo o quarteirão ainda mais rápido.

Chegando onde morava, parara próxima a um ponto na cerca com acesso direto para a janela de seu quarto. Havia deixado uma tábua solta na cerca do jardim de sua mãe a fim de poder passar por ela e não ter de pular o muro ou fazer barulho abrindo o portão.

Quase tudo saíra como planejado. Quase.

Quando já havia passado todo o corpo para dentro do quintal, sem ver o que tinha pela frente no escuro, Isa pisara na cauda de Fionna, a gata do vizinho que dormia tranquilamente. A criatura miara tão alto que certamente seria o foco das fofocas na rua no dia seguinte.

Por que o mundo conspirava contra ela? – pensara.

Agora era uma corrida contra o tempo antes que seus pais acordassem.

Felizmente havia deixado a janela aberta com as cortinas fechadas, pronta para quando voltasse. Correra e saltara, caindo de cabeça para baixo no lado de dentro, a cara enfiada em uma enorme almofada estrategicamente posicionada.

Os óculos tinham ido parar longe e na escuridão era impossível os encontrar. De qualquer forma, não havia tempo. Engatinhara para a cama enquanto soltava os cabelos e se desvencilhava da jaqueta e da blusinha. Entrara por debaixo das cobertas ainda vestindo as calças e as botas.

Deitara a cabeça no travesseiro no momento exato em que ouvira as batidas na porta, três, como sempre. Logo em seguida viera o som da maçaneta girando e uma pequena fresta se abrira, por onde Dona Lúcia olhava para a escuridão no interior.

—Isa? Está dormindo? – indagara a mãe quase em um sussurro – Parece que Fionna estava namorando no nosso quintal de novo e acordou a cachorrada da vizinhança toda. Por via das dúvidas, seu pai foi dar uma espiada.

Improvisação. Isadora estava com a expressão cansada e assustada e ainda que o quarto estivesse com a luz apagada, Dona Lúcia tinha um radar que nunca falhava em identificar como a garota se sentia. Felizmente há anos Isadora tinha aprendido a arte de improvisar.

—Ela não estava no quintal, mãe – respondeu – Estava aqui no quarto. Levei um susto quando ela saltou pela janela. Deve ter saído para caçar.

—Dormindo com a janela aberta de novo? – Dona Lúcia não era severa, mas adorava repreender – Já te disse para evitar. Mesmo com a segurança no bairro, é melhor não dar brechas. Tente dormir de novo.

—Vou passar uma água no corpo. Esse susto me despertou – respondeu a garota segurando a respiração ofegante pela corrida – Depois caio na cama de uma vez.

—Lembre-se que tem inglês pela manhã, não vá dormir muito tarde – dissera a mãe, já fechando a porta – Boa noite, te amo, querida.

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