Lúcia Mendes
Acordei com a cabeça latejando como se alguém estivesse batucando com martelo lá dentro.
"Ah, merda..."
Levei a mão à testa. O gosto amargo na boca, o cheiro de álcool impregnado na pele. A lembrança da noite anterior piscou atrás dos meus olhos: os beijos, o calor, a risada dele, o jeito como me olhava... E, por último, ele entrando num carro caro demais, com aquele sorriso de quem escondia segredos.
Sacudi a cabeça, tentando apagar a cena. Eu não tinha tempo pra isso.
"Ah Deus, porque fiz isso." tudo a minha volta rodou, e senti a ânsia bater forte.
Olhei pro relógio apenas para conferir a hora.
"Caralho!"
Eu estava atrasada. Muito atrasada.
Saí do quarto tropeçando, ainda tentando fechar o botão da calça. Cruzei a sala correndo, quase esbarrando na mesinha de centro.
Minha mãe estava no sofá, encolhida numa manta fina, o cabelo grisalho preso num coque frouxo. Os olhos dela se ergueram para mim, cheios de preocupação.
"Lúcia? Filha, você dormiu bem? Você chegou tão tarde ontem..."
Diminuí o passo por um segundo. Soltei o ar, tentando sorrir.
"Desculpa, mãe. Eu... tive uma noite cheia."
Ela estendeu a mão pra mim, como se quisesse segurar a minha.
"Você não vai comer nada? Um café rápido, pelo menos."
Meu peito apertou. Inclinei-me e beijei sua testa fria.
"Não dá hoje, tá? Estou atrasada. Mas à noite a gente conversa, prometo. Te amo."
Ela suspirou, passando a mão na minha bochecha com carinho.
"Se cuida, filha."
Dei mais um beijo na testa dela.
"Você também, mãezinha."
E saí correndo, apertando a bolsa contra o peito como se fosse o último pedaço de segurança que eu tinha.
Desci as escadas quase tropeçando nos próprios pés, o coração batendo descompassado. Segurei o celular com força, como se ele pudesse me salvar de alguma forma.
Quando alcancei a calçada, ergui o braço num gesto desesperado para um táxi.
Nada.
Os carros passavam sem nem reduzir a velocidade, ignorando meu aceno implorante.
Outro passou reto.
"Por favor!"
A chuva fina da manhã me encharcou o cabelo preso de qualquer jeito. Quando finalmente um carro passou devagar, jogou lama direto na minha calça.
Fechei os olhos. Respirei fundo.
"Ótimo. Maravilhoso. Continue me chutando, universo."
Comecei a correr. Saltos afundando na calçada rachada. O vento frio batendo no rosto. O desespero me sufocando. Eu não precisava dar mais motivos para aqueles cretinos.
Cheguei à frente da DRTech ofegante. As portas automáticas se abriram com um suspiro mecânico.
Entrei quase me arrastando até a catraca. Passei o crachá.
Vermelho.
Franzi a testa. Passei de novo.
Vermelho.
"Vamos!"
O segurança se aproximou, pigarreando.
"Senhorita Mendes... Seu crachá foi bloqueado."
Parei.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Contratando um CEO como Acompanhante