Elas Não Merecem Suas Lágrimas romance Capítulo 172

O enorme impacto lançou o carro para o alto!

A carroceria girou duas vezes no ar, como uma pipa sem linha, até que – com um estrondo – caiu em meio à vegetação à beira da estrada.

O airbag disparou instantaneamente, estilhaços de vidro voaram por todos os lados.

O veículo de escolta que vinha logo atrás freou bruscamente, e os seguranças, pálidos, correram em direção ao acidente.

– Sr. Guimarães!

Eles, atordoados, abriram a porta do carro. Encontraram Nereu caído no banco de trás, a testa aberta por um corte, o sangue escorrendo pelo rosto de traços firmes, já completamente inconsciente.

……

Escuridão total.

Ao redor, apenas trevas sem fim. Ele parecia ter voltado àquela noite de inverno, tantos anos atrás.

Na casa simples de um lavrador, feita de adobe, a luz do lampião era fraca e amarelada.

Sobre a cama, repousava uma figura pequena, o rosto ardendo em febre, os lábios secos e rachados.

– Mano... – a menininha, fraca, segurou sua mão, o calor febril atravessando a pele. – Não me deixe, Juliana...

Ele, com o coração apertado, acariciou a mão dela.

– Juliana, fique tranquila.

Sua voz ainda tinha a clareza da juventude.

– Você está com febre, não pode andar comigo agora. Quando melhorar, depois do Ano-Novo, volto para te buscar.

Tirou do bolso um aviãozinho de papel dobrado, colocando-o cuidadosamente na mão quente dela.

As lágrimas da menininha vieram de repente.

– Irmão Nereu... você tem que voltar...

– Sim. – Ele assentiu com firmeza, com a solenidade típica dos adolescentes. – Eu vou voltar, prometo.

Pegou outro papel do bolso e, com lápis, escreveu cuidadosamente um endereço.

– Este é o endereço da minha casa. Guarde bem, não o perca de jeito nenhum.

– Onde estou? – Sua voz saiu rouca, ainda pesada pelo despertar.

– No Hospital Central de Cidade Iguaçu – respondeu Nilo rapidamente. – O senhor sofreu um acidente de carro ontem, no caminho de volta, e ficou inconsciente por um dia e uma noite. O médico já o examinou, disse que não há nenhum problema grave, apenas uma leve concussão e alguns ferimentos superficiais.

Nereu não ouviu mais nada do que Nilo dizia. De repente, levantou o braço e arrancou, sem hesitação, a agulha do soro presa à mão.

O sangue brotou na hora.

Nilo se assustou:

– Sr. Guimarães, o que está fazendo?!

Nereu jogou o lençol para o lado e sentou-se, decidido, com o olhar firme e a voz inquestionável.

– Quero voltar para Baía de Salvador.

Imediatamente, sem demora!

A urgência o dominava. Ele precisava vê-la – sua Juliana.

Ele a esquecera por doze anos inteiros. Agora, queria compensar tudo o que lhe devia.