Ensina-me romance Capítulo 3

Massageando a têmpora na esperança de amenizar as pontadas na cabeça, Simon ouvia entediado o que a mulher de olhos negros, cabelo marrom, vestindo um microvestido azul dizia. A voz dela era irritante, o cruzar e descruzar de pernas eram irritantes e as caras e bocas eram irritantes. Tudo naquela mulher o irritava, mas o principal era que ela o obrigava a perder seu precioso tempo para entrevistá-la quando era óbvio que desejava muito mais que ser sua governanta. Era evidente no modo de sorrir, de fingir ter pudor ao puxar devagar a barra do vestido ultrajusto para cobrir — obviamente sem sucesso — as coxas grossas e no modo como se inclinava por qualquer motivo oferecendo ao Salvatore uma bela visão dos seios fartos.

Cerrou os olhos por um instante após a oitava vez que ela cruzou e descruzou vagarosamente as pernas desde que começara a entrevistá-la. Presumia que ela assistira Instinto Selvagem demais.

Não era a primeira entrevistada a se insinuar descaradamente para ele. E em outro dia, em outro local ou até mesmo ali, após uma noite produtiva na balada, Simon aceitaria com satisfação o convite. Só que, por uma questão de bom senso, não seria louco de contratar uma mulher que faria hora-extra em sua cama. Jamais teria sexo casual com alguém que possuísse total acesso a sua casa e que em um impulso de raiva colocasse fogo em tudo.

No momento, a única coisa que desejava era contratar alguém para deixar seu apartamento em ordem, suas roupas limpas e perfeitamente alinhadas no guarda-roupa, e garantir que quando chegasse, da balada ou do trabalho, tivesse algo para comer. Um desejo simples e prático, mas pelo jeito impossível de se obter.

— O senhor pode ter certeza que realizarei cada uma de suas fantasias — a morena insinuou passando a língua pelos lábios de modo sugestivo.

Certo! Instinto Selvagem era um filme muito cabeça para aquela mulher, que com certeza vira a cruzada de pernas e o gesto libidinoso em algum filme pornô de quinta categoria.

— Senhorita Moraes, procuro uma governanta, não uma... — freou a vontade de dizer transa e se levantou. — Agradeço sua presença e, caso a escolha, irei lhe telefonar ainda essa semana. — “O que nunca vai ocorrer”, completou mentalmente enquanto andava decidido até a porta do apartamento e a escancarava. — Tenha um bom dia, senhorita Moraes.

— Aguardo ansiosa o seu telefonema, Simon.

Simon se perguntou em que ponto da entrevista dera tamanha intimidade àquela mulher para que ronronasse seu primeiro nome e o beijasse na face - e isso porque virara o rosto.

— Nova namorada, filho? — A distinta voz feminina às suas costas causou-lhe um leve tremor de apreensão.

Virou-se e observou sua mãe, Mirela Salvatore, elegante em uma combinação de saia lápis de listras brancas e pretas, camisa de manga longa branca e scarpin, caminhar na direção deles, os perspicazes olhos negros fitando com interesse a morena ao seu lado.

— Não, mãe — respondeu temendo as consequências da interpretação errônea. — Acabei de entrevista-la para a vaga de governanta.

— Mesmo? — Mirela olhou a mulher de cima a baixo, sorriu e comentou com ironia: — Na minha época as governantas vestiam mais roupa e não deixavam marcas de batom no rosto do futuro patrão. — Ignorando o palavrão que Simon soltou após passar a mão na bochecha e ver os dedos tingidos de vermelho, completou sarcástica: — Novo tempo, novas atitudes, certo...? Qual seu nome, minha jovem?

— Fernanda Moraes.

— Fernanda... Belo nome...

Mirela supôs que deixara evidente seu desagrado, pois a mulher se despediu rapidamente deixando-a sozinha com seu filho metido a conquistador. Assim que Simon fechou a porta, perguntou:

— Pensa em contratar aquela mulher, Simon? Não falo nada da sua vida... Digamos incorreta. Mas contratar uma mulher que deseja ser mais que uma funcionária é um perigo — avisou seguindo-o pela sala. — Logo ela vai querer um anel de diamantes no dedo e um polpudo acordo de divórcio.

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