Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 785

Eu tinha em minhas mãos uma flauta de cerâmica idêntica àquela da senhora de cabelos brancos, confirmando tudo o que eu suspeitara desde o início.

Ao notar meu olhar fixo na flauta, César, curioso, perguntou: "O que foi, senhorita? Essa não está bonita? Quer que eu pinte uma melhor?"

Balancei a cabeça e respondi em voz baixa: "Não precisa, esta está perfeita, obrigado."

"Senhorita, você está agindo de maneira estranha."

"Talvez tenham acontecido muitas coisas e eu esteja um pouco cansada. Vou ver seu primo."

Levantei a cabeça e sorri levemente: "César, de agora em diante, chame-me de cunhada."

Ele ficou surpreso: "Você... você não me odeia?"

Fiz um gesto para que ele se aproximasse, e quando ele abaixou a cabeça, acariciei seu cabelo: "Eu sei que suas mãos estão limpas, você não matou ninguém e até me ajudou a criar um corpo."

No fim das contas, César era também um produto trágico das circunstâncias, assim como eu.

César mordeu os lábios, perdido em pensamentos.

Abracei-o levemente: "No futuro, você encontrará uma garota que realmente te ame, e você terá um amor verdadeiro."

"Cunhada... você me amaria?"

Fitando seus olhos confusos, respondi com ternura: "Antes de amar alguém, você deve aprender a se amar."

"E se eu aprender, você me amará?"

"Eu e seu primo vamos te amar."

César fez uma careta, como se estivesse emburrado: "Eu não quero o amor dele, é nojento."

"Como se eu quisesse te amar", disse Nilton com desdém, aparecendo atrás de mim.

Ele me chamou: "Marlene, venha aqui."

César segurou minha mão e protestou: "Marlene, você não é um cachorro dele para ir sempre que ele chama, sem pensar em si mesma!"

Soltei-me e corri até Nilton, jogando-me em seus braços, e brinquei: "Au au."

César ficou perplexo: "..."

Nós dois já experimentamos o abandono um do outro.

Juntos na vida e na morte.

Já não dávamos tanta importância à vida e à morte. Brinquei: "Por que não escolhemos um bom lugar para um túmulo duplo?"

Se minha avó ainda estivesse viva e ouvisse isso, certamente diria que era algo azarento.

Mas ao meu lado estava Nilton.

Alguém que sempre me acompanharia em minhas travessuras, não importa o que eu quisesse fazer.

Ele me levou até uma grande pedra, onde nos sentamos lado a lado, contemplando o mar.

Além daqueles dias na cidadezinha, raramente tínhamos momentos tão tranquilos.

Nilton pegou a flauta de minhas mãos, com um leve sorriso nos lábios: "E então, qual lugar você gostaria?"

"De frente para o mar, com a primavera sempre chegando. Em volta de nós, muitas árvores frutíferas e flores, para que em todas as estações haja flores e frutos e você, mesmo depois de cem, mil anos, não me cansarei."