Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 977

Sentiu o sangue escorrendo lentamente do pulso; a princípio havia uma leve dor, mas logo veio o entorpecimento.

Ela chegou a se perguntar em pensamento: seria essa a sensação que sua irmã teve ao deixar este mundo?

Ao recordar tudo o que lhe acontecera ao longo dos anos, percebeu que fora ao mesmo tempo uma pessoa de sorte e profundamente infeliz.

Apesar de Antonio ter feito tantas coisas, nos momentos finais em que a vida se esvaía, Mirella na verdade não o odiava nem um pouco.

Foi a presença dele que trouxe à sua vida não apenas o ódio, mas também muito calor e luz do sol.

Pensando bem, os dias na ilha foram os mais felizes; ela cresceu despreocupada, e Antonio voltava para vê-la de tempos em tempos.

Ele usava um avental para lhe preparar refeições e lhe ensinava a reconhecer cada planta e erva do campo.

À noite, ficava com ela no terraço para observar as estrelas.

Com a consciência se esvaindo, as imagens na mente de Mirella pararam naquele momento em que observavam as estrelas na ilha.

Ela estava deitada em seu colo, os cabelos escorrendo suavemente por sua calça.

Eles se apoiavam mutuamente, eram o refúgio um do outro.

No fim, o tempo ao qual ela mais queria voltar não era com a família Barbosa, mas sim aquele em que olhava as estrelas ao lado de Antonio na ilha.

Infelizmente, não há como recomeçar a vida; eles jamais poderiam voltar àquele tempo.

Bonitão, adeus...

Pum!

De longe, alguém soltou fogos, e no instante em que subiram ao céu, um estouro estridente cortou o silêncio.

No sono, Antonio teve um pesadelo.

Sonhou que Mirella, à beira da morte, se despedia dele, com sangue brilhando sob seu corpo.

Quando os fogos romperam a calmaria da noite e o arrancaram do sonho, Antonio abriu os olhos subitamente, banhado em suor frio.

Seus braços estavam vazios; Mirella não estava ali.

Será que ela tinha ido embora de novo?

Antonio olhou ao redor; o quarto estava completamente escuro.

Um pensamento ruim lhe passou pela cabeça. Ele se levantou depressa e foi ao banheiro, para ver se ela estava lá.

Ao abrir a porta, viu que o pesadelo se tornara realidade.

Depois de ser empurrada ao chão por Daniela, foi amparada por ela, que tentou levá-la embora.

Mas ela não podia sair; Antonio havia retirado as correntes, mas agora a mantinha presa para sempre com a vida de sua mãe como garantia.

Ela só pôde voltar para Antonio mais uma vez, dizendo para que não se preocupasse mais com ela.

Envolver-se com alguém como ela só traria problemas.

Antonio já decidira que iria se casar com ela; Mirella não conseguia definir o que sentia por ele.

Havia um pouco de dependência, mas muito mais repulsa.

Mas ela não tinha escolha; casar ou não para ela não fazia diferença, de qualquer maneira continuaria sendo mantida escondida por ele.

Com a data do casamento se aproximando, Mirella foi surpreendida ao encontrar Marlene!

Marlene apareceu em seu mundo disfarçada de Muda, evitando as câmeras de vigilância.

Na escuridão, sussurrou em seu ouvido: “Cátia, sou Marlene, eu renasci, não morri.”

Naquele instante, os olhos de Mirella finalmente voltaram a brilhar.

Sua irmã estava viva, não havia morrido!