Espelhos da Alma: As Duas Vidas de Marlene romance Capítulo 978

O reencontro com sua irmã foi algo que Mirella jamais esperava. Apesar de parecer um pouco irreal, ela realmente sentiu o calor do corpo da irmã.

Sua irmã lhe doou o coração e ainda usou outro corpo para protegê-la.

Mirella, de repente, percebeu que todas as mágoas dos últimos anos já não pareciam tão pesadas. Sua irmã havia sobrevivido.

Aqueles dias foram os mais felizes de sua vida, pois sua irmã esteve sempre ao seu lado. Mesmo quando sua irmã partiu por um tempo, ela voltou.

Quando sua irmã estava por perto, até mesmo Antonio lhe parecia muito mais suportável.

No entanto, Mirella temia que Antonio descobrisse a presença da irmã, por isso, todos os dias, diante dos outros, precisava fingir que não tinha intimidade com ela.

Mirella, porém, jamais poderia imaginar que tudo isso estava sendo observado por Antonio.

Numa noite escura, Antonio permaneceu sozinho do lado de fora, fumando com ar de melancolia.

Ele já sabia há tempos que aquela pessoa era Marlene. Não nutria nenhum ressentimento contra Marlene e, por isso, escolheu ignorar o fato.

Coincidentemente, seu irmão levara Marlene para perto dela. Após Mirella ter cortado os pulsos, a relação entre os dois caiu ao fundo do poço, e a presença de Marlene conseguia ao menos lhe trazer alguma alegria.

Ele sempre observava silenciosamente, de um canto, a interação entre as duas irmãs.

O rosto outrora apagado de Mirella foi ganhando, aos poucos, um sorriso.

Ela tinha pouco apetite e, já adulta, não possuía mais o semblante rechonchudo da adolescência.

Sempre que a abraçava, sentia o quanto o corpo dela era magro e ossudo.

Marlene inovava todos os dias para convencê-la a comer mais. Depois, ainda apareceu Karina Braga.

Karina era extrovertida e, por vezes, conseguia arrancar gargalhadas de Mirella.

Os dias pareciam, de fato, melhorar pouco a pouco, e Antonio, finalmente, achou que poderia realizar o sonho de casar-se com Mirella.

Antonio preparou-se com antecedência para esse momento: tirou fotos de casamento e mandou confeccionar um lindo vestido de noiva para Mirella.

Sua Cátia seria, sem dúvida, a noiva mais bela de todas.

No entanto, por mais que calculasse cada detalhe, Antonio não previu o acidente de Mirella.

No instante em que soube do acidente com o carro das três, Antonio sentiu o coração quase saltar do peito.

Mas, Cátia, perdoe-me.

Somente assim você poderá continuar vivendo.

Aproveitando a saída do pai, Antonio providenciou para que Joaquim Barbosa fosse salvo a tempo.

Abaixou-se e carregou Mirella inconsciente de volta ao quarto.

A brisa do mar veio de encontro ao seu rosto, dissipando o cheiro de sangue em seu corpo.

Era como se o tempo tivesse voltado ao passado, pois, ainda menina, ele já a carregava de volta para casa assim.

Ao longo desse caminho, ela cresceu, mas a distância entre os dois nunca mais pôde ser superada.

Ele sabia que, independentemente do ocorrido, ela era uma Barbosa e ele um Souza; jamais poderiam ficar juntos.

Aquele casamento fora apenas um sonho obstinado dele, e, no fim, antes mesmo de começar, já havia terminado.

Antonio olhou para a garota adormecida e exausta, trocou-lhe as roupas e, como fazia na infância, limpou gentilmente suas mãos e pés com uma toalha quente.