Ex-marido Frio: Amor Inesperado romance Capítulo 630

Rafael não ouviu o murmúrio de Pedro, já havia se misturado à multidão.

Seu ato de caminhar em direção à multidão foi completamente inconsciente.

A calmaria e a agitação ao redor continuavam, mas a festa era dos outros.

O coração, que antes pulsava freneticamente, já havia se acalmado após uma série de jogos de espera, transformando a expectativa em um vazio desolador de quem olha sem esperança.

“Como é que, nos dias de hoje, uma pessoa não consegue entrar em contato com sua família?”

“Quando ela estava viva, você e sua família nunca a trataram direito. Agora, meses depois de ela ter partido, não bastasse você não deixá-la em paz, ainda sai por aí espalhando fotos dela e fazendo alarde... Ela, que sempre gostou da tranquilidade e era tão reservada, por que você insiste em perturbá-la mesmo depois de ela ter ido embora...”

As contra-interrogações de Dionísio e as acusações de Pedro ecoavam em seus ouvidos, como lâminas afiadas que rasgavam seu coração já dilacerado, fazendo-o sangrar ainda mais.

As imagens do corpo deformado pelo tempo no necrotério e do perfil vislumbrado de relance ao levantar a cabeça assombravam sua mente, enfraquecendo ainda mais suas convicções já não tão firmes.

Se a pessoa no necrotério fosse Amélia, seus atos de buscar nela a imagem de uma estranha seriam uma nova forma de feri-la.

O desejo desesperado de descobrir a verdade e o peso da culpa por feri-la novamente competiam em seu peito, deixando-o com uma sensação de vazio e confusão.

Era como se o tempo tivesse regressado àquela noite em que a perdeu, quando chegou às pressas ao local da obra e recebeu a notícia de que ela havia caído no rio, sem ter a chance de vê-la pela última vez.

Um simples "até logo" na saída tornou-se um adeus para sempre.

Ele pensava que aquela noite havia sido a dor máxima, mas não imaginava que, nas noites e dias seguintes sem poder vê-la, a dor da perda seria uma presença constante e palpável.

Pelo caminho, vitrines exibiam roupas e malas, e uma manequim à porta vestida com um elegante sobretudo bege e um cachecol lembrava Rafael da tarde em que soube que ela levaria Laura embora. Correndo para o aeroporto, no meio da multidão, viu-a agachando para arrumar o cabelo de Laura, numa gentileza serena.

Foi a primeira vez que ele viu Amélia e Laura juntas.

E a primeira vez que realmente percebeu que ela havia dado à luz sua filha.

Quase no mesmo momento, Rafael também foi trazido de volta à realidade pelo telefone de Bruno.

Ele olhou para o celular, atendeu e se virou.

"Alô?"

"Alô?"

As duas vozes soaram ao mesmo tempo, enquanto se esbarravam.

Rafael fez uma pausa súbita e virou-se rapidamente.

Amélia também hesitou, parecendo confusa por um momento, mas apenas por um instante. Ela sussurrou ao telefone "Estou indo agora", preparando-se para continuar andando quando uma força repentina agarrou seu braço por trás, puxando-a com força. Quando Amélia levantou os olhos, confusa, viu Rafael e o turbilhão que se formou em seus olhos escuros.