Perigoso (Letal - Vol.2) romance Capítulo 30

Eu andava de um lado para o outro, tentei controlar o choro e olhava para Dom deitado na cama improvisada, largado como se fosse um bicho, sem um mínimo de cuidados. Cheguei perto inúmeras vezes, mas me recordei que agora somos os traidores. Então coloquei a mão na testa do ruivo deitado e notei a febre alta.

— Não vão te dar medicamentos, vão? — falei baixinho, tirei uma mecha ruiva de cima do sangue e olhei seus olhos fracos.

— Vão. — sussurrou devagar — Eu acho.

— Você não estava levando a gente pra um lugar seguro, estava? — ele negou e eu enchi os olhos de água — Quando eu sair daqui, Dom… eu quero você longe de mim e da minha filha.

Eu fui pra um canto, sentei pensativa, chorei um pouco mais e ninguém apareceu. O frio do lugar estava forte, Dom tentou levantar e só gemeu de dor. Eu fui até as grades, gritei por alguém e nenhuma alma me ouviu. Estava ficando tarde, Pray precisava mamar e o meu peito doía. Eu gritei e chamei por ajuda, Dom me olhava sofrido e o meu chamado não foi atendido.

(...)

Minha cabeça estava doendo, enquanto eu acordava ouvindo o tilintar das grades acionadas. Eu me levantei, acolhida na maca junto com Dom, sem nem mesmo saber quando foi que ele passou o braço por mim e para o meu pesar, Kane e Sore estavam ali, me julgando com seus olhares.

— Cadê o Iron? — perguntei me levantando, enquanto Dom gemia por eu me mexer de uma vez e forçar o seu braço.

— Fica aí achando que ele vai se dar o trabalho de visitar cadelas fujonas. Sabe, eu gostava de você… — Ela bateu os saltos no chão enquanto Kane colocava o estetoscópio e ia, finalmente, prestar atendimento para o Dom.

— Cadê a minha filha? — resmunguei.

— Com o pai. — respondeu Sore, como se fosse óbvio — Com quem acha que ela está, comigo?

— Sore! — Kane chamou sua atenção, como se ele fosse um lembrete de limites para a mulher.

Eu fiquei de pé, saí pela lateral e quando ia atravessar as grades frias, ela me segurou, me jogou de lado e se colocou na saída.

— Eu preciso ir ver a Pray. — questionei, sem entender o que ela estava fazendo.

— Sua necessidade não é mais prioridade. Dom não faz parte da irmandade, e cadelas traíras também não. Se considerarem felizes por Iron não ter escolhido puxar o gatilho. — Ela cruzou os braços e eu olhei para Kane, tentando entender a situação. — Isso, olha pra ele. Ele tem coração, eu não.

— Eu quero ver a minha filha. — pedi, tentando não chorar.

— Eu não ligo pro que você quer. Eu não ligo mesmo. — Eu tentei passar de novo, mas ela me prensou contra a grade e manteve o olhar frio sobre mim. — Eu queria que ele tivesse te dado uma surra, uma baita surra. Eu queria que ele tivesse atirado naquele ruivo, só pra lembrar todo o inferno que a gente passou, livrando um do outro, cuidando um do outro, enquanto vocês treparam e mandavam a irmandade pro meio da sua xota! — Eu me puxei, ela sorriu e eu olhei para Kane, mas ele estava ocupado aplicando medicação em Dom — Mas eu admiro as jogadas dele. Ele sabe como fazer uma pessoa sofrer com vida. — Eu olhei para ela, franzi o cenho e continuei escutando — Ele foi embora, cadela vadia. Agora você pode dar pro ruivo a vontade, dançar “la cucaracha” e brincar de maria fuzil até que os trombadinhas que fazem os delitos de segunda mão na porta da sua casa.

O desespero bateu em meus olhos, meu peito falhou uma batida e dessa vez ela não me impediu de sair. Eu ainda estava suja, com o cheiro das últimas situações impregnada em meu corpo e com a cabeça inundada em desespero. Cheguei no quarto, abri a porta e vi o vazio do berço. A cama vazia, os armários vazios, as roupas da Pray… Tudo! Não tinha mais nada lá.

— Não… — Como quem não acreditava no que estava acontecendo eu vasculhei tudo, levantei colchão, olhei pro banheiro, chorei mexendo na banheira e toquei em tudo o que se podia tocar. Ele só deixou pra trás o presente que me deu. O cordão umbilical da Pray e a carta. — Não… Iron… Pray… — Enchi os olhos d’água, segurei meus cabelos e gritei de desespero. — Pray! Pray, minha Pray…!

Eu era uma vergonha chorona caída no chão, sem rumo e sem nenhum passo a dar. Eu não tinha saída, não sabia o que fazer e nem por onde buscar, eu só me sentia perdida, chorona e fracassada.

— Olha, se algum conselho ainda me cabe dar, eu acho que paciência é o melhor que posso te aconselhar. — Eu olhei para trás e vi Kane de braços cruzados, com um olhar penalizado, a barba num quadrado perfeito e um olhar cor de mel mirado pra mim. — Eu também posso dizer que é um ato desumano tirar o filho de uma mãe, mas o quão seria tirar um filho de um pai? Levando em consideração que nenhum de nós somos santos, então todos estão na mesma cadeia suja de julgamentos. Mas, se me cabe justificar, ele não fez isso pra te punir.

— Não…? — eu ri, entrecortada no choro.

— Ele nunca veio por você, Érina.

— Kane, eu achei que ele estava morto e eu realmente achei que Dom estava tentando melhorar as coisas e…

— Culpar o Dom por suas escolhas, também não vai te ajudar. — Eu me calei e ele me olhou duro. — Eu estava possesso quando fui buscar a Sore na máfia, mas você acha que o velho Ronn foi o culpado por eu puxar o gatilho? Você estava triste e sensível na sua gravidez, mas eu duvido muito que estava fora de si quando fez a sua escolha.

— Eu fiquei confusa. Achei que ia ser injusto com Dom e não queria que o Iron…

— O Dom está fora, e você também. — Eu olhei pra cima, me levantei devagar e tentei arrumar meus cabelos de um jeito organizado. — Aqui é o crime, gata. O mesmo crime que você escolheu quando voltou para trás. Sem flores, sem meio termo e sem penas para cadelas entristecidas. — Ele ainda tinha um tom brando. — Mas se o meu conselho ainda valer a pena, tenha paciência. A poeira precisa baixar.

— Kane, pra onde ele foi?

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