Sabe, eu achava que não era capaz de chorar, até o dia em que John quase conseguiu me matar. Naquele maldito dia eu caí na porra do chão, tendo certeza de que eu chorava, como uma marica fodida rezando pra viver, correr atrás daquela cadela e viver um caralho de fantasia que um homem como eu não devia ter a esperança de viver. Minha vida era um inferno constante. Eu matei Jhon, e agora eu queria matar Dominic.
Os olhos de Kane insinuando que Pray não estava bem, foi o meu limite. Eu estava disposto a arrebentar a cara daquele maldito filho de uma puta, colocar os pingos no “I” e arrebentar com a alma daquele fodido, baseado numa boa surra. Eu simplesmente não aguentei. Eu fechei minhas mãos com a mesma gana infernal que sempre tenho nessas malditas horas.
Eu era o próprio inferno. Um fodido inferno.
(...)
“— Você chama a sua família de fraqueza? Você é tão covarde que forjou um ataque na fazenda, não conseguiu nem mesmo olhar tua mãe e teu pai nos olhos… Não conseguiu deixar que eles vissem o fodido que o filho virou. Você é tão trouxa, John, que esses filhos da mãe te seguraram apenas como plano B. Nem mesmo eles confiaram num filho da puta que mata os próprios pais, não a troco de nada. Existem regras pra ser um cuzão, e você não conseguiu nem ser um cuzão direito.”
(...)
A última conversa que tive com meu fodido irmão, me recordo bem de ter ditado as regras sobre ser um péssimo cuzão. O que eu era? Um vingador filho da puta que vai no seco e na raiva? O inferno tem a porra de uma jorrada de sentimentos? O que eu estava sentindo? Peso, remorso, culpa, ódio, arrependimento? Nada. E quando o inferno lhe chamar, o diabo vai ter a minha cara.
Ninguém falou nada. Estávamos todos cansados, mortos por dentro, sujos de sangue e descarregando a alma nos últimos acontecimentos. Parte da Irmandade estava na sala, Dominic estava contido em algum inferno que eu desejava ver e eu queria, ainda estava carregado no ódio, mas pensando muito melhor. Eu olhei para trás e vi que ela não estava lá. Onde estava a gracinha dele? Se fodendo no choro?
— Iron, a gente precisa… — Kane tentou, mas eu o impedi.
— Cadê ela? — perguntei, meio fodido por dentro — Cadê a porra daquela cadela?!
— No quarto, chorando. —Sore, quem não se negava nenhum pouco de ver a porra do circo se fodendo, abriu a boca.
— Chorando? — rosnei, tão fodido quanto antes.
— Qual a porra do problema em trazer ela aqui e ver a merda? Ele traiu a irmandade, ele merece o inferno e eu quero puxar o gatilho! — berrei, estava sentado à beira da mesa e empurrei os pés tacando a merda toda da sala pelo chão. Levantei emputecido, bati na porra da cadeira e fui contemplado com uma duzia de olhares desaprovadores, outros apenas observatórios. — Mas alguém tem algum plano maravilhoso pra tentar me fazer de otário?!
Saí a passos duros, tremendo de ódio, guardando raiva e espumando por dentro. Subi a merda das escadas, sujo de sangue, com as morte nas mãos e muita, muita raiva por dentro. Cheguei até a porta, ela se assustou com a entrada brusca e levantou os olhos assustada. Pray estava dormindo e ela olhou pro bebê, como quem pedia pra eu me conter.
— Iron? — não respondi, dei uma porra de passada cumprida, peguei a cadela pelos braços e a puxei comigo. — Iron, o que você está fazendo? Iron…
Eu queimava por dentro, ela se esperneava, gritava e pedia, enquanto eu me fodia quebrado. Ela tinha o rosto vermelho, chorava abundantemente e tinha os lábios inchados, enquanto a minha raiva não tinha limites. Ela pediu, insistiu, tentou e eu perdi a porra da paciência que eu não tinha. Segurei ela pelos braços, olhei a maldição daqueles olhos azuis e não faço ideia de como não gritei.
— O que você acha que eu queria? — ela se calou — Acha que eu queria ter vindo pra cá, visto você com ele, fodido a minha vida e… Me fala, sua cadela! Trocar um fodido pelo outro, foi o seu melhor negócio? — ela respirou fraco, deixou algumas lágrimas escapar e fez uma negativa — Eu não sou o único caraleo culpado nessa história, e você tem tanto peso quanto eu nessa merda! Então vamos te colocar nos conformes da irmandade, pra te contar com chave de ouro como é que as coisas terminam. Sempre! Não tem outra vida pra quem está entupido nessa merda e se ele te contou o contrário, ele mentiu! — ela me olhou, trêmula e culpada — Pelo menos eu estava disposto. Dom só estava desesperado.
Ela continuou chorando, e eu? Taquei o foda-se! Ela não é a única quebrada. Não, eu não era o único fodido, nem ia engolir sozinho! Puxei ela de novo, mas dessa vez ela não foi contra. Adentrei o maldito corredor e desci os acessos para os confins da cas com uma pilha de olhar movido à pena direcionado a ela, enquanto Érina quase não conseguiu se mover.
Dom estava definhando, sangrando, com a cabeça enfaixada e pouco atendimento de socorro. Tinha uma mancha vermelha na faixa lateral da cabeça e olhou devagar quando apareci puxando a “gracinha dele” dele. Abri o cadeado grosso, puxei as grades e taquei a cadela bonita lá dentro. Ele não se mexeu direito e ela parou chorosa, olhando o estado dele enquanto eu fechava as grades.
— Vocês não iam fugir juntos? Você não queria ela? Pega, e vai.
Eu achei que ela ia me odiar, me culpar, me escurraçar e sofrer. Eu não sei. Só não esperava que ela enfiasse a cara contra as grades sujas, chorasse tentando me puxar, devagar, virasse o rosto para ver Dominic, engolindo a droga do choro. Aquela merda já estava durando tempo demais, olhei pra baixo, tentei não me envolver com aqueles maldito olhos azuis e a afastei.
— Não estávamos tentando fugir! — ela parecia desesperada, mas ela engoliu o soluço e olhou para trás, enquanto Dom, devagar lhe dava uma confirmação. — Não… Iron, não, eu juro que eu não estava fugindo com ele! Eu não ia tirar a Pray de você, não pode acreditar nisso!
Eu enfiei a mão na grade, peguei a cadela pelo pescoço e ela sentiu uma maldito desconforto quando bateu a beirada da cabeça na porra da grade. Eu cheguei perto do seu maldito rosto bonito e cuspi minhas palavras.
— Eu não quero te ver nunca mais, cadela. — Eu a soltei, ela se assustou e eu virei as costas, ouvindo ela se apegar na grade de novo e gritar enquanto eu dava longas passadas disposto a me livrar disso.
— Iron! Volta aqui! Iron! — ela soluçou, ela gritou e eu ignorei.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Perigoso (Letal - Vol.2)