Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 1065

Enquanto esses pensamentos caóticos ainda rodavam na cabeça de Letícia, mais uma figura surgiu pelo caminho.

Dessa vez era o irmão dela, Eduardo.

— Aí está você! — Disse ele, aproximando-se com um suspiro de alívio. — Procurei por você por todo o salão. O almoço já vai começar.

Letícia assentiu e começou a caminhar em direção a ele.

Mas o olhar atento do irmão logo captou algo estranho em sua expressão, aquele misto de raiva contida e constrangimento.

— O que aconteceu? — Perguntou ele, franzindo o cenho.

Letícia baixou a voz, quase sussurrando, e contou rapidamente o que havia acontecido.

Resumiu tudo em poucas palavras, só o suficiente para o irmão entender o essencial.

Eduardo ouviu em silêncio.

Ficou parado por meio segundo, processando a informação, e então perguntou com um tom incrédulo:

— Espera... Você realmente disse tudo isso pro Renato?

Letícia apenas fez que sim, meio envergonhada.

Eduardo virou o rosto na direção dela e soltou um leve assobio, comentando num tom neutro, mas carregado de ironia:

— Corajosa, hein. Não dá pra negar... Sua coragem é digna de medalha.

Letícia ficou sem palavras.

“O que isso quer dizer? Está me ironizando também?”

— Olha, pra ser sincero, eu também não imaginava que o Renato tivesse tanto autocontrole. Qualquer outro cara, depois de ouvir que beija mal... — Riu de leve. — Bem, é o mesmo que dizer que o sujeito é péssimo na cama. A maioria explodiria na hora.

Ele parou por um instante e acrescentou, em tom mais sério:

— Mas talvez ele não tenha reagido porque se sente em dívida com você. Depois do que aconteceu naquele hotel... Bom, ele deve achar que não tem o direito de ficar bravo.

— Ei, mas me explica, “sua coragem é digna de medalha” quer dizer o quê? Está dizendo que eu fui inconsequente? = Letícia franziu o nariz, cruzando os braços.

— Só estou dizendo que nem todo mundo teria peito de gritar aquilo pro Renato.

E sobreviver pra contar a história. = Eduardo sorriu de lado, o olhar brincalhão.

O humor de Letícia estava péssimo e, coitado do Eduardo, acabou levando o primeiro tiro.

— Calma, calma — Disse ele, erguendo as mãos num gesto de rendição. — Eu só quis dizer que você foi corajosa, mesmo. Afinal, o Renato não é qualquer um.

Fez uma pausa e completou com um meio sorriso:

— Ou, quem sabe, foi coisa de bezerra recém-nascida, sem medo do touro. Só você pra encarar ele desse jeito.

E era verdade.

No meio empresarial, todo mundo sabia do sangue frio e da habilidade de Renato. Ninguém ousava enfrentá-lo, muito menos falar dele pelas costas.

Letícia não só encarara, como ainda o deixara mudo.

Ela ouviu o comentário do irmão, bufou e respondeu, meio irritada, meio orgulhosa:

— Eu só disse a verdade. Agora nem falar a verdade pode mais?

— Pode sim. Mas, aparentemente, só você tem coragem de dizê-la em voz alta. = Eduardo riu baixinho.

— E, já que estamos falando disso... Você não devia estar do meu lado? Poxa, é meu irmão! Em vez de ficar admirando a coragem do outro, devia estar me consolando! — Reclamou Letícia, emburrada.

O almoço finalmente começou.

O salão, reaberto e iluminado, encheu-se novamente de vozes, talheres e champanhe sendo servida.

Beatriz aproximou-se sorridente.

— Letícia, vem sentar comigo. — Convidou, indicando o lugar ao seu lado.

Letícia olhou de relance.

Do outro lado de Beatriz estava Renato.

Por um segundo, o olhar dela congelou.

Depois, desviou rapidamente, como se nada tivesse visto.

Antes, teria aceitado o convite sem pensar duas vezes.

Mas agora?

Depois daquela rejeição fria, pública e quase humilhante, não havia a menor chance de ela se sentar ao lado dele, como se nada tivesse acontecido.

Letícia arranjou uma desculpa, dizendo que não seria apropriado sentar-se com eles, afinal, era melhor que a própria família Cardoso ficasse reunida à mesma mesa.

Beatriz, sem desconfiar de nada, apenas assentiu, achando que era timidez ou um leve constrangimento.

Não insistiu.

Durante o almoço, o ambiente parecia calmo.

Os convidados conversavam animadamente, rindo e trocando comentários sobre política, arte, viagens, qualquer assunto que não tivesse nada a ver com os escândalos da noite anterior.