Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 1074

Mesmo que, durante aqueles dois anos, ele e Beatriz nunca tivessem desenvolvido um verdadeiro sentimento, mesmo que, ao fim do contrato imposto pelo avô dela, Beatriz tivesse se divorciado dele, ainda assim, se agora ele finalmente entendia o que sentia, teria a chance de conquistá-la de novo, de forma honesta e legítima.

Mas ele mesmo destruiu tudo.

Foi ele quem a feriu, uma vez, duas vezes, tantas vezes.

E agora, aquela mulher que nunca o amara só conseguia odiar a lembrança dele.

Perdera até o direito de tentar se aproximar.

Tudo o que podia fazer era observar, impotente, enquanto outros homens cercavam Beatriz, sorrindo, dançando e elogiando, vivendo o que ele sempre quis viver.

Gabriel fechou os olhos, sentindo o peso do destino cair sobre si.

Tudo aquilo, o fim, a vergonha, a solidão parecia uma consequência inevitável das próprias escolhas.

No fundo, ele ainda culpava Vitória.

Mas, se fosse honesto consigo mesmo, teria de admitir que nem dois anos atrás, nem dois meses atrás, teria imaginado amar Beatriz tão profundamente.

“Eu tive a minha chance”, pensou amargamente.

Desde o ensino médio, quando estudaram na mesma turma, ele já a conhecia.

Tivera a vantagem de estar por perto antes de qualquer outro homem.

E, ainda assim, deixou tudo escapar.

Por quê?

Como tudo chegou a esse ponto?

Se pudesse voltar no tempo levando consigo o conhecimento do futuro, Gabriel jurava que teria corrido atrás dela sem hesitar, sem deixar que o orgulho, o medo ou a influência dos outros o detivessem.

Quanto a Vitória, ela não passara de uma sombra, uma ilusão nascida das conversas online, um mistério que o atraíra apenas porque ele era um garoto solitário.

Ela realmente o acompanhara durante aquela fase vazia do colégio, mas, para ser sincero, quando passaram do mundo virtual para o real, aquele encanto começou a se desfazer.

Ele devia ter percebido.

Devia ter entendido muito antes.

No fundo, Gabriel sabia que nunca tinha realmente amado Vitória.

Ou, se amou, foi algo raso demais, sem profundidade, sem peso.

Mas depois as coisas simplesmente aconteceram.

Ele se deixou levar, como se estivesse sendo conduzido por ela passo a passo, e o relacionamento prosseguiu de forma quase automática, natural demais para ser questionada.

Naquele tempo, ele também não sentia nada por Beatriz.

Por isso, permitiu que tudo seguisse o fluxo, como se o destino o empurrasse para um caminho que ele nem se deu ao trabalho de recusar.

Não era a primeira vez que pensava nisso, mas agora as diferenças entre as duas mulheres pareciam gritantes.

Com Vitória, o que existira fora um afeto morno, um sentimento leve, inofensivo, que veio e se foi com a mesma facilidade.

Com Beatriz, era o oposto.

Era intenso, avassalador, um amor que deixava marcas profundas, uma febre que o consumia e o fazia querer tê-la para sempre.

Só que agora tudo isso já era tarde demais.

Gabriel sentia-se como uma vaca ruminando o passado, revivendo memórias antigas, mastigando-as de novo, sabendo que nada mudaria e que o tempo não voltaria atrás.

Tudo o que restava era o gosto amargo do arrependimento.

Quando o expediente terminou, ele saiu do escritório no horário exato.

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