Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 353

— Você pode falar comigo como a Letícia fala. De um jeito mais solto, mais livre. Não precisa ficar toda contida, como se estivesse sempre pisando em ovos. — Disse Eduardo, levantando os olhos para a garota.

Beatriz piscou devagar.

“Falar com ele como a Letícia fala? Como uma irmã fala com o irmão?”

Aquilo fazia eco com o que ele havia dito dez minutos antes, quando mencionou que a via como uma irmã.

Mas ela não era do tipo que aproveitava esse tipo de comentário para se aproximar demais. Sabia reconhecer quando alguém estava sendo apenas educado. E sabia, também, que levar isso a sério demais seria pura falta de bom senso.

— Tá me ouvindo ou não? — Eduardo perguntou, ao perceber o silêncio da garota.

— Bia, agora que meu irmão já deixou claro, pode parar de tratar ele com tanto formalismo. Se ele te provocar, xinga de volta. — Completou Letícia, com um sorrisinho no canto dos lábios.

Eduardo virou levemente o rosto e lançou um olhar discreto à irmã, mas não disse nada.

Diante dos dois, Beatriz apenas assentiu com a cabeça.

Claro que, no fundo, ela só estava fazendo um gesto simbólico.

Não tinha a menor intenção de tratar Eduardo com a mesma naturalidade que Letícia. Muito menos de agir com liberdade ou de rebater provocações.

Tudo que ela queria era que Eduardo a deixasse em paz.

De verdade. Que parasse de provocá-la, de brincar com ela.

Com tudo já dito, o ambiente entre os três finalmente ficou mais leve. Um breve silêncio confortável se instalou na sala por alguns minutos.

Como havia bebido muita água antes de sair de casa, Letícia se levantou e avisou:

— Bia, continua comendo aí. Vou ao banheiro rapidinho.

Beatriz virou-se para ela e assentiu.

Letícia já estava com a mão na maçaneta da porta do reservado, pronta para sair, quando se virou de repente.

— Ô, mano… Nem vem, hein. Nem pense em perturbar a Bia enquanto eu não tô aqui. É coisa de cinco minutinhos só. — Disse Letícia, lançando ao irmão um olhar de alerta.

Porque, mesmo que ele tivesse dito que queria que Beatriz se sentisse à vontade…

Isso não significava que ele deixaria de provocar.

À mesa, Eduardo continuou com a mesma expressão indiferente.

Nem sequer levantou a cabeça. Apenas respondeu, enquanto ainda cortava seu bife com naturalidade:

— Aquilo foi uma brincadeira. Não leva a sério, não. Ele é desses que fala qualquer coisa, vive tirando sarro. Leve, inconsequente, metido a galanteador. Vive se enfiando em lugares cheios de bebida e música alta. — Continuou Eduardo, com uma calma aparente.

Não teve outro jeito. Para preservar a própria reputação, acabou jogando o amigo debaixo do ônibus.

No fim das contas, Leonardo é que começou, falando besteira para Beatriz, sem medir palavras.

Beatriz levou um segundo para entender a que ele se referia, mas logo lembrou.

Leonardo tinha dito que Eduardo gostava dela.

— Eu não levei a sério. E entendi que era coisa só dele. — Respondeu ela com serenidade.

Nem passava pela cabeça acreditar naquelas palavras.

Só de pensar já parecia absurdo.

Eduardo não gostava dela. Ele só vivia implicando, zombando, provocando.

O que existia entre os dois, se é que podia ser chamado de algo, era… Antagonismo.

Pensando bem, fazia total sentido que Eduardo e Leonardo fossem amigos. Tinham o mesmo tipo de humor imprevisível.