Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 75

Em meio a tanta contradição e confusão emocional, Gabriel foi tomado por uma raiva silenciosa. Com o semblante fechado, limpava os respingos de café da mesa com movimentos irritados.

— A Beatriz tá se achando demais… Já são quatro dias com essa pose toda. Tá até esquecendo o sobrenome, pelo visto. — Resmungou, com amargura. — Com esse gênio, se fosse em qualquer outra família, já tinha sido posta pra fora. Não tem nome, não tem herança, e ainda não sabe valorizar o posto de Sra. Pereira. Tem uma boca, mas não sabe usar. Se não sabe conversar, pra que serve essa boca, afinal? A culpa é toda dela, mas age como se o mundo inteiro devesse alguma coisa para ela. Francamente...

As palavras saíam como veneno. Gabriel jogava cada frase como se fosse uma descarga de frustração acumulada, jogando toda a culpa nela.

Rafael, parado ao lado, assistia à transformação do Sr. Gabriel em um verdadeiro “marido rancoroso”. Ele não parava de resmungar, feito uma alma penada, despejando mágoa em cada frase. Sem saber o que dizer, Rafael apenas revirou os olhos e olhou para o teto, suspirando por dentro.

"Boca reclama, mas o corpo entrega."

Não tem ditado que descreva melhor o Sr. Gabriel.

Palavra por palavra, ele fazia questão de deixar claro o quanto estava decepcionado com Beatriz. Mas, ironicamente, tudo saía carregado de mágoa, ressentimento, quase um despeito amargo.

De manhã, bastaram algumas taças de vinho para ele ficar desesperado querendo falar com ela. Já à tarde, depois de uma soneca… Fingia que não era com ele. Acordou como se nada tivesse acontecido. Negando tudo. Como se não tivesse passado horas chamando por Beatriz como um adolescente abandonado.

— Sr. Gabriel, agora que o senhor já está mais calmo, poderia revisar os documentos que não conseguiu ver mais cedo? — Sugeriu Rafael, tentando trazê-lo de volta ao trabalho. — Se não tiver outros compromissos, pode sair no horário hoje. O senhor tem a tarde livre.

Gabriel pegou a toalhinha úmida, limpou a mesa de qualquer jeito e jogou de lado.

— Me passa o planejamento de amanhã. Vou trabalhar até mais tarde hoje.

Voltar para casa cedo? Para quê? Só para encarar o silêncio daquele apartamento vazio?

Ultimamente, Vi chegava tarde, Beatriz já não estava mais em casa... E quando Vi saísse de vez, o apartamento voltaria a ser só dele, e do vazio.

— Mas foi o senhor mesmo que pediu para sair mais cedo essa semana... — Comentou Rafael, tentando entender. — Eu até adiantei as pendências da tarde por isso.

Gabriel abriu a boca pra responder, mas se calou. A verdade se engasgava no meio da garganta.

Nos últimos dias, ele estava saindo mais cedo do trabalho porque Beatriz tinha acabado de sair do hospital. Quando chegava em casa, ainda dava tempo de ir ao mercado com ela, de cozinhar juntos, de dividir uma rotina simples… Mas viva.

Agora, com a casa vazia, aquilo tinha perdido o sentido.

Mas se ele falasse isso em voz alta, ia parecer estranho demais. Como se ele tivesse mudado os horários só pra poder ir ao supermercado com ela. Soaria íntimo. Soaria... Entregue.

E isso, ele não estava pronto pra admitir. Nem pra si mesmo.