Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 84

— O senhor quer dizer que não chegou até o fim, certo? Mas... O resto, o senhor fez todinho. — Resumiu Rafael, com franqueza.

Gabriel quis rebater, mas travou. Nenhuma palavra saiu.

— Levou a mulher pra dentro de casa, deu espaço, intimidade... — Rafael começou a enumerar, com frieza. — Acompanhou ela para cima e para baixo, deu presente caríssimo... Teve escândalo na internet, apareceu nos trending topics... Aconteceu um acidente, e o senhor correu pra salvar a outra primeiro. Teve mal-entendido, e o senhor nem se deu ao trabalho de esclarecer. Ignorou a Sra. Beatriz. Ela internada, e o senhor? Nenhuma visita, nenhum cuidado...

À medida que falava, Rafael suspirou. Parecia até cansado.

Gabriel ficou completamente em silêncio. Os punhos cerrados, os dentes travados. Mas não conseguiu dizer nada.

— O senhor passou dos limites, Sr. Gabriel. Qualquer outra mulher já teria pedido o divórcio faz tempo.

Essa última frase foi como uma bomba.

“Divórcio.”

Assim que a palavra foi dita, algo pareceu disparar dentro de Gabriel.

O estrondo da cadeira sendo empurrada ecoou pela sala quando ele se levantou de repente.

Rafael levou um susto, deu dois passos para trás, engolindo seco.

— Ela não vai se divorciar de mim! — Rosnou Gabriel, encarando Rafael com olhos ferozes. — Nem que o mundo acabe, nem que o sol nasça no oeste! A Beatriz... Ela jamais vai me deixar por vontade própria! Você não faz ideia do quanto ela me ama! Esse casamento foi algo que ela planejou, calculou... Cada detalhe! Ela NUNCA abriria mão do título da minha esposa!

Rafael não disse nada, só encarou o Sr. Gabriel em surto e pensou:

“Foi só mencionar divórcio... Precisa surtar desse jeito?”

Além do mais, por mais que o Sr. Gabriel insistisse em dizer que a Sra. Beatriz nunca pediria o divórcio nem o deixaria... Era evidente que quem não conseguia deixá-la era ele.

Era ele que estava desesperado, que não queria se separar.

O mais teimoso de todos... Era o próprio Gabriel.

— O senhor não precisa se exaltar... Aquilo foi só uma hipótese, tá? — Tentou Rafael, com um sorriso tenso.

— Não tem hipótese nenhuma! Se não sabe falar, então cala a boca! Da próxima vez eu desconto do seu bônus! — Disparou Gabriel, tomado pela raiva.

Engoliu seco e assentiu com a cabeça, rendido diante da fúria do chefe.

No fim, perguntou num tom bem mais contido:

— Quer que a gente continue procurando, Sr. Gabriel? O chip do celular foi retirado, e tanto o CPF quanto o número de telefone da Sra. Beatriz não aparecem em nenhum registro de saída da cidade, nem em hotéis ou hospitais...

Saiu às pressas da sala.

“Nem acharam a Sra. Beatriz ainda, e ele já quer saber do homem?” Rafael suspirou fundo, balançando a cabeça. “Bem-feito. O Sr. Gabriel tá colhendo o que plantou.”

Durante toda a tarde, Gabriel não parou um minuto. Nem sequer foi embora no horário. Ficou no escritório até as dez da noite.

Rafael, mesmo correndo atrás de pistas, não encontrou nada. Nenhuma câmera, nenhum nome, nenhum movimento.

Era como se Beatriz tivesse evaporado da Cidade A.

Às oito, Vitória ainda tentou mandar uma mensagem convidando-o pra jantar. Sem resposta. Ligou, e ele não atendeu. A noite caiu, e as luzes da cidade se refletiam nos vidros dos prédios.

Na estrada, entre os carros, Gabriel dirigia sozinho. Janela aberta, o vento gelado batia no rosto, tentando esfriar a fúria que ainda queimava dentro dele.

Dois dias.

Beatriz já estava desaparecida há dois dias.

“Onde diabos você se meteu...”