Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 910

Em seguida, ele virou-se de costas e saiu, carregando consigo um silêncio pesado, quase melancólico.

A porta do quarto se fechou. Só então Beatriz deixou os dedos se moverem, lentamente erguendo a mão.

Com a ponta do dedo, acariciou de leve o colar que Vitória lhe havia roubado vinte anos atrás. A única lembrança que sua família lhe deixara na infância.

Agora que estava de volta às suas mãos, o objeto perdido e recuperado a deixava atônita, com a mente em turbilhão.

— Bia, naquela época foi a malícia da Vitória que pesou… Você era pura demais, fácil de enganar. A culpa não é sua, e sim dela, que sempre foi tão detestável. — Disse Letícia, ao notar o olhar distante da amiga, imaginando que ela estivesse mergulhada em lembranças dolorosas.

Ela suspirou e continuou:

— Você tinha só quatro anos. Como poderia ter malícia? Aquela desgraçada brincava com você na palma da mão, arrancando sua confiança, seu afeto, até mesmo as coisas materiais… E depois passou a sugar sua vida sem parar.

— Qualquer um, naquelas circunstâncias, teria caído nas armadilhas dela. Não havia como enxergar a teia que ela tecia. — Completou.

Vitória, desde cedo, já tinha um coração cheio de cálculos. Para ela, manipular as crianças da mesma idade era como brincar de um jogo fácil.

Já Beatriz, protegida pela família, não fazia ideia de como a maldade podia se esconder no coração humano. Encontrar Vitória foi o início da desgraça: um fantasma colado a ela, sugando suas forças por duas décadas.

— Obrigada por suas palavras, Lê. — Beatriz respirou fundo, recobrando-se. Fitou a amiga com um leve sorriso. — O passado já passou. Aprendi a aceitá-lo.

Ela não podia, com a maturidade que tinha agora, culpar a si mesma de quando era apenas uma criança.

Naquele tempo, não havia como enxergar a malícia e as armadilhas de Vitória. Só lhe restava fazer as escolhas possíveis diante da ilusão que via.

— Eu só não imaginava que, depois de vinte anos, esse colar acabaria voltando para as minhas mãos… — Murmurou Beatriz.

— Mas é seu por direito. Voltar pra você era destino. — Disse Letícia, firme. — Agora você está, de fato, livre daquela sombra pegajosa que era a Vitória. Nunca mais ela vai sugar a sua vida.

As palavras ecoaram em Beatriz. Por um instante, ficou absorta.

Vinte anos.

Fez uma pausa e acrescentou, com ironia:

— Mas, na minha opinião, aquilo foi tudo manipulação da Vitória. Ela sabia jogar muito bem com as pessoas, sempre teve as manhas.

Desde criança, Vitória já mostrava esse talento venenoso: sabia se enturmar, formar panelinhas e, ao mesmo tempo, esconder a mente calculista.

Conquistar um garoto como Gabriel, ainda adolescente, não devia ter sido nada difícil para ela.

Mas Letícia não se importava em saber os detalhes da relação dos dois. O comentário fora apenas um pensamento que lhe veio de repente.

Beatriz, por sua vez, manteve os olhos semicerrados, sem responder. Sua mente a levou de volta ao segundo ano do ensino médio, àquele episódio marcante.

Gabriel havia arrombado a porta e a salvara. Mas será que viera porque recebera o pedido de socorro dela… Ou por causa de Vitória?

A lembrança era nítida: Vitória correra até ele, abraçando-o e exclamando que ele finalmente tinha chegado. Se tinha sido assim, então a mensagem só podia ter vindo dela.